Um forte odor de fezes invade a escola municipal Marechal Rondon, situada em Abunã, distrito de Porto Velho. O mau cheiro se deve a fossa da escola, que está estourada e a água com dejetos humanos transbordou para o pátio da unidade educacional. Entre essas lagoas fétidas fica a cozinha da escola, no lado esquerdo e a horta do outro lado. Próximo também ficam as salas de aula, onde crianças, a partir de seis anos, estudam diariamente.
O prédio pertencia ao Governo do Estado, que reformou a escola e repassou para a prefeitura administrar, uma vez que o casebre onde funcionava a unidade da prefeitura ameaça desabar a qualquer momento.
Além da fossa estourada, as salas de aula encontram-se com as paredes imundas, parte da fiação elétrica fica exposta, ameaçando a vida das crianças. O enorme pátio encontra-se tomado pelo mato e pela lama.
Os móveis e utensílios estão em estado deplorável e a população que reside na localidade não tem a quem recorrer.
Na manhã desta quinta-feira (05), o governador Ivo Cassol esteve presente a escola para uma audiência pública para tratar da implantação de um frigorífico na região. Durante a solenidade, um dos sócios do frogorífico pediu ao governador que o mesmo olhasse para aquele prédio e fizesse uma reforma o mais urgente possível.
Ivo Cassol, visivelmente irritado com a situação da escola, afirmou que passou a responsabilidade de cuidar do imóvel para a prefeitura de Porto Velho e completou, “se o prefeito não tem competência para manter uma escola que eu entreguei reformada, pode devolver para o Estado que eu garanto que nunca chegaria a essa situação. Ele tem que tirar o pé do chão”.
Doenças graves
De acordo com moradores da região, desde que a fossa estourou, aumentou sensivelmente o número de doenças entre as crianças e a vizinhança da escola. Só que a maioria dos moradores busca auxílio nos hospitais do Acre, já que o posto de saúde que também é responsabilidade da prefeitura não consegue atender os moradores.
“A maioria vai para Rio Branco, que é mais perto e muita gente tem parente por lá. As crianças são as que mais sofrem. Imagine moço (sic) que quando chega por volta das 10, 11 da manhã, que é quando o sol está mais forte, a catinga que fica nessa área”, disse uma moradora.
Nossa reportagem também encontrou diversos caramujos africanos que crescem no esgoto e são responsaveis por doenças como Angiostrongilíase meningoencefálica humana, cujos sintomas são dores de cabeça fortes e constantes, rigidez na nuca e distúrbios do sistema nervoso, e ainda a angiostrongilíase abdominal, que causa perfuração intestinal e hemorragia abdominal (cujos sintomas são dores abdominais, febre prolongada, anorexia e vômitos). Para que aja contaminação, basta a simples manipulação dos caramujos vivos, pois os vermes são encontrados no muco (secreção) dos caramujos. Ao se instalar em hortas e pomares, o caramujo pode contaminar frutas, verduras e disseminar doenças.
Peçonhas
Além dos caramujos, os estudantes de Abunã ainda contam com a companhia dos morcegos que habitam o forro da escola. Um policial militar lotado em Abunã, explicou que o forro virou um enorme criadouro de morcegos, “eles não chegam a incomodar, mas suas fezes caem no forro e os alunos ficam respirando poeira de cocô de morcego junto com a catinga que vem da fossa estourada”.
Os banheiros também estão em situação precária e terminaram virando depósito de entulhos. Canos, vassouras e outras tralhas ficam guardadas sobre as paredes que dividem os sanitários. Nas salas de aula, apenas alguns ventiladores funcionam.
Antiga escola
O antigo prédio onde funcionava a escola Marechal Rondon é um monumento ao descaso. Situada na margem da rodovia, a velha escola está torta, prestes a cair. O piso é de cimento queimado, as janelas e portas estão fora de esquadro e a prefeitura, por ter ganho um prédio novo do Governo do Estado, abandonou o local, que também virou um criadouro de morcegos, ratos e outros bichos peçonhentos. Alguns moradores disseram que desde a campanha que o prefeito, tampouco a secretária de educação, Epifânia Barbosa apareceram por lá, “eles só vinham aqui atrás de voto. Agora que foram eleitos, já era”, disse uma moradora.