Caos toma conta de estradas vicinais e pontes na zona rural

A equipe de reportagem do Rondônia Vip percorreu as linhas C-30, C-35, C-40, C-45 e C-50, uma região importante, muito populosa e que vêm enfrentando total descaso da

A Prefeitura de Monte Negro informou que a zona rural é composta por 54 linhas vicinais que chegam a quase 2 mil quilômetros de extensão. Mais de 70% da população do município, cerca de 10 mil pessoas, residem na área rural e estão sendo afetadas pela falta de infraestrutura nas estradas vicinais.

Os profissionais do portal de notícias sentiram na pele a realidade enfrentada pelos cidadãos que ali moram: buracos sem fim, atoleiros e pontes danificadas, velhas ou até mesmo caídas, que impedem o transporte da produção rural e até mesmo das crianças que precisam estudar. “Faz tempo que não arrumam as pontes. Já fomos lá, disseram que vem arrumar, mas ninguém aparece. Tem uma ponte aqui que já está há três dias quebrada. Tem crianças que não está indo pras aulas por causa dela. Daria pra ter vindo ajeitar antes das chuvas. Disseram que viriam e até hoje nada. Fizeram até uns bueiros, jogaram a terra em cima, mas as pontes não melhoraram nada. Eu tenho uma filha e quando chove, tenho que colocar ela na moto e andar quatro quilômetros, já que o ônibus não consegue passar em frente. Ainda levo a filha do vizinho junto. O motorista disse que não passa justamente por causa da ponte. Eu até tenho medo que aconteça alguma coisa, mas não podemos fazer nada. A criança não pode ficar sem estudar. Tem um travessão aqui que o pessoal de outras linhas utiliza, porque é mais rápido, mas muitos carros já não passam lá pelo atoleiro. Quando chove, é caminhão de leite e de gado que fica preso lá. A sorte é o pessoal da associação que puxa o pessoal com trator”, disse Márcio José, morador da linha C-35.

Os pontilhões velhos e a cor da madeira denunciam a falta de manutenção. Praticamente todas as pontes estão em estado precário. Existem alunos em várias localidades das linhas que não estão recebendo o transporte. Em alguns casos, os ônibus caíram em rios ou córregos. Na linha C-35, os alunos fizeram fotos ao lado de um veículo pendurado em uma ponte quebrada. As imagens foram postadas em redes sociais e o prefeito Júnior Miotto foi marcado por um internauta que protestou contra a situação. “Nossos filhos correm riscos no ônibus escolar, pois as estradas não prestam. Isso é falta de prefeito. Quando é tempo de pedir votos, ele nos acha aqui dentro. Agora, quando precisamos, ele some. Nós somos desprezados nesse sentido de melhorar as estradas, sem contar as pontes péssimas. Fizeram um engana aí, jogaram um cascalho, mas já foi embora. Melhorar que é bom, nada”, falou Ana da Silva, moradora da linha C-40.

O senhor Eurípdes Batista, morador da linha C-50 há quase quatro décadas, afirmou que nunca tinha visto uma situação tão precária na região. “Moro aqui há 38 anos e nunca tinha vindo uma situação tão caótica dessas estradas. Queria que a situação tivesse melhor. Que pudéssemos ir para outras linhas e pra cidade com mais tranquilidade. As pontes estão todas caindo. Já fui no Ministério Público, na Prefeitura, falei, denunciei. Disseram que iam melhorar e não aconteceu nada. Estamos vivendo a cada dia, uma situação mais delicada. As crianças têm que fazer baldeação pra pegar o ônibus escolar. Todas estão passando por situações difíceis. Já não bastam as estradas, ainda pegam ônibus velhos, caindo aos pedaços. Os veículos saem pra buscar ou deixar, mas eles não chegam. Tem crianças indo ou voltando à pé”.

Quem também desabafou com a equipe de reportagem do Rondônia Vip foi Horácio Gomes, que também vive na linha C-50. Ele chegou à conclusão de que tudo está abandonado e o prefeito Júnior Miotto, sumiu da cidade. “Estamos em um estado de calamidade. Não temos estrada. Tem duas pontes caídas. Vamos fazer a reclamação em Monte Negro, ninguém acha o prefeito. Vamos na Câmara e dizem que não temos prefeito, estamos sem prefeito. Como é que o município funciona sem prefeito? Tem seis meses que estamos sofrendo aqui. Disseram que viriam ajeitar, mandaram duas caçambas grandes com duas máquinas, os caras riram da gente e foram embora sem fazer nada. As crianças estão sofrendo. Tem algumas que moram a dois quilômetros da escola, tem que sair às 06:30 pra chegar 07:30 pra estudar. Os ônibus estão fazendo baldeação. Conheço três carros que caíram nessas pontes. Um teve prejuízo de 6 mil reais, o outro a 9 mil e do meu cunhado foi de 3.500 reais. Se não fosse a gambiarra feita pelos moradores, ninguém tava passando em canto nenhum. Eles só aparecem aqui de quatro em quatro anos, pedindo voto. O prefeito, ninguém sabe quem é. Tem mais de dois anos de Prefeitura e nunca veio aqui”.

A própria C-50 está 100% interditada para caminhões e ônibus escolares. Os alunos que moram ali têm que fazer baldeação chegarem até a escola. “A situação está péssima. Pontes não temos mais. A estrada ninguém passa. A ponte que caiu, fizeram uma gambiarra, mas ela não aguentou. Os carros baixos, passam com dificuldade. Moro aqui há 40 anos e nunca tinha visto chegar a essa situação”, afirmou Adão Batista.

Já José Aparecido, mais conhecido como José Vermelho, que vive na C-50, está sem trabalhar há dias por conta dos problemas nas estadas e pontes. “Estamos parados, sem trabalhar, porque as pontes estão caídas. A gente foi lá, cobrou o prefeito e ninguém veio. Tem uma ponte caída na linha há 60 dias. Falei com o prefeito e nada. Os ônibus não estão passando. Quem tira leite, estava fazendo baldeação pra poder passar. Agora, que deram uma ajeitadinha, ficou menos pior”.

Outro lado

O prefeito Junior Miotto (PP) já se manifestou sobre o assunto e alegou que o problema é causado pelas fortes chuvas e que faltam recursos para fazer os reparos necessários.

Em contrapartida, o que vimos de perto é que faltou planejamento e manutenção, uma vez que todo ano as chuvas na região são sempre fortes. Também faltou infraestrutura principalmente nas pontes.

Júnior Miotto em vez de investir os recursos públicos na melhoria das estradas vicinais e pontes, prefere gastar dinheiro com festas e shows, baixando decreto de corte de despesas, mas na prática, os gastos continuam e o limite fiscal com despesas na folha de pagamento está próximo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Miotto assumiu em janeiro de 2013, porém ficou três meses afastados no ano passado, após ser cassado pela Câmara de Vereadores por deixar faltar remédios no Hospital Municipal. Voltou ao poder por decisão da Justiça, mas faltando um ano e oito meses para acabar o mandato, pelo jeito, nada será feito pela população.

A vereadora Tereza Diogo (PSDB) é da região afetada pelos problemas de falta de atenção. Ela conversou com a reportagem do Rondônia Vip e apontou que sempre cobra soluções da Prefeitura, mas que falta boa vontade dos gestores. “As linhas 50, 52 e 45 estão péssimas. Aliás, não têm nenhuma sem problemas. As pontes então, nem se fala. Na época das chuvas, nenhuma estrada fica 100%. Mas as pontes, é um descaso total. Já tivemos tempo adequado pra fazer os reparos, mas não foi feito nada. A época das chuvas já está acabando e nada foi feito. Em muitos casos, não há transporte escolar feito na totalidade. As crianças têm que fazer baldeação. Os moradores estão cobrando bastante da gente e eles estão certos. Estamos aqui para representá-los. Mas o Executivo tem que fazer a parte dele. Ele é que tem o poder de fazer. O vereador tem o papel apenas de fiscalizar e cobrar. A linha C-40 tem uma população grande, mas o povo vem sofrendo muito com as estradas. Desde o começo do mandato estamos cobrando, mas nada foi feito de maneira satisfatória. Falta atenção e um serviço que o povo merece. A Prefeitura alega falta de recursos”.