CRÔNICA - Desalento – Por Nonato Melo e Silva

Desalento – Por Nonato Melo e Silva

CRÔNICA - Desalento – Por Nonato Melo e Silva

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

Quando o tempo veio e ele se escondeu, tudo era normal. Ou o que tinha aprendido a ver assim. Rio pra se banhar, escola pra aprender, rede pra sonhar... As coisas andavam mesmo com aquele vento de simplicidade.

A vida era a um tempo seu mundo e o futuro visível que tinha e não precisava projetar, futuro que já conquistara por existir, ao qual não lhe tomariam. Mas a uma pessoa que acompanhasse a vida de outra até a velhice, não lhe teria causado, por certo, menos surpresa, ao vê-la falar pela primeira vez, criança e, anciã, caducar, que a ele causou na sua época e circunstância particular, quando necessitou ser e quase nem mesmo notou. Quando, sem tomar alento, antes se escondeu. Periga até ele não saber que nem ao menos sabe quando, mas que se escondeu isso é pacífico. Porque dói. 

Com os meses o cotidiano se encarregava do seu tempo e alegrias, como até então havia sido. Sobre sua falta pouco notava, de resto era mesmo apenas uma leve comichão, mais trazida pelo meio que propriamente sentida por ele. E, inebriado engano, seguiria sendo aquilo e só. Coisa decisiva para tal aquiescência era mais os dias passarem, dentro de sua órbita ritmada, sem novas – a despeito do então irrelevante débito interior, que só lhe fazia meio réu, com suas picadas de consciência – do que os efeitos do seu auto-crime, os quais não experimentara antes e não podia temer.

Todavia o trágico, a passos lentos, chegara. Com os anos aquilo, comichão, era já vírus – psicológico, mas vírus. O olhar dissimulado era já retraimento, o gentil pedido era ordem, a censura, grito; o dia, escuro; vinho, a água, muito vinho. Tinha andado o tempo, o seu tempo, e havia sido o demorado desse andar que lhe pesara mais, ao saber que tanto pudera ter feito outro seu fado, ter irrompido do invólucro em que estivera, à guisa de segurança, em busca de substância à sua demanda, como as formigas que folgam pela estação com o alimento lhes sobrando, após tê-lo ido buscar à labuta. Se dizia agora mais pequeno e invisível que uma formiga. Tinha-lhe mesmo algo de inveja, abastada...

Porque agora era quase tarde. Agora era viver, são, o que vive o enfermo, o que vive o homem velho, jovem. E não compartilhará da alegria cansada e proeminente dos homens velhos, que buscam no repouso o alívio da vida vivida. Só será velho de anos.

 

Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS