Política em Três Tempos - Raupp congela candidatura própria do PMDB e PT não quer mais ceder vaga de vice: Por Paulo Queiroz
1 – PMDB ATÔNITO
Como ao fim desta leitura se verá, nem o mel e nem a cabaça. Por enquanto, bem mexido e bem coado, o que se pode constatar é que foi pífio resultado da reunião do PMDB porto-velhense desta segunda-feira (25). Convém lembrar que ali se pretendeu perscrutar, por meio de um debate envolvendo os capas-pretas da legenda, que tendência seria possível identificar no Diretório da Capital entre uma proposta de candidatura própria a Prefeito de Porto Velho – resolutamente defendida pelos peemedebistas de raiz, ou seja, no partido desde os tempos de MDB - e o projeto de indicar o candidato a vice-prefeito na chapa de uma eventual coligação com o PT (como indica a parceria na administração do município estimulada principalmente pelo comando estadual da agremiação).
Ao final do encontro, encerrado com um discurso repleto de ponderações, e por isso mesmo essencialmente desencorajador, do presidente regional da sigla, senador Valdir Raupp, a sensação, conforme o relato de alguns dos participantes, era a de que os peemedebistas não sabiam onde estavam, ignoravam o que faziam ali e não tinham a menor idéia acerca de para onde ir – “feito cachorro caído da mudança”, na expressão de um deles.
Antes de Valdir Raupp discursar, no entanto, o ambiente era de exaltação, voluntarismo e intrepidez, porquanto os oradores que precederam o presidente da legenda no Estado haviam, à unanimidade, pregado a candidatura própria da agremiação à sucessão municipal como única alternativa capaz de assegurar a sobrevivência do partido na Capital, conforme disseram, ameaçado – senão de extinção – de permanecer sempre num acanhado segundo plano, incompatível com sua importância política.
Entre outras razões, de acordo com os defensores da plataforma salvacionista, porque a sigla está há mais de 10 anos sem concorrer ao cargo de prefeito no principal município do Estado - a última disputa dessa natureza em que o PMDB encabeçou uma chapa foi no pleito de 1996, quando o médico Sérgio Carvalho perdeu a eleição para Chiquilito Erse - ambos agora no andar de cima. Sem falar que já se passaram mais de duas décadas desde que um peemedebista venceu uma disputa eleitoral na localidade, em 1985, com Jerônimo Santana.
2 – MUITOS “PORÉNS”
Se é verdade que para o bom entendedor meia palavra basta, nada mais esclarecedor sobre os resultados do encontro em questão do que a declaração do presidente do Diretório Municipal do PMDB de Porto Velho, empresário Fernando Prado, publicada na edição desta quarta-feira (27) do jornal “Folha de Rondônia” - O partido está em paz, unido e quando chegar o momento oportuno vamos anunciar a decisão definitiva sobre como caminharemos em relação à eleição de Porto Velho -. Curta e grossa é a conclusão do esperto redator: “No popular, nada definido”. Sem tirar e nem por.
A mesma nota dá conta de que “havia e ainda há uma ala muito forte no PMDB que exige candidatura própria. A intenção é avalizada até mesmo pelo presidente do diretório regional, senador Valdir Raupp. Com um porém: o PMDB só deve lançar um nome próprio e cair fora da aliança com o PT caso tenha uma candidatura forte, viável, com chances reais de chegar ao menos ao segundo turno. Se não a tiver, ficará onde está, ou seja, aliado aos petistas, apoiando a reeleição de Roberto Sobrinho e indicando um nome para vice”.
Como há muito mais do que “um porém” só aí nestas palavras, pelo presumido aval que Valdir Raupp emprestaria ao projeto entenda-se que, nas atuais condições de temperatura e pressão – ou seja, com os nomes supostamente dispostos a encarar o desafio e as condições objetivas do diretório da capital para administrar um projeto dessa envergadura -, ele respeitaria a decisão, mas lavaria as mãos. Não falou nestes termos, mas restaram poucas dúvidas quando deixou claro que o problema passa longe do seu discernimento, pois nem filiado ao PMDB da Capital ele é. Ponto.
Coube ainda ao próprio Valdir Raupp informar que as pré-candidaturas de Carlinhos Camurça e Odacir Soares estavam fora de cogitação, porquanto pessoal e definitivamente descartadas pelos supostos postulantes. No final das contas, restaram reconhecidas apenas as pré-candidaturas a prefeito de Fernando Prado e do médico José Augusto.
3 – VICE DO PT
A esta altura, como parece cada vez mais remota a hipótese da candidatura própria do PMDB local, o leitor deve estar se perguntando que serventia terá o reconhecimento das duas pré-candidaturas aí especificadas? Nuanças da política, leitor. Na verdade, com o balde de água fria jogado por Valdir Raupp no projeto de palanque independente, o que Fernando Prado e José Augusto passam a postular é a candidatura de vice-prefeito na eventual coligação comandada pelo PT.
Ocorre que, com a provável exceção de Raupp, o que nem Prado, nem José Augusto e nem a quase totalidade dos diretorianos do PMDB porto-velhense sabem é que a porca deverá novamente torcer o rabo na próxima reunião dos peemedebistas da capital, prevista para o dia 15 de março.
Eis que, segundo os estrategistas do projeto de reeleição do prefeito Roberto Sobrinho (dependendo apenas da avaliação em curso de dirigentes do partido), a candidatura de vice-prefeito em questão não está mais disponível para negociações e, obviamente, deverá ser ocupada por um petista. Para se ter uma idéia do patamar de amadurecimento do plano, informe-se que já se tem até nomes, destacando-se entre os de maior aceitação o do professor Israel Xavier Batista, titular da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla).
A estratégia não objetiva apenas tentar evitar que a luta interna no PMDB – ou mesmo uma disputa entre este partido e o PDT (parceiro com quem o PT também quer coligar) – pela candidatura de vice termine por inviabilizar as alianças do projeto de reeleição petista. O propósito é o de não congestionar o palanque, evitando que políticos de outros partidos venham a público associar-se à imagem do prefeito Sobrinho e às bandeiras PT, mormente aqueles com rejeições elevadas e consolidadas. Como na hipótese de divisão das candidaturas majoritárias fica difícil impedir isso, mais prudente uma chapa puro-sangue. Dos partidos porventura coligados os petistas querem apenas o tempo de TV e eventualmente o trabalho eleitoral nos bastidores. A conferir.