A imagem da Amazônia como um “inferno verde” inóspito e pouco habitado, repetida por séculos, vem sendo definitivamente desmontada pela ciência. Nas últimas décadas, a arqueologia amazônica passou por uma verdadeira revolução, revelando que a maior floresta tropical do planeta foi lar de sociedades numerosas, complexas e tecnologicamente avançadas.
Pesquisas recentes mostram que, antes da chegada dos europeus, a Amazônia teria sido ocupada por 8 a 10 milhões de pessoas, distribuídas em cidades, aldeias interconectadas e territórios manejados de forma sustentável. Esses povos desenvolveram sistemas agrícolas sofisticados, transformaram o solo como no famoso “terra preta” e criaram elaboradas redes de interação cultural.
O avanço das pesquisas também ampliou a compreensão sobre a profundidade histórica da região. “Sabemos hoje que a presença humana na Amazônia remonta há pelo menos 13 mil anos. A região foi um centro independente de domesticação de plantas. Diversas plantas importantes foram cultivadas pela primeira vez lá. As primeiras cerâmicas das Américas também foram produzidas lá", explica o antropólogo Eduardo Góes Neves, professor titular e diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP).
Essas descobertas reforçam que a Amazônia pré-colonial não era uma terra vazia, mas um vasto território moldado por populações que construíram paisagens, desenvolveram tecnologias próprias e deixaram marcas profundas na biodiversidade e na organização dos ecossistemas.
A revolução arqueológica em curso amplia o entendimento sobre o passado da maior floresta tropical do mundo e provoca uma reinterpretação da história do continente. Hoje, pesquisadores defendem que a Amazônia deve ser compreendida não apenas como um bioma natural, mas também como um espaço cultural, profundamente transformado por milênios de ocupação humana.