Em defesa de Porto Velho e Eliane Brum - Por João Paulo Viana

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Foto: Divulgação

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Os recentes acontecimentos gerados pela matéria da jornalista Eliane Brum tem sacudido o debate acerca dos problemas de Porto Velho. De antemão, antes de qualquer comentário a favor ou contra a reportagem, posso afirmar categoricamente que as linhas escritas pela jornalista serviram, sobretudo, para o despertar acerca de um problema secular, com raízes histórias que remontam a fundação da cidade. Porém, o que tentarei “colocar” aqui é que os críticos de Eliana Brum se expressam com tanta indignação que o debate acaba padecendo de bons argumentos.

É sabido por todos que possuímos problemas há um século.

São questões que afligem todas as áreas, desde educação e saúde, até infra-estrutura e lazer. Estamos iniciando o terceiro boom populacional e tais problemas tendem a aumentar cada vez mais. Somos uma cidade que nasceu à margem do rio Madeira e deu às costas a ele. Isso é um dos maiores crimes que podem ter cometido com nossas belezas naturais. Em qualquer Capital brasileira a orla é um lugar de lazer, aonde as pessoas vão com suas famílias passear. Somos também a única capital que não possui um teatro. Temos muito pouco acesso à cultura, tanto é que o cinema recém-inaugurado do shopping tem sido um refúgio para os adeptos de lazer em nossa cidade.

 

Os problemas “há muito são muitos”. Falta de esgoto, água potável, médicos, ruas e avenidas esburacadas, escolas precárias, trânsito caótico, violência. Sem falar nos distritos distantes de nossa Capital que historicamente poucas vezes o poder público chegou. Em agosto de 2008 ao ser entrevistado pelo Portal IG sobre os desafios do futuro prefeito da capital, fui enfático ao analisar que Porto Velho não estava preparada para receber as usinas. O que em primeiro plano pode parecer notório, parece não estar sendo observado. Grande parte da classe política se sente muito a vontade em falar da mudança que precisamos empreender para criar condições de um desenvolvimento sustentável nesse período de crescimento. Contudo, não ficam nada contentes quando dizemos que precisamos começar a nos preparar agora.

Preocupo-me demasiadamente com o “pós-usinas”.

Até agora, é tudo muito incerto. Não sabemos quantas pessoas chegarão e quantas aqui depois das obras, fincarão raízes. O clima de incerteza é angustiante. Não podemos esperar que a herança seja a mesma de outros ciclos. A história deve ser observada como um retrovisor. É no espelho que precisamos focar nosso olhar.

 

A partir daí devemos refletir acerca do que será de nossa cidade daqui há dez anos. Qual Porto Velho queremos para nossos filhos? Na realidade somos bairristas ao extremo. Criticamos, reclamamos a todo momento, mas não aceitamos quando alguém de fora vem aqui e leva essa realidade para o resto do Brasil. Em recente artigo, o jornalista Paulo Queiroz citava o escritor Antonio Serpa do Amaral, que analisa: “Se os rondonienses não são tão míopes assim, o que realmente causa medo e vergonha no olhar de Eliane Brum??”.

 

Devo aqui registrar a importância da reportagem de Eliane Brum. O ponto positivo é que após sua publicação, emergimos de uma epidemia do sono secular que nos acometia desde 1914. Quanto aos que pensam que matérias como essa podem afastar investimentos, tenham a certeza que o mau investidor, aquele que pretende ficar rico e ir embora (como no passado), realmente não virá. Ah, o que importa? Nos livramos de mais um mal.

Há cerca de três anos recebi a visita de amigos estrangeiros. Um deles ao desembarcar no Rio de Janeiro dias depois, foi indagado por um amigo de infância, filho de Rondônia, radicado no Rio: What did you think about Porto Velho? Logo em seguida respondia o amigo estrangeiro: Small and ugly towm, but very nice people. Resta saber até quando seremos a cidade pequena e feia, mas de pessoas maravilhosas.

 

 

João Paulo Viana é cientista político e professor universitário.

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