Cantinho do Menestrel - História no Rio & a 3ª margem - Por Julio Yriarte

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Cantinho do Menestrel - História no Rio & a 3ª margem - Por Julio Yriarte

Foto: Divulgação

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*REFLEXÕES HISTÓRICAS *Porto Velho que está cravada em plena selva amazônica se formou gradativamente numa das regiões que durante séculos foi uma das mais isoladas, pobres e desconhecidas do Brasil. *A pedra fundamental da materialização de Porto Velho ocorre quando a empresa de Percival Farquar empreende as ações de construção da EFMM, e a certo ponto, num gesto que viria a ser determinante, decide mudar o local escolhido para seu início. A insalubridade do histórico sítio de Santo Antônio do Madeira, e as facilidades para atracação de navios 7 km abaixo, no mais saudável "porto velho dos militares", orientaram essa histórica decisão. Ali então, nasce, cresce e se desenvolve Porto Velho. *A partir de alguns abnegados escritores, docentes, compositores, poetas e nativos que atravessam imortais no tempo, é que sua história é preservada, e até sacralizada, tentando burlar a indiferença que a maioria dos seus habitantes lhe dedica. *Porto Velho é uma cidade de grandes contradições históricas, sócio-culturais e econômicas, que para descreve-la na sua cabal importância, seria necessário escrever algumas centenas, ou até quilométricas páginas. *Pela densidade da odisséia amazônica/portovelhense, e não sendo no momento nosso assunto, nos limitaremos à abordagem de dois projetos locais, que ao nosso juízo, representam um marco relevante no processo de construção da cidadania e da evolução da cultura regional. *HISTÓRIA DA AMAZÔNIA NO RIO - BARCO-ESCOLA *Trata-se de um projeto nascido em 1999, que paralelamente ao seu aspecto educativo-cultural, vem carregado de otimismo e pujança inquestionáveis, qualidades originárias do Prof. de História Emmanuel Gomes, que, acreditando na efetiva contribuição - à margem e independente de auspícios públicos - saiu à frente na busca de, num exercício maiêutico, recuperar e trazer à luz, conhecimentos de copiosas passagens histórico-geográficas da Amazônia, discorrer sobre pioneirismo a partir de personagens como: Raposo Tavares, Francisco de Melo Palheta, Espiridião da Costa Marques, Teotonio de Gusman, entre outros . *AOS DOMINGOS *As aulas/passeio, que têm duração de 04 horas, são desenvolvidas aos domingos nas águas do Rio Madeira num barco alugado, com saída às 08h. *Previamente, são estabelecidos contatos com escolas da rede pública e privada para definir quantidade e qualidade de alunos, de modo a garantir o quorum ideal (em torno de 50 alunos) e a cobertura dos custos operacionais. Cada aluno participa com a quantia de R$ 10,00. *PROPÓSITOS *O projeto incorpora a idéia de conduzir as aulas voltadas, não ao Professor, más, à natureza em volta, contar a história como, e no lugar em que ela ocorreu, aproximar os alunos das suas próprias raízes, não só repassar, também compartilhar conhecimentos, pluralizar e extrair conceitos da, com, e na comunidade estudantil, suscitar o inusitado, conhecer a causa/efeito e a contra-mão da história, e, finalmente, contribuir para a construção de uma identidade amazônica. Observe-se que a grande maioria dos habitantes não se identifica com a floresta amazônica, a culinária e a música regionais, com a sua região, em fim, com as próprias tradições culturais. *CONTEÚDO DAS AULAS *A cada domingo um ciclo histórico será alvo de abordagem. A 1ª aula trata do período colonial, bandeirantes, povos indígenas, construção dos fortes, ciclos econômicos da mineração e da borracha. *A 2ª aula está pautada no século XX, a partir da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, 2º ciclo da borracha, criação do Território, o pouso de Getúlio Vargas nas águas do Madeira a bordo de um hidro-avião. O ponto alto desta aula é a visita ao antigo Presídio da Madeira Mamoré, este, que atendia interesses da ditadura militar, tanto que, acabada a ditadura, foi desativado e teve todas as provas documentais queimadas. *HISTÓRIA E MÚSICA *Outra característica das aulas é a participação paralela a cada domingo, de um músico intérprete que não pretende-se um instrumento de entretenimento, mas sim, um ator social que têm estreita ligação com os temas desenvolvidos, de modo a localizar os alunos no contexto histórico abordado, isto é, a música no momento exato terá relação com cada assunto em discussão. Inicialmente suas intervenções durante as aulas se davam de forma espontânea, hoje é preparado um roteiro musical prévio. Vale afirmar que tal iniciativa vem ao encontro da valorização da música em geral, e do músico, em particular. *GÊNESE DE KAIARY- INFORMAÇÃO ÚTIL *O Professor Emmanuel Gomes defende a tese de que o vocábulo Kaiary é de origem “Inca” e significa “Rio que nos Ama”. É crível imaginar que o nome Kaiary, foi adotado pelos indígenas justamente por constituir-se – o rio – na espinha dorsal de sua própria sobrevivência, uma clara demonstração de reverência àquela inesgotável fonte de recursos naturais. *NA TRAVE *No século XVII (1649) o pioneiro português Raposo Tavares rebatizou deturpadamente o Kaiary como “Rio das Madeiras”. Outra deturpação nominativa diz respeito ao “Boto Cor de Rosa”, expressão dada pelo Pesquisador Jacques Cousteau. Na realidade os nativos o chamavam, acertadamente pela sua forte coloração, de “Boto Vermelho” ou Inia (fogo) Girofronses (boto). *Rejeitam-se as novas denominações por entender que representam mais uma atitude arbitrária e desrespeitosa para com o sentimento dos povos indígenas, um abalo ético e estético! *A 3ª MARGEM *Fruto de suas inquietudes, o Prof. Emmanuel criou ainda, o Projeto 3ª Margem que consiste num happy-hour musical à beira do rio, no espaço entre o 2º e 3º galpões da EFMM. *Surgiu, e é valorado como uma manifestação cultural à altura da importância da EFMM como mito amazônico que é. *A iniciativa custou cinco meses de negociação com os proprietários das barracas, que após longas sessões de convencimento se dispuseram a arriscar e bancar a idéia que atualmente se descortina como um exemplar projeto cultural que proporciona bons momentos aos visitantes. Hoje, é possível observar que o local é freqüentado por famílias que se deleitam com a interpretação de nossos expoentes. *Acabou a “bagunça sonora” que existia anteriormente nas barracas e nos barcos!. Detalhe: não é cobrado ingresso ou couvert artístico. *ESTRUTURA *As apresentações ocorrem de 5ª a domingo das 17 às 21h em pequenos palcos montados para esse fim. Inicialmente, como forma de viabilizar e impulsionar o Projeto, o Prof. Emmanuel se dispôs a ceder o próprio equipamento de som, sem qualquer custo para artistas e proprietários. O cachê do artista é financiado pelos próprios barraqueiros que se dividem em partes iguais a cada noite. *Passados 03 meses da implantação do projeto, algumas empresas altruístas investiram e doaram parte do equipamento necessário para desenvolvimento do Projeto. *Até o momento participaram do projeto alternadamente, os seguintes artistas: GILSON MACIEL, MARCELO SANTOS, SÉRGIO NILTON, ROGÉRIO CABRAL, WALDSON PINHEIRO, BRANDO. *PERSPECTIVAS *O investimento pessoal do Prof. Emmanuel, sem meias-medidas e sem medo de errar, diria que é um bom exemplo de empreendedorismo cultural. Está provado que é possível organizar e materializar formas e modelos eficazes em benefício da coletividade das mais diversas faixas etárias. Os cidadãos apreciam bons programas. Insisto: basta dar as reais oportunidades, ofertar e facilitar manifestações culturais na hora e lugar certos, sem sobrepor interesses individualistas e escusos, e mais, sem esperar pela intervenção do Poder Público. Requer também, é claro, a participação massiva do público que será o verdadeiro responsável pelo sucesso do empreendimento. Sem ele, nada feito, então, prestigiem o Barco-Escola aos domingos e a 3ª Margem de 5ª a domingo, vale a pena!
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