Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – TRAGÉDIA AÉREA O presidente Lula da Silva decretou, a partir de quarta-feira (18), três dias de luto por conta das vítimas do acidente do avião da TAM, na terça-feira (17), no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Desde então, as bandeiras dos países que estão participando dos XV Jogos Pan-Americanos estão hasteadas a meio-mastro na vila das delegações, no Rio de Janeiro. Entre as edições de seus dois principais noticiosos diários – “Jornal Nacional” e “Jornal da Globo” -, em meio às transmissões de boletins sobre a tragédia, a TV Globo exibia dois dos seus mais esfuziantes humorísticos – “Casseta & Planeta” e “A Diarista” -, sem que ninguém se animasse a achar graça. Enfim, como em todos os desastres dessa magnitude envolvendo a perda de vidas humanas, a consternação é geral. De todo modo, em grande medida, ficamos em débito com as vítimas do acidente. Senão, vejamos; Como se sabe, toda vez que se registra um acidente aéreo de grandes proporções as mídias são inundadas com estatísticas demonstrando que, apesar dos pesares, o avião ainda é um dos mais seguros meios de transporte. Segundo esses números, o risco de alguém morrer num desastre de avião é de 1 em 11 milhões. Nas ruas e estradas, o risco é de 1 em 14 mil. Seria necessário despencar todos os dias um avião com centenas de passageiros para que o perigo no ar fosse igual ao perigo em terra. Aliás, o número de acidentes aéreos no mundo em 2006 foi o menor em 43 anos, transformando o período num dos mais seguros da história da aviação. Ocorreram 156 acidentes no ano passado, contra 178 em 2005, segundo o Escritório de Registro de Acidentes Aéreos (Acro, na sigla em inglês). A organização afirmou que 1.292 pessoas morreram em acidentes de avião em 2006, uma queda de 11% em relação ao ano anterior. Enfim, segundo as estatísticas, o avião é o meio de transporte que menos mata por quilômetro transportado. Perde apenas para o elevador. Qualquer outro meio de transporte, aí incluído andar a pé, é mais perigoso que voar. 2 – MEDO DE AVIÃO Aparentemente, não há o que tergiversar. O avião é mesmo o mais seguro dos meios de transporte. Vamos admitir que as estatísticas estejam corretas, que elas anulem a variável de que passageiros de avião usam o meio com muito menos freqüência do que o carro, para comparar, corretamente, a incidência de desastres sobre o número de deslocamentos e não de usuários. Ainda assim, reconfortantes como são, elas apresentam o problema de toda estatística, que é medir a quantidade sem medir a qualidade do risco. Em outras palavras, as estatísticas não afastam o medo. Para quem se sente desconfortável ao viajar de avião, por exemplo, não adianta esfregar-lhe no rosto estatísticas que provam que é o meio de transporte mais seguro. Sem dúvida que o automóvel é um equipamento assassino, mas o seu risco parece mais contornável. Suas conseqüências admitem gradações, em vez do tudo-ou-nada do avião. Isto porque, quando a porta do avião fecha, a pessoa vê que está presa sob o comando de uma outra. Como ocorre com a grande maioria, nesse ponto ela imagina ter perdido o controle da própria vida. Ou seja, todos sabem que um acidente de carro é mais provável que de avião. Mas as pessoas acham que têm maior controle sobre o carro, mesmo que não o dirijam. Num avião, não se tem noção de nada. Num automóvel, o motorista sempre estará ao alcance do passageiro para um pitaco de advertência. Os psicólogos costumam produzir livros com dicas para quem não tem tempo nem dinheiro para terapias contra fobia de avião. Aconselham não ler notícias sobre acidentes aéreos, fazer exercícios de relaxamento antes do vôo, ingerir comidas leves, evitar café, levar walkman, essas coisas. Dizem que se deve ser transparente e, ao embarcar, falar sobre seu medo para a aeromoça ou para a pessoa ao lado. O passageiro não deve, segundo os manuais, ter vergonha de usar aqueles joguinhos infantis. Deve também levar um pouco do perfume de alguém conhecido para reproduzir um ambiente familiar e por aí vai. 3 – APOSTA DE PASCAL Para ler algo impagável sobre assunto, recomenda-se o texto “Sejamos Machos: Falemos do Medo de Avião”, de Gabriel García Márquez. Para ele, o único medo que confessamos sem vergonha e até com certo orgulho machista é o medo de avião. Por sinal, em sua crônica, ele diz invejar o destemor de Jorge Amado (falecido) – que “cometeu a audácia de ir a Paris de Concorde” (idem) - e conta que nunca conheceu ninguém com tanto medo de avião como outro brasileiro: Oscar Niemeyer, que se dependesse do avião jamais teria pisado em Brasília. Não obstante as indefectíveis estatísticas. Conceda-se que as estatísticas são valiosas para orientar decisões racionais e demonstrar a segurança impessoal do meio aéreo. Mas têm muito pouco a dizer para o caso de cada pessoa em cada viagem. Se não houve acidente, elas são desnecessárias, nem nos lembramos delas. Se houve, são inúteis. Como na famosa aposta de um dos pais da estatística, Blaise Pascal, que nos convida a considerar as vantagens e desvantagens de acreditar em Deus. Vamos supor, diz ele, que eu não creia e leve a vida devassa. Se Deus não existe, eu tive prazeres, mas vivi como um pervertido. Portanto, se Ele existe, terei problemas, pois estarei condenado à danação. Na outra hipótese, eu aposto que Deus é verdadeiro e levo uma vida regrada. Se isso for falso, terei renunciado apenas a uma vida com mais prazeres carnais. Mas, se for verdadeiro, terei ganhado a salvação, um prêmio infinitamente superior aos prazeres terrenos. Assim, conclui Pascal, é de nosso interesse agir como se Deus fosse verdadeiro. Não é recomendável fazer roleta-russa mesmo que o tambor da arma tenha um milhão de possibilidades, em vez de seis. Acidentes de avião despertam para a vida. Redobram-se os cuidados, diminui a onipotência e até a culpa - matriz psicológica do medo de avião - cede. Acordamos para a verdadeira fatalidade, de que a vida deve ser vivida “como se não houvesse amanhã”. É essa a gratidão que devemos às vítimas do desastre.
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