Peças do acervo do museu da EFMM se deterioram em depósito da Marinha após serem transportadas de forma irregular - Confira vídeo e fotos
O Rondoniaovivo.com teve acesso a fotos e constatou in loco que grande parte do acervo do museu da EFMM está num ambiente fechado, pegando poeira, inadequado, sem climatização ou cuidados específicos com as peças.
Confira vídeo com a confusa entrevista de Julio Yriarte, da Fundação Iaripuna, no final da matéria.
Em agosto do ano passado os dois principais galpões que integram o complexo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré foram interditados para serem reformados, a partir de um projeto desenvolvido pelo departamento de arquitetura da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA), sob a supervisão do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Um dos galpões que comportava o acervo do museu da EFMM foi limpo, com quase todas as peças sendo levadas para um depósito da Marinha que fica a 100 metros, dentro do complexo, num ambiente inadequado e considerado insalubre.
O Rondoniaovivo.com teve acesso a fotos e constatou in loco que grande parte do acervo, tombado pelo Patrimônio Histórico, como o complexo, que hoje se encontra sob a responsabilidade da Prefeitura municipal de Porto Velho, está num ambiente fechado, pegando poeira, inadequado, sem climatização ou cuidados específicos com as peças, muitos móveis (cadeiras, mesas, cristaleiras, camas, escrivaninhas e estantes), utensílios domésticos (pratos, xícaras e talheres), maquinaria leve (máquinas de escrever, de calcular, relógio de ponto e lampiões) e maquinaria pesada (macacos, empilhadeira, cofres, guincho, etc..)
O galpão onde ficava uma das oficinas foi então desmontado parcialmente para a reforma, que seguiu um criterioso estudo do material que seria utilizado para sua reconstrução. O outro galpão, que comportava o museu da EFMM, com um precioso acervo que reconta a saga da construção de todo o complexo, foi esvaziado, permanecendo somente a velha Locomotiva Coronel Church .
ACERVO VIOLADO
A responsabilidade do translado e segurança das peças que compõe acervo é da Prefeitura municipal, através da Fundação Iaripuna, como bem deixou claro o museólogo e funcionário do quadro federal que presta serviço ao museu, Antônio Ocampo, citado pelo presidente da Iaripuna, Julio Yriarte, como um dos profissionais que acompanhou o translado das peças.
Em entrevista ao Rondoniaovivo.com o museólogo Antônio Ocampo disse que a transferência do acervo foi um caso atípico, pois se tratava de um trabalho emergencial, em vista da restauração dos galpões, sendo que um deles comportava o museu.
Segundo Ocampo o depósito disponível para resguardar as peças, enquanto ocorrem as obras, havia sido cedido pela Marinha, mas que ele esteve ali presente apenas como observador e funcionário do museu e não como responsável pela transferência, pois, de acordo com ele, esse é um papel que cabe à Fundação Iaripuna através de um representante legítimo.
O presidente da Fundação Iaripuna, Julio Yiriarte, disse à reportagem que o acervo está sob a proteção da Marinha e que ninguém está autorizado a entrar no depósito sem autorização da mesma, complementando que o local é apropriado, pois, segundo ele, as peças estão sendo constantemente “higienizadas”, com um tratamento de limpeza a base de “produtos próprios”, assim como a cobertura de todo acervo, evitando que a poeira adentre no local.
Yriarte esclareceu que após a transferência do acervo foi contratado um restaurador para fazer uma avaliação de todas as peças, dando um parecer sobre o que teria sido danificado no momento do translado ou o que já estava danificado anteriormente. Essa avaliação foi incluso em um laudo que foi encaminhado depois ao Departamento da Polícia Federal a pedido dos próprios federais. O presidente da fundação disse que não foi constatado nenhum dano durante o translado.
“Aquelas peças que estavam quebradas, já estavam (quebradas) há bastante tempo”, disse Julio.
ACERVO VIOLADO II
Porém, durante a transferência das peças do acervo para o depósito da Marinha, um grupo de pesquisadores e membros de uma associação que tenta proteger o acervo que integra o complexo registrou em fotos o modus operandi dos funcionários que ficaram encarregados de transportar as peças. Móveis e peças centenárias foram transportadas sem nenhum tipo de proteção ou cuidado, jogados na carroceria de um caminhão como se fossem peças comuns, em se tratando de mudanças habituais.
Questionado sobre as fotos que mostram claramente o despreparo da equipe que cuidou do transporte e o modo grosseiro como o acervo foi disposto na carroceria do caminhão, Julio Yriarte disse que o ideal seria “pegar cada peça, um parafuso e colocar numa caixinha com feltro, fechar e transportar assim”.
Para a surpresa da equipe de reportagem, Julio Yriarte disse que a transferência das peças não procedeu de forma adequada porque o galpão é ao lado do depósito (que a Marinha disponibilizou para tal fim), a poucos metros um do outro. Segundo Julio o que as fotos mostravam se tratava de um “caso específico” e que foi um descuido, mas com a transferência das outras peças o procedimento foi adequado.
“Não havia necessidade de tantos cuidados, a não ser que a transferência fosse de uma cidade para outra”, completou o presidente da Fundação Iaripuna.
Julio Yriarte inclusive ressaltou que a situação já havia virado peça de inquérito na Polícia Federal – que requereu um laudo técnico pericial das peças do acervo, para ter ciência dos danos causados durante a transferência. Segundo ele a Associação dos Amigos da Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi que teve a iniciativa de entrar com a denúncia.
ACERVO VIOLADO III
Mas claro sobre o que de fato ocorreu em relação a transferência das peças que constituem o acervo da EFMM, o museólogo Antônio Ocampo, que acompanhou a ação como funcionário do museu, disse que o transporte foi feito de três formas: no uso de um trator (em relação as peças muito pesadas, como veículos do tipo “cegonha”, “velocípede”, “empilhadeira”), em cima de caminhões (caso de móveis e peças de ferro) e no transporte manual, onde as pessoas encarregadas do transporte levaram alguns objetos nas mãos.
Ocampo reiterou que no que ele pode ver o transporte das peças não afetou a integridade do acervo, pois não constatou nenhuma quebra. Citado pela Fundação Iaripuna como o museólogo que acompanhou a transferência do acervo para o depósito da Marinha, Ocampo foi chamado para depor na Polícia Federal e explicar a sua presença no local. Segundo ele, apenar reiterou o que já havia dito antes, que não tem vínculo algum com a Fundação Iaripuna ou a Prefeitura e que fez apenas o acompanhamento como funcionário do museu, não mais do que isso e que a responsabilidade total pela integridade de todo o acervo cabe a Fundação, que responde à Prefeitura municipal de Porto Velho.
Questionado sobre as condições do acervo dentro do depósito da Marinha, Ocampo disse que com o desligamento temporário do museu, estando afastado das suas funções não sabe como estão lidando com o acervo e as reais condições das peças dentro do local onde se encontram, mas foi claro e contundente ao dizer que a única pessoa que pode apontar o que de fato acontece hoje com o acervo é o presidente da Fundação Iaripuna, Julio Yriarte.
A mesma posição teve o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/RO), quando o delegado responsável, Beto Bertagna, disse à reportagem do Rondoniaovivo.com enfatizou que a Fundação Iaripuna é responsável por todas as peças do galpão, desde sua retirada, cuidado e cadastro. A fundação responde por todo dano que aconteça com qualquer peça do galpão. Beto Bertagna ainda ressaltou que procurou a Fundação para alertá-la sobre sua responsabilidade com todas as peças dos dois galpões.
De acordo com o “Inventário do Acervo do Museu da Estrada de Ferro Madeira Mamoré”, hoje consta catalogado 475 peças, grande parte deteriorando no depósito da Marinha.
CONFIRA VÍDEO:
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