Acompanhamento é feito por profissionais da POC
Foto: Divulgação
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A cada dois meses, pacientes com obesidade têm que fazer exames de rotina e passar pelo atendimento multidisciplinar em Porto Velho.
Enfermeiras obtêm para eles prioridades em consultas com especialistas, notadamente em cardiologia, ginecologia, ortopedia, psiquiatria e outros.
No conjunto de benefícios, esse é um dos melhores sempre aguardados pelo público assistido pelo Programa de Atendimento Especializado ao Paciente Obeso (Paepo), que apoia atualmente 600 pacientes na Policlínica Oswaldo Cruz (POC). Desse total, 30% são pacientes do interior, notadamente, de Alta Floresta, Ariquemes, Cujubim, Jaru, Machadinho d’Oeste, Santa Luzia d’Oeste e Vilhena.
Eles viajam para Porto Velho em ambulâncias, carros próprios, ônibus e vans. Até o final do ano, o Paepo concluirá o encaminhamento de aproximadamente 60 pessoas para cirurgias bariátricas no Hospital de Base Ary Pinheiro.
“Nosso trabalho inicia-se pelo posto de saúde municipal, identificando a obesidade, encaminhando a pessoa com sobrepeso para a POC, e aqui ela é regulada para o atendimento com a equipe interdisciplinar”, explicou a psicóloga do programa, Maria Lopes de Lucena.
Segundo ela, primeiramente a enfermeira recebe o paciente faz uma bateria de exames, passa em seguida aos cuidados do endocrinologista e da nutricionista, e aí inicia o tratamento. Esses dois profissionais necessitam conhecer a real situação de saúde do paciente, após o que tem início o atendimento psicológico.
Em grupo de cinco profissionais, a equipe procura entender os fatores que levaram a pessoa adquirir obesidade, e corrigi-la: a nutricionista com modelos de hábitos saudáveis de alimentação, o médico indicando medicamentos que auxiliam na perda de peso, e o psicólogo analisando o quadro emocional do paciente, entendendo os meios que ocasionaram a obesidade.
“Trabalhamos, então, as ferramentas necessárias para o paciente mudar o estilo de vida, resgatar a autoestima, o valor próprio, a motivação, a descoberta desses fatores de vulnerabilidades e desajustes, e, com a ajuda do paciente, restabelecemos a sua saúde emocional e rompendo o círculo vicioso que muitos vivem, de emagrecer e engordar”, assinalou Maria José.
Maria Lopes atribui o êxito do atendimento a essas pessoas, também, às prefeituras de Cacoal, Jaru e Rolim de Moura, que mantêm casas de apoio na capital. “Eles têm onde ficar e fica mais fácil chegarem aqui descansados e dispostos”, ela disse.
Para o atendimento diferenciado a pessoas tão especiais, vítimas de doença crônica de causa multifatorial, a equipe multidisciplinar da POC é formada por um médico endocrinologista, uma enfermeira, uma nutricionista, uma enfermeira e uma psicóloga.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, em Porto Velho, 52% dos adultos apresentam excesso de peso e deste total, 19% são obesos.
Assim, o Paepo, apoiado também pelo trabalho de fisioterapeutas, busca beneficiar maior número de pacientes obesos, prestando-lhes atendimento ambulatorial multiprofissional em grupos, incentivando o emagrecimento com mudanças de hábitos de vida, como alimentação saudável e atividade física.
O EXEMPLO DE MACHADINHO D’OESTE
A ex-obesa Simone, de Machadinho do Oeste (a 324 quilômetros de Porto Velho), é uma pessoa pobre, analfabeta, mãe de três filhos, portadora de transtorno bipolar, mas conseguiu sensibilizar a psicóloga ao se comprometer com o Sistema Único de Saúde (SUS) a mudar o comportamento.
Simone, 1,40m de altura, 33 anos, pesava 155 quilos, tinha pena dos filhos e distribuía para eles alguns alimentos do seu kit, incluindo frutas. Disse à psicóloga que não tinha recursos para oferecer-lhes dieta semelhante à dela, e se constrangia.
Aconselhada, resolveu não mais compartilhar os alimentos e até escondeu-os, para seguir à risca o tratamento e posterior cirurgia no Hospital de Base.
“Havia dúvida, mas o nosso laudo recomendou aos médicos o encaminhamento dela para a cirurgia, desde que cumprisse regras nutricionais, melhorando o metabolismo, e ela venceu”, comentou Maria Lopes.
Simone perdeu 30 quilos durante a dieta e a cirurgia eliminou-lhe outros 40. Ao todo, emagreceu 70 quilos e agora faz plásticas reparadoras. Ela disse à psicóloga: “Agora eu vou ter mais tempo de vida para me dedicar mais aos meus filhos”.
Certamente, estimulada pela equipe da POC que a diagnosticou e acompanhou seu drama durante dois anos, ela voltará ao rio onde nadava e voltará a fazer a caminhada de dois quilômetros por dia.
“Dona Simone é muito conhecida por lá (Machadinho d’Oeste), passou a compor letras de música após a cirurgia, é agora outra pessoa”, observou a psicóloga.
MULTIFATORIAL
- A obesidade é uma doença crônica, de causa multifatorial, em expansão, em que ocorre uma sobreposição de fatores genéticos e ambientais. Sua prevalência é crescente, não somente em adultos, como também em crianças e adolescentes.
- Não é um fenômeno recente na história da humanidade, entretanto, nunca havia alcançado proporções epidêmicas como atualmente se observa.
- A obesidade pode iniciar em qualquer idade e ser precipitada por fatores, entre os quais, desmame precoce, introdução inadequada de alimentos, distúrbios de comportamento alimentar e da relação familiar, especialmente nos períodos de aceleração do crescimento.
- Existem três tipos básicos de cirurgias bariátricas: restritivas, mistas e disabsortivas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago são chamadas do tipo restritivo (Banda Gástrica Ajustável, Gastroplastia Vertical com Bandagem ou Cirurgia de Mason e a Gastroplastia Vertical em “Sleeve”).
- A perda de peso se faz pela redução da ingestão de alimentos. Existem também as cirurgias mistas, nas quais há a redução do tamanho do estomago e um desvio do trânsito intestinal. Além da redução da ingestão, há diminuição da absorção dos alimentos.
- Cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação gástrica com e sem anel) e predominantemente disabsortivas (derivações bileopancreáticas).
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