*A morte violenta da doméstica Vanuza Pereira, 18 anos, na noite do último dia 04.02(sábado), no bairro São Sebastião, continua cercada de mistérios e muitas perguntas sem respostas.
*Documento lavrado pela 8ª. Delegacia Regional de Polícia Civil indica que o corpo da vítima foi encontrado caído no chão próximo ao campo de futebol daquele bairro, por volta das 21 horas, tendo sido encontrados também uma bicicleta e um par de sandálias, identificados horas depois pelo irmão da vítima como pertencentes a Carlos Celso Abreu dos Santos, 20 anos, principal suspeito do homicídio, que inclusive já teria confessado o crime.
*A violência das agressões desfigurou o rosto da vítima, razão pela qual a identificação só foi possível horas depois, quando se pensou inclusive tratar-se de outra pessoa. Vanuza então foi reconhecida por uma funcionária do hospital que informou à família, por volta da 01h00min de domingo. Depoimentos de parentes da vítima dão conta de que havia sinais visíveis de violência em todo o corpo, inclusive marcas do que poderiam ser pauladas, dentre outros ferimentos.
*Identificado, “Cerol” como é conhecido o acusado, foi encontrado dormindo em sua residência no Bairro Nova Humaitá, no lugar conhecido como “invasão”, quando então foi conduzido e apresentado por policiais militares à 8ª. Delegacia Regional por volta das 03h00min de domingo.
*Em seu depoimento à polícia, o acusado relatou que há tempo vinha recebendo provocações da vítima e que na noite do crime a encontrou na Rua Norte-Sul, no São Sebastião, onde novamente foi provocado, quando então passou a agredi-la a socos até deixá-la desacordada. E embora tenha afirmado que agiu sozinho, indícios deixam claro que poderia haver uma ou mais pessoas na cena do crime, além do acusado.
*E apesar da distância e da escuridão, Carlos Celso relatou que deixou o local e se dirigiu a pé e descalço até a sua casa, na verdade a casa da sogra onde estava residindo, cerca de 5 quilômetros de distância.
*VERSÃO DA FAMÍLIA
*A reportagem do jornal o Curumim esteve na residência da vítima, onde conversou longamente com a mãe de Vanusa, Maria José Pereira e com vários familiares que se encontravam na ocasião.
*Segundo Maria José, sua filha, que estava grávida há 2 meses, saiu ao início daquela noite, retornando em seguida. Quando já chegava em casa, inclusive já podendo ser vista por uma irmã, foi chamada pelo acusado, que teria dito a ela que seu namorado a aguardava no cemitério, próximo dali. Vanusa não mais retornaria naquela noite. A mãe, entretanto, não suspeitou que o pior pudesse ter acontecido, já que ela habitualmente saia à noite, com o namorado ou mesmo para “papear” ali próximo, com os amigos.
*Para a mãe, Vanusa que deixou 7 irmãos e um filho de apenas 2 anos de idade, foi atraída ao local do crime, por alguma razão. A mãe disse ainda que havia rumores de que o acusado alimentava esperanças de ter um relacionamento amoroso com Vanusa, muito embora, ela mesma não tenha comentado nada a cerca do assunto. Para varias pessoas que se encontravam no local no momento da entrevista, há indícios de que “Cerol” estava sob o efeito de entorpecentes, quando da ocorrência dos fatos. A mãe de Vanusa informou ainda que a filha não apresentava sinais de que usava entorpecentes.
*Desolada, Maria José Pereira, que agora, segundo a própria, assumirá a criação do neto de 2 anos, disse que espera por justiça e que os fatos sejam devidamente esclarecidos.
*O ACUSADO FALA
*A reportagem de “O Curumim” também ouviu o acusado, que deu sua versão para os fatos, admitindo que no momento “perdeu a cabeça”. Carlos Celso negou que estivesse sob o efeito de entorpecentes, mas não soube explicar porque o fato se deu fora do caminho normal que Vanusa se utilizava naquele momento para chegar a sua casa, já que afirmara anteriormente que a encontrou por acaso.
*“Cerol” relatou que naquele dia saiu para extrair açaí, juntamente com o pai, um irmão, o sogro e um cunhado. Ao retornar, prepararam o açaí na casa de seu pai, vizinho da casa da vítima. O acusado se dirigiu então até à casa de sua sogra, de bicicleta no bairro Nova Humaitá, para levar um pouco de açaí, retornando de imediato, quando então segundo ele, encontrou com Vanusa que novamente passou a xingá-lo com palavrões e outras agressões verbais. Enfurecido, passou a agredi-la. Já desacordada, “Cerol” pensou que a mesma estivesse morta, arrastando-a em seguida e deixando-a em uma vala. E apesar de conhecer a vítima desde os 4 anos de idade, o acusado parece não se abalar quando relata o episódio.
*Para o delegado titular da 8ª. Delegacia Regional de Polícia Civil, que acompanha o caso, Teotônio Rego Pereira, “há muitas dúvidas que ainda precisam ser esclarecidas”. O delegado informou que o laudo médico, fundamental para a determinação da “causa mortis”, ainda não foi concluído.
*A reportagem também ouviu o pai do acusado. Em conversa informal e que não pode ser gravada, o pai de Carlos Celso, desolado com o episódio, suspeita que “o filho tenha agido a mando de alguém”.
*DÚVIDAS
*Diante das informações desencontradas, tanto de um lado como de outro, muitos questionamentos vão surgindo à medida que as conversas se aprofundam. Por que o autor não se preocupou em fugir já que imaginou ter matado a vítima? Como uma pessoa sozinha conseguiu agir com tamanha violência? A vítima teria desmaiado o que facilitou o crime? Como o acusado caminhou de um lado a outro da cidade a pé, descalço e na escuridão? Teria ele recebido ajuda? O que justificaria um crime tão violento com requintes de crueldade? Estaria ele a mando de outro? O que estaria fazendo Vanuza sozinha, àquela altura em um lugar ermo e escuro? * O encontro foi casualidade ou a mesma teria sido atraída para o local pelo autor ou uma terceira pessoa? Trata-se de um crime passional, premeditado ou acerto de contas por alguma razão? Como uma pessoa que passa o dia inteiro subindo e descendo em açaizeiros, depois pedalando de volta à cidade, indo depois disso de um lado a outro da cidade, depois retornando, comete um crime dessa magnitude e se dirige novamente à sua casa, só que dessa vez a pé? São perguntas que pelo menos por enquanto, continuam sem resposta.