Rondon: Do sertão às usinas - Por Walfredo Tadeu

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Foto: Divulgação

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Uma história de coragem e luta pelo progresso

Em 1907, o oficial do corpo de engenharia militar, Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, foi encarregado pelo Governo Federal para a implantação da linha telegráfica entre os Estados do Mato Grosso (MT) e Amazonas (AM). Os pontos extremos eram as cidades de Cuiabá-MT e Santo Antônio do Rio Madeira, a sete quilômetros da atual capital de Rondônia, Porto Velho. Para cumprir sua missão com excelência, Rondon, ainda tenente coronel do Exército, dividiu os trabalhos em três etapas e as denominou “expedições”.

A primeira começou em 02 de setembro de 1907, tendo como ponto de partida a região de Diamantino, no Mato Grosso. Após primeiros 74 quilômetros da expedição, Rondon e seus homens encontraram um grande desafio: os índios. O militar usou métodos humanitários na pacificação e fazia toda a tropa expedicionária ser subordinada ao lema: “morrer, se preciso for, matar nunca”.

De 29 de julho a 03 de novembro de 1908, ocorria a segunda expedição, um pouco mais arriscada que a primeira. Alguns homens, amedrontados pelos índios ferozes, deixaram a tropa e foram chamados por Rondon de ‘soldados de espírito fraco’. Entre Juruema e Serra do Norte, ambas no Mato Grosso, a expedição ergueu 1.653km de linha telegráfica.

Em 1909 aconteceu a mais famosa das expedições de Rondon, quando ele avançou todo o sertão do atual Estado de Rondônia. A travessia durou 237 dias, com dificuldades maiores na última etapa da missão, devido às emboscadas armadas pelos índios que chegaram a matar um soldado. Em outubro do mesmo ano, os expedicionários descobriram um rio de 50 metros de largura, o qual Rondon batizou como ‘Rio Pimenta Bueno’. O general Rondon chefiava uma comitiva de vinte e oito homens, que muitas vezes não tinham nem o que comer.

Até que em 25 de dezembro a expedição chegava, finalmente, ao seu objetivo: Santo Antônio do Rio Madeira, com 2.232km de linha levantada. Entusiasmado, Mariano Cândido da Silva Rondon discursa:

“Assim findou a nossa peregrinação, de 8 meses através dos sertões do nordeste mato-grossense. Uma exploração realizada sob os auspícios do santo amor à Pátria. Não fôramos mantidos por este sublime sentimento, não teríamos energia moral suficiente para suportar tão grandes choques e das privações de toda a sorte que nos atormentaram a travessia”.

O último poste de linha telegráfica foi implantado somente em 1915, ano em que foi esticada a última roldana de fio. Outras expedições foram feitas até os rios Jamary, Anary e Machadinho, rio das Dúvidas, Ji-Paraná ou Machado e Jacy Paraná.

Homenagem recusada

O ano era 1943, mais precisamente em 13 de setembro, no Palácio do Catete, foi assinado o decreto-lei 5.812, de criação do Território que seria implantado com áreas desmembradas dos Estados do Mato Grosso e Amazonas. Houve corrida pelo nome do Território, até que por sugestão do ministro de Viação e Obras Públicas, Mendonça Lima, veio a ideia do nome Rondônia, em homenagem, claro, ao Marechal Rondon.

Ao saber da indicação, Rondon, de acordo com historiadores, recusou a homenagem. Diante disso, outros nomes foram sugeridos: Minas Novas, Urucumacuan, Madeira e, finalmente, Guaporé. O nome Rondônia só veio mais tarde, pela Lei 2.731 de 17 de fevereiro de 1956, por meio de um projeto de um deputado amazonense Aureo Bringell de Melo.

A forma cruel com a qual tratava seus subordinados, o fato de ter negado prestação de contas da linha telegráfica e recusado a homenagem do nome Rondônia, não tira de Cândido Mariano da Silva Rondon, o mérito de um dos maiores pioneiros deste Estado e grande personalidade no início do século.

Nascido em 1855, Rondon ascendeu, ainda na juventude, aos maiores postos de hierarquia militar, por reais méritos. Foi escolhido “Patrono das Comunicações”, recebeu o título “Civilizador dos Sertões” e, em 1953 foi lançado candidato ao Prêmio Nobel da Paz.

E.F.M.M

Com obras executadas entre 1907 e 1912, a história de Rondônia é impulsionada pela construção da primeira grande obra de engenharia civil estadunidense, fora dos Estados Unidos: a Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM). A ferrovia foi a 15ª a ser construída, no Brasil, com uma extensão de 366 quilômetros, em plena selva amazônica, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim, cidades fundadas pela EFMM.

Foram duas tentativas (Public Works e P.T.Collins), além de duas desistências frustradas (Dorsay, Baldwin & Caldwell e Red&Brothers Co.) para a construção da EFMM, no século XIX. Espalhou-se o mito de que mesmo com todo o dinheiro do mundo, somado a metade de sua população trabalhando nas suas obras, seria impossível construí-la. O empreendedor Percival Farquar aceitou o desafio e teria ainda afirmado: “será o meu cartão de visitas”.

A construção do parque ferroviário exigiu a contratação de funcionários especializados, como carpinteiros, ferreiros, soldadores, mecânicos e principalmente braçais. Esses funcionários, no caso os barbadianos, por necessidade de ficarem próximos do local do trabalho, foram se fixando em volta do parque ferroviário.

Caixas D’água: Um marco na história

As “Três Caixa´s D’água”, também chamadas de “Três Marias”, foram projetadas e construídas pela empresa americana Chicago Bridge & Iron Works, na praça que fica no centro de Porto Velho, e que leva o mesmo nome. A primeira caixa d’água foi erguida em 1910, e as outras duas em 1912. A capacidade de cada reservatório é de 200.000 litros que, até 1957, abasteciam a capital, funcionando por ação da gravidade.

O historiador portovelhense, Walfredo Tadeu Vieira da Silva, o “professor Tadeu”, conta que não menos importante que a EFMM, a construção das três Caixas D’água foi um marco na história da engenharia em Rondônia, particularmente em Porto Velho. Uma obra semelhante, só existe na Malásia.

A construção foi erguida com base nas informações contidas em placa de ferro fundido, cravadas nas pilastras de cada uma delas. São três tanques de forma cilíndrica, cobertos com chapas de metal de forma cônica, e a base em formato côncavo. Cada tanque está elevado do chão por quatro colunas de ferro feitas em treliça sobre fundação de concreto. Estão circundados à altura do bojo, por uma passarela com parapeito metálico de treliça, com acesso por escada.

“É uma engenharia excepcional. As caixas d’água foram montadas no arrebite, com peças transportadas dos Estados Unidos, com alto grau de dificuldade técnica. Ainda no entorno, não podemos deixar de citar as casas do bairro Caiari, o primeiro conjunto habitacional planejado de Porto Velho. Na década de 50, outras obras importantes surgiram, como o Palácio Getúlio Vargas e o Porto Velho Hotel (atual Unir-centro), erguidos sob o comando do Eng. José Otino de Freitas. Todos são monumentos históricos e arquitetônicos de raríssima beleza, do período pós 2º ciclo da borracha” disse o professor Tadeu.

Catedral Sagrado Coração de Jesus

O local escolhido, em 1917, para a construção da Catedral Sagrado Coração de Jesus, corresponde hoje ao extremo leste do Bairro Caiari. Na época, o próprio arcebispo Joffily, foi o responsável pela sua construção. A primeira missa, realizada em uma Capela Provisória, foi celebrada pelo padre Antônio Carlos Peixoto, na manhã de 10 de novembro de 1926, com a ajuda do Prefeito Municipal, Prudêncio Bogéa de Sá.

Em agosto de 1927, o padre Peixoto, até então secretário geral da Prelazia de Porto Velho, delegou poderes a uma comissão formada por: Bogéa de Sá, como presidente; Francisco Alves Erse, engenheiro da EFMM e José Centeno, comerciante, que administraram as obras da construção de um novo templo. Já em 26 de setembro de 1927 foi iniciada a abertura das covas dos alicerces da nova Catedral.

As dificuldades eram grandes, mesmo com o apoio direto da sociedade e autoridades locais. Outro nome importante neste cenário é o do padre João Nicoletti, que foi homenageado ao ter seu nome atribuído à praça do Paço Municipal, em frente à Catedral. Nicoletti tem seu túmulo no interior do templo.

As telhas para a cobertura chegaram a Porto Velho em 8 de janeiro de 1929, a bordo do navio Madeira Mamoré. Foram transportadas desde o porto até o local da obra, por marinheiros e habitantes da cidade. As pinturas originais de cunho religioso, no interior da Catedral, foram executadas pelo Pe. Ângelo Cerri e por Afonso Ligório. Os vitrais que a circundam, com temas da Via Sacra, foram todos doados pela comunidade portovelhense. Modernamente, a artista Rita Queiroz fez algumas restaurações e incluiu uma obra sua. Nesse período inicial foi construída apenas a parte de hoje corresponde à nave central e o campanário. Somente a partir de 1945 foram feitas obras de expansão, dando origem ao novo alta e suas laterais.

Colonização

A população crescia em ritmo acelerado, motivado pelo contínuo fluxo migratório, proveniente de todas as regiões do Brasil, especificamente para o eixo da BR-364, onde se estabeleceram núcleos de colonização agrícola, assim como para o Vale do Alto Madeira, onde o garimpo também atraia multidões. Crescia assim o anseio pela criação do Estado de Rondônia, até então Território Federal do Guaporé, que nasceu com quatro municípios, depois agrupados em dois (Porto Velho e Guajará-Mirim). Em 1975 foram criados mais cinco municípios: Cacoal, Ariquemes, Rondônia Pimenta Bueno e Vilhena, todos às margens da BR-364.

Nesse período, o Brasil amargurava os efeitos negativos de uma política recessiva e inflacionária, que gerava desemprego e desestabilização social. Rondônia vivia, então, uma fase de intensa prosperidade e desenvolvimento. Nas manchetes nacionais era anunciada como o novo Eldorado, uma terra promissora e de fartura.

Com o crescimento demográfico, aumentaram consequentemente as receitas, o que movimentou a economia. Agricultura e pecuária se desenvolviam, e no cenário nacional o que se dizia era que se tratava do novo celeiro do Brasil. A pecuária bovina ganhava impulso e consideráveis florestas eram devastadas para a formação de pastos e em benefício da indústria madeireira. Porto Velho, capital do Estado, teve sua criação oficializada em 2 de outubro de 1914.

Destemido pioneiro

Encantado com as chances de um futuro promissor no mais novo estado da federação brasileira, o engenheiro civil Antônio Figueiredo chegou a Porto Velho em 1982, junto com centenas de outros migrantes oriundos de diversas regiões do país. Todos tinham um sonho em comum: construir uma vida e um futuro melhor.

Vindo do interior de São Paulo, mais precisamente São José do Rio Preto, o engenheiro chegou à Rondônia quando o país atravessava uma forte crise e altos índices de desemprego. Contrariando o que acontecia no restante do país, Rondônia crescia vertiginosamente e, logo, era vista por muitos brasileiros como uma terra promissora.

Desafios e conquistas fizeram parte da vida do engenheiro Antônio Figueiredo, ao longo dessas três décadas. “Quando cheguei, as dificuldades eram maiores no sul do país. Viemos em busca de crescimento profissional e aqui estou com minha família há mais de 30 anos”, afirma Figueiredo.

Em 1986 ele fundou sua empresa de engenharia, e teve como primeiro desafio a abertura de estradas vicinais nas localidades de Jarú e Ariquemes. Tratava-se de uma mata densa, encravada no coração da selva Amazônica. A rotina da equipe de trabalho envolvia a marcação do eixo da estrada, junto com um grupo de topógrafos. Feita a marcação, as máquinas abriam a estrada.

“Fico feliz ao contar essa história, pois somos pioneiros do progresso. Estrada é progresso”, enfatiza Figueiredo, que tem registro n° 015, no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (CREA-RO). Sua esposa, Vera Aparecida de Oliveira Figueiredo, também engenheira civil, tem o registro de n° 014.

Na mesma época, chegaram a Rondônia muitos profissionais, engenheiros, de diversas regiões do Brasil, e que se instalaram não só na capital, mas em cidades do interior do Estado. Figueiredo conta que havia uma grande carência de habitação, e com o aumento da população as moradias não eram suficientes. Não se construía infraestrutura urbana e até os serviços de telefonia eram precários.

A empresa de Figueiredo é pioneira na execução de obras de saneamento, além de sistemas de captação de água e esgoto. Obras que, embora demandassem grandes desafios técnicos, significaram conquistas para a população.

Figueiredo considera que os profissionais e membros do Sistema Confea/CREA-RO e Mútua, são parte do desenvolvimento do Estado de Rondônia, da construção da cidade de Porto Velho e do progresso que chegou por aqui, com abertura de estradas e crescimento das cidades que ficam às margens da BR-364.

“O CREA-RO é símbolo de atuação e vanguarda nas necessidades primárias de infraestrutura em Rondônia. Muito ainda há que se fazer, pois Rondônia é um estado novo, carente de políticas públicas e gestores comprometidos com as causas mais urgentes, como saneamento básico. A carência de profissionais ainda é um ponto desfavorável, mas com a chegada das Usinas do Madeira, essa realidade também já começou a mudar”, disse Figueiredo.

Usinas: Novíssima Colonização

As usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, ambas construídas no Rio Madeira, em Rondônia, com verbas do Governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As licitações aconteceram em dezembro de 2007 e maio de 2008, respectivamente.

As obras trouxeram à tona questões do ecossistema, ao direito das populações nativas afetadas, às alterações nos parâmetros hidrológicos e outras consequências que atestam a vulnerabilidade ambiental, social e econômica da região onde esses grandes empreendimentos estão sendo implantados.

Porto Velho está ao norte do estado e apresenta precárias condições sanitárias, principalmente na área rural. O ingresso de milhares de trabalhadores das obras civis das UHE do Rio Madeira, agravou ainda mais as condições de saúde da população local. Os impactos ambientais, sociais e econômicos não se restringem à vizinhança da capital, uma vez que alteram regionalmente as condições de vida e o fluxo migratório de Rondônia.

Faltando pouco para a conclusão das obras, a sociedade questiona que o poder público não cumpriu com rigor a fiscalização, a aplicação dos recursos advindos dos empreendimentos e, principalmente, o cumprimento parcial das medidas sócio-ambientais compensativas.

O historiador Walfredo Tadeu afirma que as opiniões sobre as usinas são muitas, mas que cabe ressaltar que os benefícios, teoricamente, são maiores que os custos. Os pontos considerados negativos existem e são evidentes, mas não restam dúvidas de que a cidade de Porto Velho, em particular, sofreu transformações positivas relevantes.

“Podemos citar a verticalização da capital, o surgimento de condomínios planejados, maior oferta de emprego, qualificação da mão de obra, implantação de novas empresas e melhora na prestação de serviços. Os economistas inclusive atestam que houve um aumento na renda média do trabalhador”, afirma o professor Tadeu.

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