Nos últimos dias um notório advogado local vem fazendo severas críticas ao governador Marcos Rocha por concessão de benefícios fiscais a uma fábrica de bicicletas em Pimenta Bueno, interior de Rondônia.
Sem adentrar ao mérito da posição do ilustre causídico, recuemos uns cinquenta anos, final dos anos setenta, início de oitenta, lá pelas bandas de Terra Boa, uma pequena cidade no noroeste do Paraná, onde morava a família Ribeiro, a qual tinha duas crianças sonhadoras.
Nessa mesma época três irmão da família Pereira mudaram para a aprazível Terra Boa, junto com eles várias crianças e adolescentes, que vieram para “a cidade grande” em busca de acesso à escola.
À época, os pequenos Pereiras (filhos de agricultores) fizeram em um terreno baldio uma pequena horta, cujo objetivo era comprar uma bicicleta a cada um dos infantes. O empreendimento não atingiu os resultados. Era muitas bicicletas para poucos canteiros de alface, tomate, couve e repolho.
Os irmão Ribeiros estavam em outra sintonia. Também sonhavam com bicicletas, mas eles pretendiam consertá-las e, se possível, fabricá-las.
Ainda na década de setenta os pequenos Ribeiros e Pereiras foram trazidos por seus genitores para o novo Eldorado brasileiro: Rondônia.
Os Ribeiros para Pimenta Bueno, os Pereiras para Colorado D’Oeste.
Em Rondônia todos concretizaram seus sonhos.
As pereirinhas cresceram e compraram as suas bicicletas, algumas motos e até alguns automóveis.
Os Ribeiros também realizaram seus sonhos. Montaram uma oficina para conserto de bicicletas e cresceram, cresceram, cresceram, e construíram uma gigantesca fabrica de bicicletas, hoje a maior do país, a Cairu.
Essa empresa tem importância social vital para Pimenta Bueno, Rondônia e o Brasil, gerando vários benefícios, dentre eles tributos e várias centenas de empregos diretos e indiretos.
O sonho dos primos Pereiras era de realização mais fácil. O dos irmãos Ribeiros era bem mais complexo. Em Rondônia a logística é horrível. O interior do Estado conta apenas com transporte rodoviário. Não há por aqui a matéria prima a qual eles transformam. Escoar a produção é outro desafio.
A missão dos Ribeiros é muito difícil. Eles poderiam, por exemplo, simplesmente levar sua fábrica para Manaus, onde teriam incentivos fiscais e melhor logística para receber matéria-prima e escoar sua produção.
Permanecem em Rondônia por amor ao nosso chão e ficamos felizes por isso.
Esse fato envolvendo a empresa Cairu nos leva a indagar como os países industrializados agem para ajudar suas grandes empresas.
A resposta é que todos protegem seus patrimônios empresariais. É assim com os EUA (Ford, Chevrolet), Japão (Honda, Toyota, Nissan), Itália (Ferrari), França (Peugeot, Renault), Alemanha (Mercedez Bens, BMW, Wolkswagen), Coreia do Sul (Kia, Hyundai), etc.
Rondônia não pode agir de forma diferente com a Cairu. Ela é uma empresa que se constitui como um símbolo de nosso Estado, da qual temos muito orgulho. Não podemos jamais perdê-la.
Nunca fiz um elogio ao governo Marcos Rocha, não sei se o farei de novo, mas nessa eu estou com ele. Não é a Cairu que precisa de Rondônia. É Rondônia que precisa de muitas Cairus.
Nossas empresas precisam ter o mesmo tratamento tributário que suas concorrentes a nível nacional ou mesmo internacional.
Parabéns ao governador Marcos Rocha e equipe pela diligente iniciativa.
Cumprindo o destino dos Ribeiros e Pereiras, cada um realizou seus sonhos.
Hoje nossos objetos de desejo se confundem. Nossas bicicletas são Cairus, da maior (e melhor) do Brasil.
DANIEL PEREIRA
Ex-Governador de Rondônia e um orgulhoso pedaleiro de bicicleta Cairu