O Congresso Nacional aprovou a criação do Exame Nacional de Proficiência em Medicina, medida que estabelece uma avaliação obrigatória para que médicos recém formados possam exercer a profissão no Brasil. Apelidada de “OAB da Medicina”, a prova passa a funcionar de forma semelhante ao exame aplicado aos bacharéis em Direito e marca uma mudança histórica na área da saúde.
A decisão surge em meio ao crescente debate sobre a qualidade das escolas médicas, que se multiplicaram nas últimas décadas, muitas vezes sem estrutura adequada, corpo docente com qualificação baixa, falta de hospitais de ensino ou estágios insuficientes. A nova regra pretende elevar o padrão da formação médica e garantir que os profissionais ingressem no mercado com competências mínimas para atuar.
Um marco para a saúde brasileira
A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou o projeto de lei que estabelece a obrigatoriedade de aprovação no Exame Nacional de Proficiência em Medicina (ProfiMed) para médicos recém-formados. O PL que ainda precisa ser votado pelo Senado e pela Câmara de Deputados vem com 7 pontos que mudará a formação médica no país.
A medida é considerada um divisor de águas no sistema de ensino médico. Para muitos especialistas, o exame não resolve todos os problemas estruturais, mas representa um avanço importante na proteção do paciente e na valorização da profissão. Para outros, o desafio agora será garantir que o modelo seja justo, técnico e acessível.
Com a aprovação, o Brasil caminha para um sistema de certificação profissional mais rígido e para médicos cada vez mais bem preparados.
Como vai funcionar o Exame de Proficiência
O modelo aprovado prevê um exame dividido em duas etapas, inspirado em avaliações internacionais e no formato da OAB:
1. Prova Teórica Nacional
– Abrangerá conteúdos essenciais da formação médica: clínica geral, cirurgia, pediatria, ginecologia e obstetrícia, saúde pública, urgência e emergência.
– Será aplicada de forma padronizada em todo o país, provavelmente por um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) ou ao Ministério da Saúde.
– Funcionará como filtro inicial para verificar se o estudante domina a base científica da medicina.
2. Prova Prática / OSCE
– Consiste em estações práticas simuladas, nas quais o candidato precisa demonstrar habilidades clínicas, interpretação de exames, capacidade de comunicação e tomada de decisão.
– É o formato mais usado em conselhos médicos internacionais para avaliar competência real.
– Só será autorizado a atuar quem for aprovado nas duas fases.
Quando passa a valer?
A regulamentação ainda depende de ato do Executivo, mas a previsão é que o exame comece a ser aplicado nos próximos anos, com período de transição para estudantes que já estão no curso de Medicina.
O diploma deixa de garantir o exercício da profissão
Assim como acontece na advocacia, o diploma de médico não será mais suficiente para garantir o registro profissional. Somente após a aprovação no exame o recém-formado poderá obter o registro no Conselho Federal de Medicina (CFM) e atuar legalmente.
Por que a medida foi aprovada?
A expansão acelerada das faculdades de Medicina levantou preocupações em todo o setor. Hoje, o Brasil ultrapassa 380 cursos um dos maiores números do mundo e especialistas apontam falta de infraestrutura de ensino, poucos leitos para prática clínica e baixa qualidade em instituições privadas recém-instaladas.
A criação do exame busca:
• Elevar o padrão mínimo de formação;
• Proteger a população de erros graves decorrentes de má formação;
• Forçar melhorias nas escolas médicas, que passarão a ser avaliadas indiretamente pelo desempenho de seus alunos;
• Evitar a saturação de profissionais mal preparados.
O que muda para os recém-formados
A partir da implantação do exame, os novos médicos terão um caminho semelhante ao de outras carreiras regulamentadas:
• Conclusão do curso;
• Aprovação nas duas etapas do Exame de Proficiência;
• Registro profissional;
• Apenas então poderão ingressar na residência médica ou atuar imediatamente.
Cursos preparatórios já começam a se organizar, prevendo um novo mercado de formação continuada para a “Prova da Medicina”.