Movido por elevado sentimento de justiça e solidariedade humana e de amor ao próximo (porque, segundo Romanos 13:9, o cumprimento da lei é o amor), o desembargador Sansão Saldanha resolveu dar uma oportunidade a deputados e ex-deputados, além de ex-assessores parlamentares, envolvidos no escândalo de desvio de milhões dos cofres da Assembléia Legislativa, para que se redimam da acusação, ressarcindo o erário.
Entretanto, dos vinte e nove acusados, somente três, dentre eles o deputado Neodi de Oliveira, atual presidente da Casa, teriam aceitado a proposta inteligente do desembargador. Os demais fizeram ouvido de mercador e, destarte, em caso de condenação, não terão direito à redução de pena, segundo esclareceu o jornal eletrônico Tudorondonia.
Duas interpretações são plausível, para a decisão do presidente Neodi. A primeira delas aponta na direção do absoluto reconhecimento do erro, o que, de per si, representa sinal de grandeza, a que nem todos estão acostumados, conquanto o parlamentar sempre tenha negado haver-se beneficiado da comezaina.
A hipótese contrária, no entanto, dificultaria ainda mais a já complicada situação de Neodi, cujo patrimônio estaria bloqueado, por decisão judicial. Vê-se, pois, que pior não poderia ser o enrosco no qual se meteu a autoridade máxima do legislativo rondoniense.
De qualquer forma, a conduta de Neodi não significa sua absolvição, mas, certamente, influirá no julgamento final da denuncia apresentada contra ele (e outras tantas pessoas) pelo Ministério Público.
Diz a Bíblia que, ao arrependido, será dado o perdão dos pecados. Assim, o presidente mostra que tem consciência de seu próprio pecado e que estar, verdadeiramente, comprometido com uma estrutura social justa.
A decisão de Neodi, destarte, parece ser uma saída menos traumática e preservadora do direito de permanecer na vida política, ao ensejo em que passa à opinião pública a impressão de que a Rondônia de hoje guarda significativas diferenças com a de passado não muito distante.
Se o gesto do presidente for imitado por outros acusados, certamente, ainda não se terá completado o trabalho saneador do Ministério Público, mas se poderá acreditar na possibilidade de a democracia resolver os problemas com que se defronta.
Quem sabe, assim, se afastem para sempre os fantasmas que costumam freqüentar os círculos do poder, quando as dificuldades se tornam maiores e desafiam a sabedoria humana.