O direito de blasfemar e ser contra – Por Professor Nazareno*

O direito de blasfemar e ser contra – Por  Professor Nazareno*

Foto: Divulgação

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“Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las”, disse Voltaire, ensaísta, escritor e filósofo francês ainda no século dezoito. Mas o recente ataque em Paris à revista francesa Charlie Hebdo por fanáticos islâmicos quando 12 pessoas, a maioria jornalistas, foram sumariamente fuziladas enquanto trabalhavam, demonstra que a democracia e a liberdade de expressão são valores ocidentais ainda longe de serem aceitos por determinados grupos de pessoas. A mistura explosiva entre religião e política nunca deu bons resultados e ainda precisa de muita dialética e tolerância para elas conviverem juntas. O século vinte e um começou com a destruição das torres gêmeas nos EUA num episódio que mostra até que ponto a intolerância religiosa pode causar estragos nas sociedades modernas ocidentais.

A liberdade de opinião é um valor adquirido “há pouco tempo e a muito custo” pela maioria das democracias do mundo. Está, por exemplo, no Artigo quinto da nossa Constituição e precisa ser levado a sério. Qualquer indivíduo tem todo o direito de falar, com as devidas provas, “o que quiser e bem entender” sobre qualquer outra pessoa ou assunto desde que não macule a imagem de terceiros. E se alguém se sentir prejudicado, legalmente acionará o Poder Público e exigirá as devidas reparações à sua imagem. É basicamente assim que funciona a liberdade de expressão nas mais modernas e civilizadas sociedades do mundo. A Charlie Hebdo francesa, assim como o canal Porta dos Fundos no Brasil, tem todo o direito de publicar o que quiser e se alguém se sentir ofendido que procure os seus direitos. O contraditório existe, só precisamos aceitá-lo.

Matar ou destruir o outro por discordar da sua opinião é um ato medieval. É, talvez, inerente aos estúpidos. A Igreja, de um modo geral, sempre abominou a dialética e incentivou a intolerância entre os seus membros e seguidores. Os jornalistas franceses tinham e têm todo o direito de blasfemar contra qualquer religião ou seita sem ter que pagar com a vida por isto. Dizer que eles foram culpados pela sua própria morte é o mesmo que admitir que a mulher que usa roupas curtas é responsável pelo estupro que sofreu. É, enfim, culpar a vítima. A intolerância só gera mais ódio além de dar importância demais a quem não tem. Eu mesmo já sofri restrições por causa dos meus textos. No início, queriam me matar. Foi preciso escrever muito para “amansar” os rondonienses e mostrar que sua capital era e ainda é um lixão a céu aberto, uma nojeira.

Baseada em dogmas apenas, está mais do que comprovado que a religião, ou o mau uso dela, sempre foi um grande atraso para a história da humanidade. As inúmeras guerras em nome da fé, as Cruzadas, o World Trade Center e Paris agora comprovam  isto. Se Deus existe ou não, se criou o homem ou foi criado por ele, se existem anjos, santos, céu e inferno, vai muito da cultura, da visão e dos ensinamentos de cada um. Por isso, não se deve subordinar a fé, a crença em Deus, nas palavras, às vezes vazias, dos outros. No nosso mundo, a violência, a intolerância, os dogmas, a intransigência, o sectarismo sempre perderão para a liberdade, a civilidade e a democracia. Em Paris, França, na manhã de 07 de janeiro de 2015, o mundo inteiro foi atacado. E todos nós, pessoas civilizadas, ateus ou não, tivemos as nossas consciências perfuradas pelas balas assassinas não do Islamismo, mas de terroristas abjetos que só agiam em nome do Islã.

 

 

*É Professor em Porto Velho.

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