A GAROTA DA AGULHA: Nosso maior concorrente ao Oscar de Melhor Filme Internacional é uma obra prima - Por Marcos Souza

 A GAROTA DA AGULHA: Nosso maior concorrente ao Oscar de Melhor Filme Internacional é uma obra prima - Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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Realizado em preto e branco e com uma temática baseado em uma história real, o filme dinamarquês “A Garota da Agulha” (Pigen med Nalen/2025) já está disponível na plataforma de streaming da curadoria Mubi. 
 
Realizado pelo ótimo e jovem diretor sueco Magnus von Horn, que assina o roteiro junto com Line Langebek Knudsen, esse é um filme impactante, perverso, asqueroso, perturbador, visceral e o melhor já feito com estética do expressionismo alemão mais recente. Desde o filme “O Farol”, do diretor Robert Egger, eu não via algo tão sombrio.



 
“A Garota da Agulha”, está na lista dos concorrentes para o Oscar de Melhor Filme Internacional este ano, junto com o francês “Emília Perez” e o brasileiro “Ainda Estou Aqui”. E acredite, esse filme dinamarquês é uma pedrada cinematográfica sublime, pois bebe em fontes dramáticas do expressionismo alemão, como forte referência – com sequências belíssima no enquadramento, efeitos surreais de edição e uma fotografia preto e branco acachapante. Essa película é um banho de inspiração para quem ama cinema. 
 
 
Não deixem que comentem a reviravolta do filme, nem procure saber, pois tem como base uma história de “true crime” ocorrido logo após o final da primeira Guerra Mundial em um bairro periférico e pobre de Copenhague, quando uma moça, Karoline (a excelente atriz Vic Carmen Sonne), ainda muito jovem, aguarda o seu marido retornar da guerra, porém ela sobrevive como operária numa fábrica de confecção de roupas – fazendo fardas para soldados -, e ganha muito pouco, o suficiente para sobreviver.
 
Sozinha, ela acaba sendo expulsa do seu apartamento por dever o aluguel ao senhorio. Sem condições de ir para um lugar decente, acaba encontrando vaga num quarto de um cortiço miserável, onde vai morar. Quando ela vai pedir aumento no seu salário ao diretor da fábrica, um homem jovem e bonito, ele fica impressionado com a coragem da moça e acaba se sentindo atraído por ela, apaixonado tem um breve relacionamento e acaba engravidando-a. 
 
O esposo de Karoline retorna da guerra, quando a procura ela descobre que ele veio com uma máscara, pois sofreu uma grave mutilação no rosto. Porém ela o rejeita e acaba expulsando da sua vida por conta do diretor da fábrica que quer casar. 
 
 
Porém ocorre algo inesperado e ela é abandonada grávida e, para piorar, é demitida da fábrica. Sem qualquer recurso acaba voltando ao ex-namorado, que virou atração em um circo de horrores. Mas descobre que ele tem stress pós traumático, sequela que adquiriu na frente de batalha. 
 
Vivendo de forma miserável, sem perspectiva alguma de vida. Desesperada ela realiza uma tentativa de aborto com uma agulha de tricô numa casa de banhos coletivo, porém é salva por Dagmar (a magnífica atriz Trígono Dyrholm), uma senhora que tem uma filha pequena. Muito carismática e prestativa, Dagmar oferece ajuda a Karoline, oferecendo uma proposta de conseguir uma família para a sua bebê se insistir em não querer. 
 
Após não conseguir mais viver com o ex-namorado, ela vai dar a sua filha para adoção, onde procura Dagmar e descobre que ela é proprietária de uma loja de doces, muito conhecida. E mantém uma agência de adoção, ajudando mulheres que não podem criar seus filhos, doando as crianças para famílias com recursos. As duas acabam desenvolvendo uma grande amizade e uma conexão afetiva involuntária que as beneficia, pois Karoline encontra na senhora o carinho estimado que buscou na vida dura que sempre levou. 
 
A história então tem uma guinada chocante, onde o horror toma conta da vida de Karoline. 
 
Não posso contar mais nada. 
 
Não busque nada do filme na internet, para não ter a revelação contada antes do tempo, pois o impacto é muito maior ao assistir sem saber nada da trama principal, que é muito bem narrada, seguindo de forma linear a vida dessa jovem que vai passando por situações limites e que exigem um esforço psicológico muito grande dela, pois nesse período pós fim da primeira Guerra, os países que estiveram envolvidos tinham suas vidas mudadas, principalmente para as pessoas sem recursos, onde o estado das coisas era de pobreza para quem morava na periferia.
 
 
“A Garota da Agulha” tem uma bala mágica no seu formato de referência ao cinema alemão, pois o diretor Magnus von Horn consegue através do seu olhar ajustar as câmeras, lentes e cenários para um quase terror gótico, muito refinado, com enlaces que unem cenários urbanos antigos, que emulam as velhas casas e ruas de lajotas da Copenhague, com uma fotografia que pesa o claro e o escuro em sombras, closes inesperados e sequências que criam um suspense de encher os olhos.
 
O domínio técnico desse filme é um vislumbre do que de melhor o cinema clássico alemão produziu entre os anos 20 e 30, com cenas que lembram e muito filmes retóricos do estilo expressionista como O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari), de 1920, dirigido por Robert Wiene, Metrópolis (1927), de Fritz Lang.Também do mesmo diretor, Lang, o magnífico M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), o que mais me pareceu ser referendado aqui nesse filme, preste atenção nas cenas fechadas com as personagens femininas em planos abertos. De um bom gosto incrível.
 
Da mesma forma que o expressionismo buscava uma representação subjetiva do mundo, revelando as angústias da existência humana através de imagens fortes, por vezes distorcidas e afastadas da realidade, remetendo a verdadeiros pesadelos da psique em reflexo ao momento que vive o personagem em sua condição de vida, “A Garota da Agulha” é uma força de criatividade, substância dramática que beira o terror sim, mas se consolida numa trama insólita e policialesca.
Seja na forma, quanto no conteúdo, é um filme que não se esquece e tem a pecha de querer ser clássico e moderno com paralelo no passado cinematográfico que abraça tão bem, com uma força absoluta do que é a essência do cinema mais puro. 
Uma obra prima.
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