E o tal ponto e vírgula, serve para quê mesmo? - por Marcos Lock

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Vamos tratar hoje de um tema importante, aquele que dá nome a esta coluna: o ponto e vírgula. Ele não aparece na linguagem falada e na escrita tem um uso restrito. Tem gente até pensando que ele não existe mais ou que teria sido abolido pela última reforma ortográfica.

Nada disso. O ponto e vírgula está aí, vivo e forte, mas só se impõe como necessário quando escrevemos um texto. Esta pontuação, caros amigos, deve ser adotada quando desejamos oferecer ao leitor uma pausa maior que a vírgula, mas que seja menor que o ponto final. Ou seja, serve para quando parece que encerramos o assunto, mas ainda temos algo a dizer.

O conhecido professor Sérgio Nogueira, aquele mestre bem humorado e que foi integrante do quadro Soletrando, na Rede Globo, citou em uma de suas aulas na internet o seguinte exemplo, que viu certa vez num outdoor de cerveja:

“Se dirigir; não beba. Se beber; não dirija.”O mestre pondera que há aí um uso indevido deste tal ponto e vírgula. Neste exemplo o correto seria assim: “Se dirigir, não beba;se beber, não dirija”. A pontuação deve aparecer somente entre as duas orações que formam os trocadilhos, dando uma pausa maior entre elas.

Há um texto divertido de Luiz Fernando Veríssimo sobre o uso do ponto e vírgula. Vamos a ele:

“(...) Mas tenho um temor e uma frustração. Jamais usei um ponto e vírgula. Já usei ‘outrossim’, acho que já usei até ‘deveras’ e vivo cometendo advérbios, mas nunca me animei a usar ponto e vírgula. Tenho um respeito reverencial por quem sabe usar ponto e vírgula e uma admiração maior ainda por quem não sabe e usa assim mesmo, sabendo que poucos terão autoridade suficiente para desafiá-lo. Além do conhecimento e audácia me falta convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto e vírgula. Um dia o escreverei e então tirarei o ponto e vírgula do estojo com o maior cuidado e com a devida solenidade o colocarei, assim; provavelmente no lugar errado. Mas, quem se importará? (...)”

O uso do ponto e vírgula também foi alvo da atenção do grande poeta gaúcho Mário Quintana, em seu poema chamado “Comentário ouvido num bonde”. Em um determinado verso ele diz assim: “ (...) Que moça culta  Maria Eduarda: usa ponto e vírgula. (...)”.

Bom, vamos a algumas regrinhas básicas de quando e como usar este sinal de pontuação, que não teve o mesmo destino do trema, este sim revogado pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, há mais de uma década.

  1. Use o ponto e vírgula antes de conjunções adversativas(entretanto; mas; porém; contudo; todavia) ou conclusivas (logo; portanto; por isso; por conseguinte). Exemplos: “Ele trabalha muito; porém, não foi promovido.” “Os empregados vão todos embora; por isso, ninguém precisa ficar no pátio.”
  2. Ele também serve para separar itens de uma enumeração, como  já foi feito ao citar as conjunções acima. Também serve para separar elementos por grupos e aqui vai um exemplo: Exemplos: “O Brasil produz café, milho e arroz; ouro, níquel e ferro.”
  3. Serve ainda para separar orações coordenadas: “Na linguagem escrita somos leitores; na falada, ouvintes.”
  4. O ponto e vírgula é usado para separar orações, quando a vírgula já foi muito utilizada ou quando o texto é muito extenso. Exemplo: “As sete maravilhas do mundo moderno são: o Coliseu, na Itália; a Chichén Itzá, no México; o Machu Picchu, no Peru; o Cristo Redentor, no Brasil; a Muralha da China, na China; as Ruínas de Petra, na Jordânia; e o Taj Mahal, na Índia.”
  5. Aconselha-se, ainda, o uso do ponto e vírgulapara evitar a repetição de verbos. Exemplo: “Na hora do crime, Rafaela estava com os amigos; José com seus pais.”

 

E depois do ponto e vírgula usamos maiúsculas ou minúsculas?

Quando usamos o ponto e vírgula, a letra seguinte deve estar em minúscula, salvo se for um nome próprio. A letra maiúscula precisa ser usada no início de frases e depois de um ponto final. O ponto e vírgula, caros leitores, é apenas um sinal de pontuação intermediário entre a vírgula e o ponto final.

            Fique atento!

Segundo o novo acordo ortográfico, a expressão "ponto e vírgula" não admite mais os hifens, como antigamente: ponto-e-vírgula.

Até a próxima coluna, amigos leitores!

(*) Marcos Lock é jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)

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DÚVIDAS E SUGESTÕES PARA ESTA COLUNA DEVEM SER ENVIADAS PARA O WHATSAPP (69) 9.9328-1521, AOS CUIDADOS DO PROFESSOR MARCOS LOCK.

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