Quando se fala em pub rock hoje em Porto Velho, dois nomes vem logo na mente, Grego Original e O Informal, como pioneiros em trazer uma proposta de show ao vivo dentro de um bar, onde a acústica permite uma sonoridade alta e acachapante, com um público fiel e que busca dançar, beber, se divertir, cantar junto com as bandas que se apresentam - geralmente tocando cover de artistas consagrados.
Eu já escrevi sobre o espaço democrático da Oficina do Rock, do saudoso Heavy Ney, um point histórico também dos anos 90.
Porém, em 1997, a banda Ossos do Ofício - antes de virar Nitro -, incendiou as noites de porto-velhense com um autêntico e lapidar pub rock de raiz. Um inferninho que começava a meia-noite e ia até às 4h30 ou 05h da manhã com a banda tocando covers de bandas da época (Offspring, Rage Against The Machine, Green Day, U2, etc) e músicas próprias. Quem viveu essa época, frequentou, nunca esqueceu a apoteose de diversão e festa que era uma apresentação da Ossos num palco minúsculo, espaço pequeno e lotado.
Na época eu já era editor do Caderno 2, de variedades do jornal Alto Madeira, vivia na noite procurando espaços para poder escrever dicas de diversão. Porém, o que se viu naquele fatídico ano de 1997 foi uma revolução musical que influenciou muitas outras bandas e inflamou uma cena de rock que estava agonizando desde o fim do Festival Vídeo Rock, do Sesc Rondônia, que teve duas edições explosivas no início dos anos 90 e depois encerrou sem explicação coerente.
Dênis Carvalho, baixista da banda, foi um dos idealizadores do pub rock, que por 3 anos era o bar mais badalado de Porto Velho, pelo menos enquanto estava na Rua Gonçalves Dias, em frente a Rua Quintino Bocaiúva, no Bairro Olaria, ao lado do antigo centro esportivo do clube Ypiranga e onde antes funcionou o “Claudinho’s Bar” - depois viraria o Baco’s, point adulto de encontros pré-tinder.
Quando se mudou para a Rua José de Alencar, ao lado da igreja evangélica Assembleia de Deus começou a perder a força que tinha antes em relação ao público, no entando ainda tinha o punch da adrenalina de palco graças a força do talento musical dos integrantes da banda que naquela época tinha a sua formação mais clássica, com o Beto na guitarra solo, tão novo e um talento gigante, Rosseau Braga, guitarra e um gigante da cena roqueira local, além do Dênis, no baixo, tinha o Rodrigo “Rods” Erse, na bateria, e o Cacá Erse na percussão. A banda era uma pedrada! Sonzão!!
No ano de 2001, o pub rock Urublues fechou as portas.
Na época do pipoco, do incêndio cultural musical que o Urublues estava provocando no seu auge, no ano de 2000, eu escrevi um texto apaixonado sobre a proposta desse novo espaço do Urublues, seus idealizadores e como era uma noite de diversão com os caras.
Segue abaixo parte do texto original que eu escrevi e publiquei no Jornal Alto Madeira no dia 02 de fevereiro de 2000.
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“O novo templo do rock’n’roll na cidade já tem local, estrutura e, o que é melhor, será inaugurado nessa sexta-feira, 04. Sim meus amigos, sacudam suas cabeças, vistam a sua roupa mais transada, prepare o pico de adrenalina para a potência máxima e se concentre na música, força máxima da altivez contemplativa do ser humano, pois o novo URUBLUES será inaugurado... E com a sua atração máxima, a banda Ossos do Ofício.
Se alguém duvida de que forças positivas emanam do semblante dos integrantes da Ossos, pois enterre sua dúvidas, os largos sorrisos que desenham nos rostos felizes de Rodrigo Erse, Dênis Carvalho, Rosseau e Beto (integrantes da OSSOS), mas sócios e amigos da nova casa, deriva de um sonho há muito tempo desejado; um templo mais amplo ao rock, um local onde se pode divertir com “D” assim, maiúsculo, gigantesco. O novo URUBLUES, localizado no centro da cidade, na Rua José de Alencar, sub-esquina com a Pinheiro Machado, já detém antecipadamente como o evento mais esperado do ano e não é propaganda maniqueísta, muito menos enganosa.
JÁ É HISTÓRIA - Para quem é fã da banda, saber que o pub bar já tem o seu devido reconhecimento como divisor de águas na noite de Porto Velho. Localizado antes onde funcionava o antigo “Claudinho’s Bar”, ao lado do Clube Ypiranga, o URUBLUES começou como uma ideia louca e ao mesmo tempo necessária, de um punhado de amigos de ideais comuns, algum tempo depois, permaneceram os habituais “loucos”, e com o passar do tempo, a casa foi ganhando status de cult, a primeira a respeitar e fornecer força matriz de diversão para uma fatia da população que simplesmente ignorava os pagodes e forrós da vida.
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Com o nível técnico da banda crescendo gradualmente, assim como a entrada de Beto, na guitarra e vocal da Ossos, a coisa foi melhorando. A OSSOS começou a atingir uma faixa do mercado local carente, oferecendo uma proposta musical coerente e nem tão novidade assim nas melhores Capitais do País, mas algo inédito por aqui. Quem iria imaginar que Porto Velho teria uma banda de postura eclética estritamente rock’n’roll, apurado no que há de melhor no cenário pop? Ninguém. Como toda ação tem uma reação, ao realizar shows alternativos fora do bar pub, a banda arrebanhou uma galera de fãs que descobriu o quartel-general dos caras e intrinsicamente o URUBLUES se tornou um membro efetivo da OSSOS, cujo organismo se entrelaçou de foram sólida no seio da juventude porto-velhense, ou seja, um não vive sem o outro (...).”
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Outro dia encontrei o amigo Dênis no supermercado e em uma conversa rápida trocamos os contatos e lembramos os velhos tempos de Urublues. E graças a ele e a banda Ossos do Ofício - hoje NITRO - tive oportunidade de fazer a assessoria de comunicação no Madeira Rock Festival, em 2003, ao lado do jornalista e hoje assessor do Tribunal de Justiça de Rondônia, Adriel Diniz.
Tempos ótimos de um jornalista que ama cultura, música e, claro, um pub bar.