Não importa se sua maior aventura a bordo do Renegade seja subir ao piso mais elevado do estacionamento de um shopping center ou se você realmente tem pretensões de cruzar o País com o carismático - e também brasileiro! – utilitário esportivo compacto da Jeep. O que realmente importa, pelo menos para a montadora, é que ele esteja na sua lista de desejos.
Convenhamos que não é difícil isso acontecer, certamente porque o produto é muito atraente, mas também porque uma agressiva campanha de mídia vem fazendo (desde sua aparição em outubro no Salão do Automóvel de São Paulo) que nós vejamos os faróis e as sete fendas do jipinho – marca registrada da montadora – em quase tudo que nos cerca. Por isso, ele conseguiu virar assunto de salão de cabeleireiro à mesa de bar em um ano em que o Brasil vai mal das pernas economicamente e que o dólar está mais alto que o telescópio Hubble.
O terreno foi cuidadosamente preparado pela Jeep para a chegada do rebento. A marca ergueu em Goiana (PE) a mais moderna fábrica do mundo do Grupo FCA - fusão da Fiat com a Chrysler - para produzir o jipinho e expandiu a rede de concessionários no Brasil de 45 lojas no ano passado para 120 em março deste ano (até o fim do ano serão 200 revendas Jeep no País).
Cabe no bolso?
Após dirigirmos as versões do Renegade entendemos porque Sérgio Ferreira, diretor geral da Jeep América Latina, diz de boca cheia querer liderar o segmento de SUVs no País. O modelo chega às concessionárias em 10 de abril com preços que vão direto na jugular da concorrência. Dá para ter na garagem a versão Sport 1.8 flex com câmbio manual de cinco marchas,. A intermediária Longitude não tem opção manual.
A novidade mesmo é a motorização 2.0 turbodiesel com tração 4X4 e reduzida, sempre acoplado a um câmbio automático ZF de nove marchas - herdado do Cherokee. Aqui temos duas estreias: primeiro câmbio de nove marchas na categoria de utilitários esportivos pequenos e primeiro carro nacional a trazer a motorização diesel para o segmento. O motor é oferecido para a versão Sport e Longitude, e opção única para a Trailhawk. A marca diz ainda que lançará, em três meses, uma versão mais barata.
Não sou igual aos outros
Preços postos à mesa podemos “viajar” neste jipinho, no sentido não literal da palavra. Digo isso, pois deve ter sido muito divertido trabalhar no design do Renegade e poder fazer uma leitura moderna de um clássico do passado. Claro que ele está longe de ter a capacidade bruta daquele veículo fora de estrada simplista que nasceu em 1941, o Jeep Willys MB, mas a marca soube explorar suas referências de estilo e o resultado foi um Jeep “a là 2016” ostentando os faróis redondos e as sete aberturas na dianteira, com forte apelo emocional.
Aposto que crianças e marmanjos irão se divertir igualmente procurando cada detalhe que faz referência ao bom e velho Willys dentro e fora do Renegade. Há “carinhas de jipe” espalhadas por toda a parte, o desenho de um mapa do deserto de Moab na borracha que forra o console, o “X” que remete aos galões de combustível antigos nas lanternas e no teto removível, a figura de um jipinho desbravando a borda do para-brisa, entre outros detalhes. Batizadas de “easter eggs” (ovos de páscoa), as figuras servem para lembrá-lo o tempo todo que se está a bordo de um Jeep, afinal o acabamento impecável da cabine te faz ter certeza que está em um carro de passeio (dos bem descolados, confesso).
Desde a versão mais simples há freio a disco nas quatro rodas, controle de tração e estabilidade, freio de estacionamento elétrico e direção com assistência elétrica, como no recém-lançado HR-V. Os materiais empregados na cabine são de qualidade e têm toque suave e emborrachado, como no vulgo “PQP”, aquele apoio para o passageiro presente nos carros off-road.
O habitáculo é tão jovial quanto a parte externa do jipinho. Segundo a Jeep, as saídas de ar centrais lembram óculos escuros de marcas esportivas e, para a opção Trailhawk há um teto solar duplo removível. Ele é diferente do teto panorâmico em vidro (oferecido como opcional) pois, além de ter acionamento elétrico para a porção frontal, pode ter as duas peças retiradas com o auxílio de uma chave. Depois, basta acomoda-los em bolsas que vem junto com a versão, específicas para guardar os painéis de poliuretano e fibra no porta-malas.
Jipinho hi-tech
Sobra tecnologia no Renegade, a começar pelo sistema multimídia que oferece duas opções de telas coloridas de 5 ou 6,5 polegadas, com conexão Bluetooth, comandos de voz, navegação GPS e tudo que um carro moderno tem direito. Este recurso está disponível como opcional na versão Sport e vem de série nas demais.
No quadro de instrumentos (muito bonito por sinal), há uma tela colorida multifuncional de TFT de 7 polegadas configurável, que permite acessar diversas informações sobre o carro. Outro destaque é que o Renegade será o primeiro veículo fabricado no Brasil a ter o sistema Park Assist de estacionamento autônomo, que fará a alegria dos preguiçosos da baliza.
Um item bem útil que vem de série na versão top de linha é uma tomada de 12 V na fileira traseira, dá pra ligar a furadeira, o laptop ou o secador de cabelos. Nas duas versões mais caras também pode-se instalar o sistema de áudio Beats, da Apple, com nove falantes e potência de 506 watts. Ao todo, são 60 combinações de opcionais e 71 acessórios.
É apertado por dentro?
O espaço para os ocupantes me surpreendeu positivamente. São 4,23 metros de comprimento e 2,57 m de entre-eixos. Quatro adultos viajam com conforto mas, se houver um terceiro ocupante no banco de trás, ele conta com cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça. A caixa de roda não atrapalha o acesso ao banco traseiro como na Pajero TR4, por exemplo.
Já o porta malas oferece míseros 260 litros de capacidade, o que decepciona qualquer mulher com filhos que vai ansiosa conferir o compartimento de carga. Estas, talvez, prefiram o HR-V, com seus 462 litros, melhor até que o EcoSport, com 332 litros de capacidade. Contudo, a Jeep implantou recursos como o banco do passageiro dianteiro com porta-objetos debaixo do assento e com encosto rebatível, além do assoalho 2 em 1 no piso do porta-malas. De um lado a peça é revestida de tecido e, do outro, de vinil, para facilitar a limpeza.
É seguro?
Pontos Isofix para fixação de assentos infantis, faróis de neblina e sensores de estacionamento traseiro estão presentes em todas as versões. Repetidores laterais nos retrovisores também são de série desde a versão Sport. Um dos pacotes de opcionais, o Safety, adiciona ainda airbags laterais, de cortina e de joelhos (totalizando sete bolsas de proteção) e sistema de monitoramento da pressão dos pneus. Na Europa, ele recebeu 5 estrelas nos testes de colisão realizados pelo Euro NCAP.
Flex ou Diesel? Qual deles vale mais a pena?
O Renegade é um carro pesado, são 1.432 kg para a versão equipada com motor flex e 1.629 kg para o diesel. O peso justificou seu desempenho limitado na versão flex e em contrapartida surpreendeu pelo bom rendimento da versão diesel. Começando pela flex, o motor 1.8 16V E.torQ quando abastecido com etanol, manteve a potência de 132 cv, mas ganhou mais força em baixas rotações. O torque subiu de 18,9 para 19,1 kgfm e passou a chegar mais cedo, aos 3.750 giros (antes, era a 4.500 rpm).
Para ficar mais “espertinho”, o propulsor recebeu diversas melhorias, mas mesmo assim a sensação foi que faltou fôlego durante o teste drive, realizado exclusivamente em perímetro urbano. Não sabemos ainda como é seu desempenho na estrada, mas se imaginarmos uma situação de viagem com o carro cheio, por exemplo, o dinheiro investido a mais pela versão a diesel poderia fazer diferença.
Partindo dos R$ 99.900, a versão turbodiesel equipada com o 2.0 MultiJet II promete ser a mais potente e econômica do mercado. São 170 cv entregues aos 3.750 giros e 35,7 kgfm já aos 1.750 rpm. Importado da Itália, o propulsor faz o Renegade ir do 0 aos 100 km/h em menos de 10 segundos, chegando aos 190 km/h de velocidade máxima. Ele entrega o que se espera de um motor com tais especificações, porém, com vibração e ruído extremamente reduzidos. Só nos lembramos que estamos dirigindo um carro a diesel quando o motor está girando em baixas rotações. Senti que o câmbio automático de nove marchas poderia ter uma calibração mais afinada, com trocas mais ágeis, mas ele tem um papel importante na economia, fazendo o motor girar na casa dos 1.700 rpm a 120 km/h. Segundo a marca, a autonomia – o tanque comporta 60 litros - permite que se vá do Rio de Janeiro a São Paulo e volte, sem parar para abastecer (feito que o iG Carros quer comprovar em breve).
Mais valente do que parece
Convenhamos que a aventura está mais nas propagandas e no imaginário das pessoas do que na leva de “jipinhos urbanos” que está sendo despejada no mercado. Para provar que com o Renegade é diferente, a Jeep preparou uma trilha off-road com erosões, poças de lama e pirambeiras na cidade de Niterói (RJ) e o Renegade se saiu muito bem. Optei por não dirigir no percurso a versão Trailhawk, aquela com suspensão elevada em 2 cm, rodas aro 17, pneus de uso mistos e uma série de apetrechos off-road exclusivos. Preferi a versão Longitude equipada com motor a diesel e tração 4x4, deixei a dó de lado e acelerei o jipinho com muita vontade na terra.
Embora ele não tenha construção de carroceria sobre chassi como um Suzuki Jimny, por exemplo, o monobloco mostrou-se muito rígido e robusto para aguentar o tranco. Fiquei muito satisfeita com seu desempenho off-road – mesmo com pneus e suspensão voltadas para uso urbano. Não sabemos, a longo prazo, quanto ele aguenta, mas em matéria de valentia na terra o Renegade deixa o HR-V, o EcoSport e o Peugeot 2008 no chinelo. Talvez o Duster 4x4 seja o que mais se aproxime dele neste quesito.
Para acionar a tração, basta apertar um botão no painel com o carro em movimento mesmo. Seu sistema 4x4 consegue enviar até 200 kgfm de torque para as rodas traseiras, se for preciso, para otimizar a aderência e também pode aliviar a transmissão quando a tração nas quatro rodas não é necessária, gerando economia de combustível. Ele possui o sistema Select-Terrain, onde o motorista escolhe entre os modos auto, areia, lama e neve. Para a versão Trailhawk há ainda a opção Rock.
Eu compraria um Renegade porque...
Entre outras qualidades, o ajuste da suspensão é excepcional, e agradou tanto na terra quanto no asfalto. A dianteira é do tipo McPherson com a adoção de amortecedores bipartidos (uma inovação). A traseira também é McPherson, porém com molas helicoidais e amortecedores montados na parte superior. Na prática, o conjunto não deixa transmitir aos ocupantes a buraqueira do asfalto e minimiza muito o “pula-pula” na terra.
Em curvas de alta velocidade a carroceria apresentou pouco rolamento, outro ponto positivo. A excelente posição de dirigir e a direcão levinha, mesmo em situações extremas na terra, também me fariam assinar o cheque.
Vai vender?
Um dado interessante e que responde a esta questão são as 25 mil pessoas inscritas no site da Jeep, interessadas em adquirir a novidade. Embora a marca não revele o volume esperado de vendas, para que ele seja o líder deve ultrapassar as 50 mil unidades – o EcoSport emplacou 54 mil em 2014. Para sustentar tamanha ambição, Ferreira estima que novos consumidores migrem de segmentos como o de sedãs e hatches médios. O executivo acredita que 75% das vendas sejam da versão Longitude 1.8 flex 4x2.
Fórmula anti-chatice
A Jeep, pela primeira vez, está apoiada em uma base sólida no Brasil, com uma rede ampla e uma fábrica moderna, e o Renegade tem diversas qualidades para liderar o (cada vez mais populoso) segmento de SUVs compactos. Sobretudo, por ser ele ser um carro diferente, descolado, e ter construído uma imagem perante o público quase que como um antídoto contra a chatice que tem se tornado dirigir nas grandes cidades.
O ponto é que a Jeep conseguiu oferecer um produto com preço competitivo perante a concorrência, que se adequa tanto a um cenário inóspito, quando ao estacionamento do supermercado mais próximo. Vamos esperar para ver, mas nos