Documentário sobre Nazaré terá pré-lançamento durante o festival da comunidade

A diretora, Simone Norberto, apresentará o trabalho pela primeira vez aos moradores do distrito

Documentário sobre Nazaré terá pré-lançamento durante o festival da comunidade

Foto: Divulgação

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O Documentário “Nazaré Encantada”, sobre a comunidade de Nazaré, na região do Baixo Madeira, será exibido pela primeira vez aos próprios moradores do distrito, numa sessão de pré-lançamento que ocorrerá durante o Festival de Nazaré, nos dias 20 e 21 de julho. A produção, que tem direção de Simone Norberto, fotografia de Laelho Loyola, montagem de Michele Saraiva e trilha sonora do Minhas Raízes, grupo musical originário da própria comunidade, é uma homenagem à cultura ribeirinha e identidade amazônica.

 

O trabalho é resultante da dissertação de mestrado de Simone Norberto, ““Mitos e Identidade em Nazaré/RO, Uma leitura pós-colonial das manifestações culturais de uma comunidade ribeirinha”, na Universidade Federal de Rondônia- Unir, sob a orientação de Miguel Nenevé.

 

Relato da diretora

 

Desde a primeira viagem a São Carlos, distrito de Porto Velho, Rondônia, no ano de 1995, as fortes impressões sobre o mundo ribeirinho e a identificação com o universo natural e simples exerciam uma forte atração. A localidade tinha, além de pessoas com estilo de vida próprio, uma arquitetura curiosa, antiga, que aludia a um modelo seringueiro vivido pela região por algum tempo. A derrocada econômica da época dos seringais era evidente, mas a riqueza cultural advinda dessa confrontação entre grupos colonizadores e índios fez emergir uma comunidade cabocla, com características peculiares, com forte ligação com a natureza, sobretudo com o fluxo das águas. Não há como esquecer do primeiro pôr-do-sol a bordo do barco “Deus é amor”, comprimida pela paisagem exuberante, extasiada pelo acolhimento da comunidade, em pleno festejo.

Ao longo dos anos, como repórter da TV Rondônia, fiz várias outras viagens, a trabalho, daquelas que dão imenso prazer e enriquecimento. A precária situação das escolas, a dificuldade de transporte para o ribeirinho, a história do canal entre o rio Jamari e o rio Madeira, aberto manualmente para transportar a seringa, o cultivo do feijão na área de várzea, a abertura da estrada até o distrito de São Carlos/RO, o trabalho extrativista na coleta das sementes para o artesanato das biojoias, a fabricação da farinha, a construção de um barco de linha, o acesso a serviços essenciais de cidadania com a justiça itinerante, os festejos religiosos, os festivais de pesca, a beleza turística das cachoeiras e até a retirada de ribeirinhos por causa da construção das hidrelétricas do Rio Madeira, foram assuntos que de “Teotônio/RO” a “Calama/RO”, em mais de quinhentos quilômetros de margens, foram pautados, investigados, filmados, tratados, reportados em canal de veículo de massa (Rede Globo de televisão).

 

Tantos temas, tantas paixões não produziram impacto maior que a comunidade de Nazaré, a pequena localidade, onde surgiu o grupo Minhas Raízes, formado por crianças e adolescentes cantores que produzem os próprios instrumentos a partir de raízes, galhos, sementes, cocos, castanhas, cipós, enfim, produtos da floresta. As pequenas vozes naquele ambiente idílico, com clareza e determinação exibiam uma atitude diferente, firme, com propósitos definidos sobre arte, política e local na cultura.

 

Criança Esperança

 

A viagem resultou em matéria especial, apresentada pela Rede Globo, em transmissão nacional, durante o programa Criança Esperança de 2005. E depois exibida num telão no terreiro central da comunidade durante a chamada “paragem cultural”, como uma contrapartida para a comunidade que pôde se ver ou rever no vídeo. O evento promovido pelo grupo Minha Raízes é mais uma faceta da proposta artística identitária que nos últimos anos vem brotando na comunidade.

 

Esse movimento, perceptível para quem se interessa pela cultura dentro de uma visão mais ampla e integradora, produz uma mudança significativa no cotidiano da localidade e desperta um forte sentimento de pertencimento nas pessoas que ali vivem. Isso é tão verdadeiro quanto óbvio, ao ponto de estarem abertas para a proposta de uma nova investida documental, mais profunda e abrangente, a fim de observar melhor essa transformação e de recuperar tradições que os próprios ribeirinhos passam a considerar importantes.

 

Como as canções do grupo Minhas Raízes estavam repletas de temas e motivos sobre mitos ribeirinhos, eles poderiam ser a ponte para a conexão com a comunidade. A partir de narrativas sobre os mitos, se poderia buscar toda uma visão de mundo, atitude de vida, relações humanas e políticas, além da revelação de uma identidade, ou muitas.

 

A proposta foi aceita por vários narradores, pessoas de várias idades, papéis e posição na comunidade e que se dispuseram a falar sobre suas vidas, 13 vivências, impressões, bagagens, tradições, práticas, costumes, que acabaram por mostrar muito além das origens e maneira de lidar com a existência e a condição do ribeirinho.

 

Coletar, registrar e perpetuar tais narrativas são práticas literárias. E ainda mais, investigá-las e analisá-las são exercícios de estudo científico. Daí a proposta de se captar em vídeo a visão de mundo de um grupo de Ribeirinhos e, a partir de uma transcodificação de linguagem, tentar mapear a mitologia nela contida.

 

É necessário destacar o caráter multidisciplinar da pesquisa que tem uma forte intersecção com o campo da comunicação. Por ser jornalista, com atuação em produções de etnodocumentário, a metodologia de coleta do material é impregnada dessa experiência. As narrativas, portanto, foram colhidas mediante entrevistas com a população.

 

Minhas Raízes

 

Foi fundamental a mediação valorosa de Timaia Nunes Maciel, músico e produtor cultural, diretor do Grupo “Minhas 14 Raízes”, uma espécie de ícone cultural em Nazaré. Essa colaboração foi relevantíssima na relação pesquisador/pesquisado e também no esclarecimento de vários pontos dos usos e costumes de Nazaré.

 

Os depoimentos foram colhidos, na maioria, em janeiro de 2011; ao todo, vinte cinco pessoas concederam entrevistas, algumas delas, duas vezes. O trabalho de documentação digital não se ateve aos depoimentos, pois a intenção era fazer um documentário sobre Nazaré; por isso, a paisagem, cotidiano, elementos da comunidade também foram captados em tomadas nas várias viagens feitas à localidade. O propósito atende ao compromisso firmado com os narradores que têm pouco ou nenhum acesso à produção acadêmica. É a contrapartida da pesquisadora para com a comunidade.

Pós-colonial

No total, foram dezessete horas de gravação. A transcrição das narrativas resultou em cento e dez páginas de depoimentos, depois separados por temáticas e analisados à luz da teoria pós-colonial e agora transformados no documentário “Nazaré Encantada”, no qual os narradores, iluminam com suas experiências de vidas, impressões, visões de mundo, a montagem proposta. Afinal, são os atuais personagens detentores do conhecimento das tradições míticas, valorizando a memória e oralidade do povo.

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