1 – SOBRA SOBRINHO
Com dois meses de campanha nas ruas, mais de duas semanas de propaganda rolando no horário eleitoral gratuito e a um mês da eleição, a constatação fundamental é a de que não surgiu qualquer fato novo capaz de abalar minimamente o imponente favoritismo do candidato à reeleição, Roberto Sobrinho (PT), prefeito de Porto Velho, algo que já se adivinhava antes mesmo de o processo eleitoral ser deflagrado e recentemente sancionado por todos os números revelados pela pesquisa Ibope da TV Rondônia (Sistema Globo) - entre os quais se destacam os índices que lhe conferem 55% das intenções de voto e, não obstante ser a vidraça do pleito, a menor rejeição (13%) da parada.
O mais desconcertante é que, para a concorrência, essa é a notícia boa. A ruim é a de que não há sequer indícios de que alguma coisa assim possa ocorrer nestes 32 dias que nos separam da votação. Quer dizer, pelo que está sendo dado à população ver e ouvir desta campanha no espaço mais abrangente do processo – que vem a ser justamente o horário gratuito da Justiça Eleitoral no rádio e na televisão -, não há pistas de novidades arrebatadoras nas mensagens oposicionistas e tampouco sinais indicando que o discurso situacionista possa descambar para disparates comprometedores. E se está difícil de vislumbrar a ocorrência de uma ou outra coisa isoladamente, diminutas são as chances de que dois fenômenos assim possam vir a ocorrer concomitantemente.
E isto – esta simultaneidade de propostas sedutoras irradiadas pelo lado que está por baixo e de promessas desatinadas por parte de quem está com tudo em cima – é uma das poucas possibilidades que poderia virar de ponta cabeça o quadro que hoje dá para perceber. Não é preciso ir tão longe para demonstrar esta ilação. Basta lembrar de como andavam as coisas em Porto Velho há quatro anos, quando a também 1ª pesquisa do Ibope conferia ao candidato Mauro Nazif (PSB) 36% das intenções de voto ao tempo em que o apontava igualmente com a menor rejeição da disputa.
2 – BATATA QUENTE
Por baixo – e põe indigência nisso – perambulava Roberto Sobrinho, com apenas 1% de preferência do eleitorado. E em que importe o sucedido na linha de chegada, naquele momento a pesquisa estava para lá de coerente. Aliás, se alguma distorção ali havia diz respeito justamente a este 1% conferido ao petista, então um ilustre desconhecido de que, afora militantes no sindicalismo docente, ninguém sequer lembrava que presidira o Sintero e conhecera a derrota na única eleição que disputara - para vereador. Caso não fosse PT (verdadeiro tributário do índice), o razoável é que tivesse compartilhado com o finado Antônio Morimoto (PMN) o zero na sondagem revelado.
Ocorre que, mesmo antes de a disputa chegar aonde hoje o processo já avançou, Sobrinho já começara a galvanizar o eleitorado porto-velhense a bordo de uma campanha surpreendentemente vigorosa, em meio à qual logo se destacou uma plataforma que dominaria todas as rodas de conversas sobre o evento em andamento – a promessa da regularização fundiária. Claro que as demais propostas do plano de governo petista contemplavam todos os anseios mais prementes da população porto-velhense, mas pelo caráter inovador, abordagem oportuna e, sobretudo, ousadia, aquela ganhou corações e instigou mentes.
Enquanto isso, nos bastidores da campanha socialista, sucediam-se as reuniões para saber o que fazer com uma proposta de Mauro Nazif igualmente inovadora e tão ou mais ousada do que a promessa petista – a da criação da Universidade Municipal. A diferença entre as duas residia em algo que começa na verossimilhança, prossegue pela exeqüibilidade e termina nas prioridades das demandas do eleitorado. Universidade, não bastasse pouca gente ter ouvido falar de alguma nesse patamar administrativo, até o governo federal tem dificuldade para manter. E, decididamente, ainda é algo intangível. E só o fato de a proposta não ser consenso nem entre os proponentes já seria suficiente para desconfiar que aquela batata por dentro fervia.
3 – SEM SURPRESAS
Mas, como demonstrou a ensaísta Bárbara W. Tuchman em a “Marcha da Insensatez”, uma vez em movimento, é difícil deter o desvario. Evidente que este não foi o único erro da campanha em questão, mas um fator de perturbação determinante para o desencadeamento de toda uma série de equívocos que terminaria por produzir a ruína de um projeto promissor. Ainda mais que, na mesma dinâmica em que isso puxava a campanha socialista para baixo, a proposta de Sobrinho se espraiava impulsionando a candidatura petista. Ou seja, hoje, algo assim é que poderia fomentar uma possibilidade de reversão das atuais expectativas. Mas não há sinais de nada parecido.
Também estão ausentes, até agora, indícios de que, na campanha de Sobrinho, possam sobrevir asneiras do tipo das que mudaram os rumos das campanhas para governador em 1994 e 2002. Na primeira, como se recorda, Chiquilito Erse (PDT) avançava lépido e fagueiro quando alguém decidiu dar um tiro de misericórdia no tabaréu Valdir Raupp (PMDB) lançando um slogan que, aparentemente, o faria recolher-se às “insignificâncias” das origens (agricultor e motorista de caminhão): “Sou Chiqui (referência a “Chique”). Voto Erse”. Deu no que deu.
E em 2002, em busca da reeleição e acossado pelo fantasma das demissões que tivera de fazer, o então governador José de Abreu Bianco (PFL/DEM) viu a linha ascendente da recuperação eleitoral embicar quando, sem que ele tivesse nada a ver com o peixe, o programa de TV da concorrência exibiu imagens de operadores da campanha do empresário Miguel de Souza (PFL-PR) surrupiando marmitex do Hospital de Base para alimentar “formiguinhas” do candidato a deputado federal. Tivesse o próprio Bianco sido filmado com 100 milhões de dólares na cueca o estrago não teria sido tanto.
De modo que, salvo ocorrências do tipo relatadas – de que, repete-se, não se consegue entrever nem sinais -, a disputa, com o resultado prenunciado pelas pesquisas e pelo que das ruas emana, não deverá ir além de 05 de outubro. A ver.