1 – ALTA VOLTAGEM
Cresceu, tomou corpo, avançou e prossegue desbastando seu cronograma de mobilizações, além de colecionar adesões por onde se manifesta, a chamada “Campanha – LTCA” (Linha de Transmissão Corrente Alternada), uma iniciativa conjunta do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Rondônia (Crea-RO) e do Sindicato dos Engenheiros do Estado de Rondônia (Senge-RO) que, há pouco mais de um mês, quando dela se falou neste espaço, contava apenas com a parceria da Associação de Defesa do Consumidor Proprietário e Usuário de Veículo Automotor (Adecon-Puva).
Tanto cresceu que, no dia 30 passado, quando divulgou a “Carta de Rondônia”, um texto extraído do “Seminário Transmissão em Corrente Alternada e Desenvolvimento Regional Já!”, o documento chegou à imprensa legitimado por quase 30 entidades signatárias – aí anotados sindicatos vários, faculdades, empresas públicas e privadas, colégios, entidades de classe e por aí vai. Para quem chegou agora, informe-se que o movimento está sendo conduzido para postular a corrente alternada como opção para o transporte da energia produzida pelas usinas do Madeira.
Conforme o engenheiro eletricista Ronaldo Ferreira da Silva, coordenador do “Fórum LTCA”, pelo projeto, a energia será transmitida, de Porto Velho a Araraquara (SP), por corrente contínua. Como todo o sistema elétrico do país opera com corrente alternada, significa que, enquanto não chegar ao seu destino, onde uma subestação a transformará na modalidade alternada, essa energia não poderá ser utilizada.
Na prática isso quer dizer o seguinte: o Estado será cortado de uma ponta a outra por um linhão de onde não se poderá puxar um rabicho para acender sequer um mísero bico de luz. De acordo com o pessoal do Crea-RO e do Senge-RO, isso irá prejudicar irremediavelmente o desenvolvimento de Rondônia, porquanto a inserção regional ao crescimento do país ficará dependente da construção de outro sistema em corrente alternada ou do reforço do sistema existente.
2 – MALA E CUIA
Para tentar impedir esse despautério, a coordenação da “Campanha LTCA” garante que vai organizar uma marcha até o Ministério das Minas e Energia (MME), em Brasília, e montar acampamento na ante-sala do gabinete do Ministro Edson Lobão, de modo que o resultado de toda mobilização – documentação e reivindicações – chegue ao conhecimento das autoridades antes da realização do leilão da obra, prevista para 30 de setembro. Não vai sozinha e nem muito menos de mãos abanando. O plano é chegar precedida por uma comissão de frente integrada pela bancada parlamentar do Estado (deputados estaduais, federais e senadores) e apresentar-se ao Ministro devidamente documentada (reproduções de matérias de jornal, de matérias de rádios e TVs, livros de assinaturas, inserções em sites etc), demonstrando de forma cabal a comoção local diante da questão revelada e debatida pela campanha.
Ainda mais depois que o documento de que se falou começou a repercutir, deixando patente que, no planejamento dos responsáveis pelo projeto, “a alternativa em corrente alternada, foi descartada por ‘falta de tempo para equacionar um problema técnico’, na estação de Araraquara”. Vale a pena reproduzir alguns trechos da “Carta de Rondônia”.
“Esta é uma decisão que causa perplexidade. Significa que nossos Órgãos de Planejamento, responsáveis pelo fundamental papel de decidir a expansão de uma infra-estrutura de suma importância, que afeta o desenvolvimento do País nos próximos 30 anos, são levados a tomar decisões sem o devido aprofundamento das análises técnicas por ‘falta de tempo’. A preocupação aumenta quando se verifica, pelos relatórios técnicos disponibilizados, que a própria Alternativa em Corrente Contínua apresenta pontos técnicos ainda não equacionados, cuja responsabilidade de solução ficará a cargo do Investidor.”
“Não existe nenhum documento técnico oficial que recomende o descarte da Alternativa em Corrente Alternada; Portanto, na falta de entendimento do porquê da exclusão da Alternativa em Corrente Alternada 765 kV do Edital de Licitação, entendemos que o edital deveria permitir que os proponentes passem apresentar essa alternativa de transmissão”.
3 – AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
“Há pouco tempo a sociedade rondoniense foi mobilizada para dar apoio ao projeto de construção das usinas com a perspectiva que seriam quebrados paradigmas da Região continuar sendo apenas fornecedora de matéria prima para as Regiões Sul/Sudeste. Como se pode concluir, mais uma vez nos enganamos, pois todas as medidas/decisões foram tomadas com mesma ótica de anos anteriores, sem a consulta ou convite à sociedade rondoniense para participar desses estudos e decisões.”
“As medidas compensatórias que vêm sendo anunciadas para minimizar impactos sócio-ambientais são, na verdade, resultados de ações de entidades civis ou de outras áreas de governo, e não de estudos e previsões do Órgão de Planejamento, como se esperava que acontecesse, com participação efetiva nos vários níveis de planejamento. Hoje sabemos que ‘Luz Para Todos’ ainda é uma boa peça publicitária. A discussão do Seminário, além de contemplar as áreas de RO e AC que ainda não são atendidas com ofertas de energia elétrica, discutiu também o cenário para os próximos 30 anos, olhando para o Brasil e para o Peru e a Bolívia - nossos vizinhos.”
“A infra-estrutura deve proporcionar a garantia de oferecimento de energia estável e tarifas mais baixas, o que certamente traria um alivio à população - que paga uma das mais altas tarifas do país - e permitir crescimento da agroindústria. Pensando ainda no cenário de 2020, a Região Sudeste seria superavitária na produção de Energia com o gás produzido no Brasil. A linha em corrente alternada em discussão permitiria a inserção, sem necessidade de construção de nova linha. Finalizando, este fórum considera de primordial importância que a ANEEL, inclua a alternativa em corrente alternada, tranqüilizando a sociedade e permitindo planejamento seguro do desenvolvimento Região”.
A quem interessar possa, nesta quarta-feira (13) a “Campanha LTCA” mostra-se em audiência pública na Câmara de Porto Velho. E no dia 26, repete a dose na Assembléia Legislativa. Todo mundo lá!