Descontados os exageros dos que pescam melhor em águas turvas, não há como negar a relação promíscua entre políticos e empreiteiras.
Acreditar que uma empresa entregaria de mãos beijadas milhões de reais para a campanha de um candidato sem exigir nada em troca é, no mínimo, pura ingenuidade.
A maneira como os fatos são trazidos à baila, no entanto, é que pode até ser discutida, mas não há como negar os indícios de que existe um conluio espúrio muito bem montado em gabinetes confortáveis, aqui e alhures, para favorecer empreiteiras.
É por isso que as obras públicas são superfaturadas em até cem por cento acima do valor real, exatamente para abastecer a caixinha eleitoral de partidos de aluguel e políticos vendilhões.
Na última quinta-feira, o líder dos Democratas, no Senado, José Agripino (DEM-RN), cujo nome aparece na lista da Camargo Corrêa, como possível beneficiário de um esquema de propina, foi à tribuna para tentar convencer seus colegas de que é inocente. Se Agripino está certo ou não, o tempo encarregar-se-á de revelar.
Não é à toa que setenta por cento das obras públicas ficam, misteriosamente, nas mãos de meia dúzia de empreiteiras. Igualmente, não é a primeira vez e, certamente, não será a última, que fatos dessa natureza acontecem.
No governo do presidente Fernando Collor, o Senado chegou a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a relação promíscua entre políticos e uma das gigantes da construção civil nacional, mas ninguém foi parar na cadeia.
No âmbito municipal, há informações de que a Justiça Eleitoral pretende fazer uma varredura nas despesas de campanha de certo candidato à prefeitura de Porto Velho, principalmente depois que o cidadão teve suas contas rejeitadas.
Não há corrupto sem corruptor. Por isso, não somente os que pagam propinas para obter vantagens deveriam ir para a cadeira, mas, também, os que as aceitam. Afinal, os privilégios pessoais não podem sobrepor-se aos interesses sociais.
É preciso investigar os dois lados, e não apenas quem “doa” a grana. Se o senador potiguar sente-se injustiçado, deveria colocar as suas contas à disposição da Justiça, até para que se não pairem dúvidas sobre sua conduta.
Assim, a sociedade e, principalmente, seus eleitores, poderiam separar o joio do trigo. Separar os políticos honestos dos políticos desonestos.
As doações para as campanhas eleitorais precisam ser transparentes, para que se não transformem num barril de pólvora. E quando assim não o forem, precisam ser investigadas. Até para que os que se consideram justos, não paguem por eventuais pecadores.