Mulheres são vitimas de preconceito na internet

Dois casos recentes causaram polêmica na internet brasileira e abriram discussões sobre o machismo e a perseguição à figura da mulher nas redes sociais.

Mulheres são vitimas de preconceito na internet

Foto: Divulgação

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Dois casos recentes causaram polêmica na internet brasileira e abriram discussões sobre o machismo e a perseguição à figura da mulher nas redes sociais.

No primeiro caso, a jovem Gabriela Moura, que está na gestação de seu segundo filho, postou uma foto de seu barrigão de grávida seguida de um texto no qual se defende a escolha da mulher. Gabriela afirma ser "totalmente favorável à descriminalização do aborto" e pede "respeito às mulheres, suas escolhas e seus corpos".

As palavras de Gabriela foram suficientes para ela receber uma série de ofensas e comentários raivosos na sua linha do tempo no Facebook. A jovem deixou vários desses comentários na página, mas apagou aqueles que considerou ofensivos.

O outro relato é da jovem Viviane Teves, que contou no último dia 9 de fevereiro no Facebook que havia sido estuprada quase dez anos atrás, em São Paulo. Ela escreveu: "Eu relembro o rosto, eu relembro o ato, eu relembro o dia, a dor, a droga na minha bebida, a roupa rasgada, o dinheiro roubado, o carro batido".

Dois dias após o desabafo, a jovem passou a receber os "parabéns" pelos dez anos do estupro. Seu número de telefone foi parar em um grupo no Whatsapp, e os participantes do grupo passaram a compartilhar mensagens machistas e ofendê-la.

No caso de Viviane, os supostos agressores seriam seguidores de uma extinta página no Facebook chamada Humor Negro (HN). A página, que era administrada por Viviane, fazia piadas com negros, deficientes, gays e outras minorias, algumas feitas pela própria vítima. Por conta de seu passado, a jovem está sendo chamada de hipócrita por usuários do Facebook, e há quem levante suspeitas sobre seus relatos referentes aos abusos.

Apesar de diferentes, ambos os casos apontam para algo em comum: como a figura da mulher é perseguida nas redes sociais. Celi Paulino Carlota, delegada titular da primeira delegacia de polícia da mulher, contou em entrevista ao BOL que os casos que envolvem agressões virtuais a mulheres estão cada vez mais frequentes.

A delegada afirma que a opinião da mulher traz uma carga de perseguição, mas quem é vítima de bullying virtual não deve se intimidar, e sim procurar a polícia. "Todo o material virtual coletado pode ser usado como prova. A vítima deve procurar a delegacia pessoalmente. Ao lado da delegada, ela irá abrir o computador e a escrivã fará um documento com as provas.  No caso do Whatsapp, a identificação dos suspeitos é mais rápida por conta do número de telefone".

E os crimes nos quais os agressores podem ser enquadrados variam. Se xingou, o acusado pode responder por injúria, preconceito, calúnia. Se fez ameaças, pode até pegar prisão. "As pessoas não podem sair por aí achando que a internet é uma terra sem lei. Há lei", afirma a delegada.

Vista muitas vezes somente como um incômodo, a perseguição virtual pode gerar consequências sérias, como crises de pânico, pensamentos suicidas e, dependendo do grau de exposição, acarretar prejuízos à vida profissional e social da mulher. Ela pode perder o emprego e enfrentar brigas em casa, por exemplo.

Fora da web

A delegada Celi Paulino Carlota alerta que a primeira coisa que a mulher deve fazer após sofrer um abuso sexual é procurar imediatamente uma delegacia da mulher. No caso de Viviane, ela não esperou dez anos para relatar o que aconteceu, e isso não deve ser feito.

"A denúncia deve ser imediata após o ato. A polícia pode achar câmeras no local que facilitem a identificação do suspeito, coletar materias que comprovem DNA. A vítima não deve nem tomar banho para poder passar pelo processo de corpo de delito", afirma a policial.

Após a denúncia na delegacia, a vítima também recebe tratamento médico, pílulas para não engravidar e suporte psicológico.

E quanto mais rápido for feita a denúncia, mais fácil fica para achar o suspeito. "O silêncio gera mais impunidade", garante Celi.

 

 

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