O retorno de Donald Trump a um novo mandato, segundo ele um Júlio César reencarnado – aquele general romano que, sem nunca ter sido imperador, emprestou seu nome a todos os que sentaram no trono do império mais poderoso que já houve, chegou chegando. E, como bom César moderno, já começou a botar milhares de imigrantes para correr. Aqueles mesmos que fazem o serviço sujo que os filhos da terra não se dignam a fazer. Uma história velha essa, que se repete há séculos, como se o mundo fosse um disco arranhado.
A ironia é que o próprio Trump e sua família, umas gerações atrás, também picaram a mula de algum outro canto para fincar raízes na terra da liberdade. Se a régua fosse a mesma para todo mundo, ele mesmo teria que dar no pé do país que tanto se orgulha de defender.
O plano do quase-imperador é convencer os empresários americanos a trazerem os "jobs" de volta. Quer dizer, fechar as fábricas mundo afora e reabri-las em solo americano. Só que ele esquece que empresário não gera emprego por caridade, mas por lucro. E, convenhamos, o resto do planeta oferece um ambiente bem mais convidativo para os negócios, principalmente quando o assunto é mão de obra barata.
Outra medida manjada, e já cansativa, é a chantagem das taxas de importação. Isso, além de gerar um desconforto danado dentro do próprio país, já que os preços são repassados ao consumidor – ou, pior, geram escassez e aumento de preço, o que acaba em impopularidade , tem caído no ridículo. Afinal, as taxas de Trump, de tão absurdas, já o fizeram recuar em todas as que tentou aplicar até agora.
As primeiras vítimas, canadenses e mexicanos, reagiram à altura. O governo de Ottawa, meio capengando, ganhou um fôlego novo com a "ajudinha" do líder ianque. Na fronteira sul dos EUA, o enredo se repetiu.
A confusão chega ao Brasil
E nessa dança de entra e sai de taxas, a confusão finalmente aportou em terras brasileiras. Para a sorte de Lula e seus aliados, diga-se de passagem. Até então, o mandato de Lula andava na corda bamba, com o Congresso de maioria simpática à direita apertando o calo. Era preciso errar o mínimo possível para sonhar com 2026.
As medidas de Trump, impondo um aumento de 50% nas exportações brasileiras para o território americano, mudaram o jogo. Principalmente pelos motivos alegados: uma balança comercial benéfica ao Brasil e a tal perseguição à família Bolsonaro e seus seguidores (aos que ainda restam, claro).
O discurso de Trump é um desastre, pois a balança comercial Brasil-EUA é, sim, benéfica para o povo do Norte. E as relações internas, por mais que o líder ianque seja chegado aos Bolsonaros da vida, o Brasil é um país independente (eu acho), e quem o reconheceu primeiro, lá pelas bandas de 1822, foi o próprio estado americano.
O ato de Trump acabou unindo o agro (grãos e carne), que antes era de maioria entusiasta das bravatas bolsonaristas, ao governo Lula. Afinal, rico gosta é de lucro, venha ele da direita ou da esquerda. E o Congresso Nacional, mesmo torcendo o nariz para o "sapo barbudo", teve que escolher um lado. A bandeira do patriotismo agora está nas mãos de Lula, Alckmin e cia. É só não deixar cair.
Bônus e 2026
De prêmio extra, o Brasil (leia-se Lula) fica livre do clã Bolsonaro, já que o chefe vai para a cadeia ainda em 2025 e o "chapeiro do McDonald's" perde o mandato de deputado federal por abandono de trabalho no mesmo período.
Quanto às eleições de 2026, uma vitória de Lula e cia, que antes se desenhava por uma margem mínima, igual a 2022, agora tem outro cenário. Das cinco eleições que os petistas ganharam, todas foram para o segundo turno. Mas em 2026, a vitória pode vir já no primeiro.
Como disse Raphael Michael, "nada junta mais as pessoas do que um inimigo em comum". E esse inimigo, encarnado no "golfista do boné vermelho" da Flórida, animou os petistas de todo o Brasil, com um fervor especial em Porto Velho. A gratidão é tanta que eles pensam em homenagear o líder do Norte de todas as maneiras possíveis.
A nossa Av. Jorge Teixeira já foi Av. Kennedy. Não seria a hora de mudar novamente o nome dela em homenagem a um presidente norte-americano?
Daniel Pereira:
Ex-governador de Rondônia e eleitor de Lula desde 1989