A imigração haitiana no Brasil, iniciou-se em 2010, após o terremoto devastar o país e fazer com que milhares de haitianos fossem buscar refúgio em outros lugares, inclusive na América do Sul.
O tremor teve magnitude 7 e aconteceu em 12 de janeiro de 2010. Na época, o aeroporto da capital Porto Príncipe também foi severamente afetado, o que dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de mortos após esse terremoto chegou a 300 mil.
Atualmente, ainda há mais de 1,5 milhão de pessoas afetadas pelo desastre e pela pobreza, que já era bastante significativa antes do tremor. O país é considerado o mais pobre das Américas.
Após todos os acontecimentos, os imigrantes haitianos chegaram ao Brasil passando por países como Equador, Peru e Bolívia, adentrando o território nacional principalmente por meio da região Norte.
Assassinato do Presidente
A crise que já se assolava foi ainda mais agravada, com a chegada da pandemia da covid-19 e desdobramentos políticos que culminaram no assassinato do então presidente do país, Jovenel Moise, em julho de 2021. Ele foi encontrado morto após um grupo de homens fortemente armados invadir a sua residência.
Esse ano o Haiti voltou a enfrentar outro terremoto, também de grande intensidade, porém com menos vítimas. Assim, o país ficou em uma situação social ainda pior.
Esperança
A equipe de reportagem do Rondoniaovivo, procurou alguns haitianos que imigraram para o Brasil após o primeiro terremoto e que escolheram Rondônia para viver. Um desses é Charlot Jn Charles, que nasceu em Tiburon, uma pequena cidade localizada no Departamento Sul da República do Haiti, imigrou para Marau - Rio Grande do Sul em 2011 e passou a morar em Porto Velho no ano de 2012.
Membro fundador da Associação dos Haitianos em Porto Velho (Asshapo) e tesoureiro, Charlot Jn Charles, foi enviado ao Brasil pela Ordem dos Frades Menores Capuchos – OFMCap, para trabalhar ao serviço da Igreja Católica e seguir com os estudos de Filosofia.
Desde então, ele deu continuidade por vontade própria, aos demais estudos.
A Asshapo é uma instituição criada pelos haitianos, a fim de amparar a comunidade haitiana de diversas maneiras. Lá, eles ajudam com cestas básicas, documentação, oferecem auxílio em relação ao mercado de trabalho brasileiro, orientam sobre o convívio social, avanço nos estudos, entre outras atividades.
Os responsáveis atendiam em um local fisíco específico, mas por questões financeiras as atividades presenciais foram rompidas. Porém, quem tiver interesse ou dúvidas, pode entrar em contato através dos números: (69) 98479-3883/ 99966-4646.
Ele contou que foi enviado para continuar seus estudos acadêmicos e assim o fez. "Apesar da saudade e longe da família, tenho orgulho do que conquistei. Sou o primeiro e único haitiano até agora a se formar em nível de mestrado e doutorado no estado de Rondônia", comentou.
Charlot, é formado em Filosofia pela Faculdade Católica de Rondônia - FCR, graduando em Geografia e é especialista em Educação Ambiental e Educação, Política e Sociedade.
Atualmente, ele é pesquisador no Instituto Maria e João Aleixo - IMJA - MIDEQ Brazil UKRI GCRF South-South Migration, Inequality and Development Hub.
Abrigo
Em busca de mudança de vida, o atual Presidente da Associação dos Haitianos em Porto Velho (Asshapo) e motorista, Valner Dieudus, chegou ao Brasil em 2014.
Ele explicou que nem sempre foi fácil a vida no Haiti e quando chegou no Brasil teve uma sensação de ser outra vida. "A corrida foi bastante difícil e apesar de tanto sofrimento, esse foi um momento inesquecível", diz ele.
Valner Dieudus
Valner que é acadêmico de Filosofia, demonstrou toda a sua gratidão a Deus e aos brasileiros que estão fazendo parte da sua trajetória. "A maioria dos brasileiros acolhem muito bem todos os imigrantes. E outra, não se tem tanta dificuldade assim para concluir algumas tarefas. Seja para fazer os documentos e até mesmo entrar numa faculdade", comentou.
De qualquer forma, ele deixou registrado toda a solidariedade aos haitianos que se encontram em nosso país.
Planos
Outro exemplo que também pode ser citado de superação, é a trajetória de Dieugrand Philippe, também fundador da Asshapo, que morou em Rondônia durante sete anos e recentemente, se mudou para Balneário Camboriú (SC) para a realização de um projeto.
Dieugrand Philippe
Durante a conversa, ele explicou que se mudou para o Brasil, com o objetivo de estudar e assim, poder ajudar a família de alguma forma. "Como não tínhamos condições no Haiti, decidi que queria conhecer outros lugares e que mudaria de vida", comentou.
Com ajuda do irmão, que já estava no Brasil, Philippe morou por um tempo com ele e comentou que a recepção dos brasileiros também foi essencial. "Me sinto bem acolhido, não sofri preconceitos, fiz muitas amizades e sou grato a todos, inclusive aos professores que me auxiliaram tanto", finalizou.