Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – UM JORNALISTA Antes de o ano findar, urge saldar um débito da coluna com um dos seus mais caros patronos: o registro do aniversário dos 20 anos da passagem para o andar de cima daquele que, numa definição curta e grossa, foi um dos jornalistas brasileiros que mais conheceram o seu ofício - Cláudio Abramo (1923-1987). Lendo os seus textos e o que se escreveu sobre ele não há como não concluir: sabia tudo, não obstante – mais impressionante - autodidata. Sabia escrever e organizar jornais. Sabia refletir sobre a profissão. Falava fluentemente cinco idiomas e escrevia em português e inglês. Leu muito, tinha uma cultura humanista admirável. Todos os seus escritos – não se conhecem objeções - resultaram impecáveis. Num dos apanhados mais concisos que sobre ele se pode achar o jornalista Mário Sergio Conti, no livro “Notícias do Planalto”, disse tratar-se de “um fidalgo sarcástico, moralista, encrenqueiro e, sobretudo inteligente. Formou-se lendo clássicos italianos e franceses e literatura marxista... Durante toda carreira, se debateu entre suas convicções de esquerda, resolutamente anti-stalinistas, e sua prática profissional, a de prestação de serviços a jornais que considerava burgueses. Atormentado e intenso, marcou profundamente dois grandes momentos da imprensa do país: a reforma do jornal ‘Estado de S. Paulo’ (anos 50) e a da ‘Folha S. Paulo’ (70). Viveu e se consumiu nessa contradição como talvez nenhum outro jornalista da época, alternando períodos de pragmatismo com outros de revolta e ressentimento – ressentimento com os donos de jornais, com a classe dominante, com os partidos de esquerda, com o subdesenvolvimento brasileiro e até consigo mesmo, quando se arrependia do que havia feito ou do que deixara de fazer. Debaixo do sarcasmo que ajudava a enfrentar a crueza e rudeza do mundo do jornalismo, morou sempre uma alma gentil e leal, que lutou até o último dia para fazer de sua profissão o que dela esperam seus semelhantes. Principalmente os mais necessitados”. 2 – ÉTICA DO CIDADÃO Informe-se que, como a maioria dos jornalistas políticos, Cláudio Abramo não publicou suas experiências em livro. Mas amigos e admiradores reuniram uma pá de depoimentos e artigos sob o título “A Regra do Jogo”, um volume que se indica como importante em qualquer estante, indispensável na de um jornalista. Em tempos de julgamento de trabalhos jornalísticos para premiação, vale a pena ler os parágrafos iniciais do capítulo em que ele faz uma das mais citadas observações sobre a ética: A ética é uma só - Sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista — não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. O que o jornalista não deve fazer que o cidadão comum não deva fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer profissão. É preciso ter opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista. Evidentemente, a empresa tem a sua ética, que é a dos donos. Pode variar de jornal para jornal, mas o que os jornalistas deveriam exigir seria um tratamento mais ético da empresa em relação a eles e seus colegas. Isso não tem acontecido. É preciso uma atitude muito ética dentro da redação: os chefes e os responsáveis pelo jornal têm de dar o exemplo ao pessoal mais novo, senão é o caos. Um chefe de redação que tolera hipocrisia e golpes baixos contra funcionários do jornal perde a ética e o direito de usar essa palavra. A resolução da questão ética depende também do que o jornalista considera seu dever de cidadão. 3 – CONSCIÊNCIA JORNALÍSTICA Caso ele saiba de algo que põe em perigo a pátria, que põe em perigo o povo brasileiro, o dever do cidadão deve se refletir na profissão. O limite do jornalista é esse, ou seja, o limite do cidadão. Se um médico souber que estão preparando um golpe de Estado, ele tem a obrigação de contar, se for contra. Se for a favor, ele não tem obrigação. A ética do jornalista, portanto, é um mito que precisa ser desfeito. O jornalista não pode ser despido de opinião política. A posição que considera o jornalista um ser separado da humanidade é uma bobagem. A própria objetividade é mal-administrada, porque se mistura com a necessidade de não se envolver, o que cria uma contradição na própria formulação política do trabalho jornalístico. Deve-se, sim, ter opinião, saber onde ela começa e onde acaba, saber onde ela interfere nas coisas ou não. É preciso ter consciência. O que se procura, hoje, é exatamente tirar a consciência do jornalista. O jornalista não deve ser ingênuo, deve ser cético. Ele não pode ser impiedoso com as coisas sem um critério ético. Nós não temos licença especial, dada por um xerife sobrenatural, para fazer o que quisermos. O jornalismo é um meio de ganhar a vida, um trabalho como outro qualquer; é uma maneira de viver, não é uma cruzada. E por isso você faz um acordo consigo mesmo: o jornal não é seu, é do dono. Está subentendido que se vai trabalhar de acordo com a norma determinada pelo dono do jornal, de acordo com as idéias do dono do jornal. É como um médico que atende um paciente. Esse médico pode ser fascista e o paciente, comunista, mas ele deve atender do mesmo jeito. E vice-versa. Assim o totalitário fascista não pode propor no jornal o fim da democracia e entrevistar alguém e pedir: “O senhor não quer dizer uma palavrinha contra a democracia?”; da mesma forma que o revolucionário de esquerda não pode propor o fim da propriedade privada dos meios de produção. Para trabalhar em jornal é preciso fazer um armistício consigo próprio. É isso.
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