Foto: Divulgação
Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.
MC Então a monogamia está com os dias contados, é isso?
RNL É evidente que eu estou falando de tendências de comportamento, não de mudanças em curto prazo. Hoje, a maioria dos casais pode me achar louca de afirmar que o casamento monogâmico já era. Mas há, no mundo todo, sinais que mostram que casais mais liberais tendem a ser mais felizes. A revista do New York Times deu recentemente a seguinte capa: “Infidelity keeps us together” (A infidelidade nos mantém juntos) . É um exemplo disso.
MC E por que isso nos faria mais felizes?
RNL Nada é garantia de nada. Mas já sabemos que esse modelo que inventamos não deixa as pessoas felizes. Quem casa e opta por se reprimir em respeito ao outro pode pagar um preço muito alto. Você pode até controlar o seu desejo, mas ele vai continuar existindo em algum lugar. Daí, anos depois, você descobre que seu marido não fez o mesmo. Pronto, seu mundo caiu. Agora me diga, com toda a sinceridade: por que quando uma pessoa se casa não pode transar com outra? Historicamente, eu sei que era porque o homem não queria que sua herança fosse de outra pessoa. Mas, fisiologicamente, isso não faz sentido. Está mentindo quem diz que nunca teve tesão por outro além do marido. E mais, sexo é feito bateria de carro: se você não usa, descarrega. Por isso, o casamento monogâmico é o relacionamento no qual menos se faz sexo.
MC É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?
RNL Sim. O que gera sofrimento não é a traição, mas a crença no pacto de exclusividade. E o pior é que a maioria dos meus colegas não vê isso. São um bando de caretas, sabia? Todos, sem exceção, justificam a traição dizendo que o casamento vai mal ou que o amor acabou ou porque um deles quer se afirmar. Gente, não é nada disso! As pessoas têm relação extraconjugal porque variar é bom, não porque o amor acabou! Isso vai completamente na contramão do que se busca hoje: a individualidade. As pessoas querem se testar, se conhecer, perceber seus limites. É por isso que o amor romântico tende a acabar, por pregar o fim da individualidade por respeito ao outro.
MC Que outros sinais mostram que essa mudança já começou?
RNL É só ver a quantidade de casas de suingue que tem por aí, mulheres traindo e assumindo casos, buscando sua felicidade sem se colocar como subestimada. E não são mais pessoas procurando salvar relações falidas. São jovens que vão atrás de prazer e ponto. São tendências que apontam a mudança de mentalidade. Cada vez menos pessoas vão querer se fechar numa relação a dois e optar por relacionamentos mais soltos. Se bobear, minha tataraneta (ela tem uma neta de 15 anos) vai dizer: “Gente, tadinha da minha tataravó, precisava ter um parceiro só para tudo” (risos).
MC O que você está propondo é uma espécie de poliamor?
RNL De certa forma, sim. O poliamor implica ter relações sexuais e afetivas com pessoas diferentes. É assim: eu amo meu marido e transo com ele, mas também posso transar com outras pessoas, ir com elas ao cinema, viajar. Fazer o que quiser, com quem quiser, sem obrigação de exclusividade. Eles não amam com o sentimento de posse sobre o outro, por isso não sentem ciúme. Para eles, o ciúme está ligado ao medo da perda.
MC Mas esse amor livre não poderia facilitar o abandono, aumentar a possibilidade da perda? Ou não seria uma forma de se proteger contra ela?
RNL Mas nesse tipo de relação livre não existe a possibilidade de ser trocado, porque as pessoas não precisam escolher. Veja, muitas pessoas são abandonadas, certo? Aposto que 100% delas viviam uma relação supostamente monogâmica. Ou seja, uma relação fechada não é garantia de que você nunca será abandonado. A vida toda nós fomos instruídos a dirigir nossa energia amorosa e sexual para uma pessoa só e é nisso que a gente se apega. Daí, se isso não dá certo, sofremos horrores. Sentimo-nos abandonados, jogados às traças. Mas, na verdade, o abandono acontece já nos primeiros segundos de vida. No momento em que saímos do útero da mãe, já vivemos o sentimento de falta. Aquele conforto e segurança, não teremos nunca mais. Por isso, crescemos tentando reeditar o que tínhamos no útero. E, com essa nossa cultura, a coisa fica ainda pior. Em vez de ensinar o ser humano a viver sozinho, a sociedade prega que é preciso achar alguém que o complete, sua alma gêmea. Isso é a ilusão do amor romântico.
MC Você acha que daqui a 40 ou 50 anos os casais monogâmicos serão minoria? Sofrerão preconceito?
RNL O que eu espero é que haja espaço para tudo, sem preconceitos. Não seria certo que a regra fosse “agora todo mundo vai ter de transar com todo mundo” e que os casais que optaram pela monogamia ficassem excluídos. O importante é que cada pessoa escolha sua forma de viver e não reproduza um modelo por inércia nem medo de sofrer preconceito.
MC A internet ajudou a acelerar essas transformações?
RNL Sem dúvida. Ali, tudo é permitido. Quando criaram os primeiros chats, eu fiquei louca para saber como era o sexo on-line. Em 1998, por pura curiosidade antropológica, passei alguns dias fazendo sexo virtual. Queria muito saber se era possível sentir prazer com uma pessoa a distância, e hoje sei que é. E eu não me masturbava, viu? Não conseguia digitar e me tocar ao mesmo tempo, mas quando acabava a transa me sentia exausta, satisfeita mesmo. Foi uma experiência muito legal.
MC Você já fingiu orgasmo?
RNL Ah, já. Há muito tempo. Devia ter uns 20 anos quando fiz isso pela última vez. Era uma garota ansiosa como tantas outras. Mas acho isso horrível. Sempre digo para minhas pacientes não fingirem, senão elas vão viciar o homem em um modelo errado, acostumá-lo a achar que orgasmo é algo fácil e corriqueiro. E não é! É uma maravilha que custa para ser alcançada. Isso está diretamente ligado à autoestima. A mulher que gosta de si não tem problemas em fazer o homem trabalhar mais e melhor para fazê-la gozar. Agora, a que sofre de baixa autoestima se sente constrangida e finge para acabar logo com isso...
Mayra Stachuk e Marina Caruso.
A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.
Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!