Um ‘Documento de Formalização de Demanda’, elaborado pela Secretaria Geral de Governo da Prefeitura Municipal de Porto Velho, informa sobre um pedido para a construção uma escada externa em um dos mais antigos prédios históricos da Capital, o ‘Prédio do Relógio’.
O documento fala que uma das justificativas para a obra é a segurança para garantir a integridade física do prefeito, pois, para ele entrar no local tem que passar pela recepção. Outra alegação é de que o edifício não possui saídas de emergências, que são obrigatórias para garantir a evacuação segura e eficiente dos servidores em caso de urgência.
Para que a escada de emergência seja instalada na Prefeitura de Porto Velho, será feita a contratação de uma empresa particular, com expertise nesse tipo de serviço. O motivo alegado para essa contratação, segundo o texto, é que a Secretaria Geral de Governo não possui profissionais nas áreas de obras, engenharia e arquitetura para atuarem na instalação desse equipamento. No documento, classifica-se a colocação da escada como sendo de prioridade alta e todo o processo para a contratação da empresa deve estar concluído ainda no mês de março.
Discordam
Mas algumas vozes já estão se pronunciando contra a colocação de uma escada de emergência no Prédio do Relógio, não podemos esquecer que se trata de um patrimônio histórico e que as alterações arquitetônicas no imóvel precisam de uma análise mais aprofundada. Além disso, alguns setores da sociedade não estão vendo com bons olhos essas ideias.
Um desses é o professor Carlos Zimpel, do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia. Para ele, qualquer decisão que modifique essa relíquia da arquitetura local precisa obedecer a alguns padrões.
“Na qualidade de arqueólogo e defensor do patrimônio cultural da Amazônia, considero inadequada e preocupante a proposta de instalação de uma escada externa no Prédio do Relógio — atual sede da Prefeitura de Porto Velho. Este edifício, que originalmente abrigava a administração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, é um marco da nossa identidade urbana e histórica. Além de sua relevância simbólica, o prédio é tombado tanto em nível estadual quanto municipal, o que significa que alterações como essa precisam respeitar critérios legais e técnicos rígidos de preservação”, declarou.
O professor afirmou ainda que: “a construção de uma escada externa, ligada diretamente ao gabinete do prefeito, não só descaracterizaria a fachada original do edifício — que é um dos cartões-postais da cidade — como contrariaria princípios básicos da preservação do patrimônio histórico, conforme orientações do IPHAN, das legislações de tombamento e das boas práticas internacionais de conservação, como as definidas na Carta de Veneza (1964)”.
Apesar de não concordar com essa modificação no Prédio do Relógio, Carlos Zimpel, ressaltou que não é contra as modernizações ou adaptações de uso em bens históricos. Porém, defende que sejam tomados alguns cuidados.
“Devem ser feitas sempre priorizando soluções internas e reversíveis, que respeitem a integridade física e simbólica dos edifícios. Intervenções agressivas como essa escada externa não apenas violam a lei, como também desrespeitam a memória coletiva da cidade, fragilizando ainda mais a relação da população com seu passado. Porto Velho merece que sua história seja respeitada e valorizada — não apagada por decisões apressadas ou pouco sensíveis”, finalizou.
Veja o documento na íntegra