A greve, constitucionalmente, é um recurso legítimo do trabalhador, quando outros canais de negociação deixam de ser usados, seja pela radicalização dos empregados, seja pela falta de compreensão do empregador.
A greve, porém, jamais pode ser um exercício de oposição política. Antes, é fundamental que se constitua num instrumento apartidário de reivindicação lúcida e justa do trabalhador.
A população rondoniense, principalmente a da capital, vem sofrendo, pacientemente, os reflexos de um movimento paredista no setor da saúde, que se arrasta há sete dias.
Longe do colunista, contudo, discutir a justificável greve de servidores da saúde. Sabem-se quão irrisórios são os vencimentos pagos à maioria dos que presta serviço ao setor público, especialmente ao município de Porto Velho, ainda mais se comparados à freqüente majoração de preços de todas as mercadorias.
Igualmente, está fora de discussão a existência de perdas que se vieram acumulando ao longo dos anos, na remuneração dos servidores. Vê-se, pois, que há motivos de sobra para que servidores da saúde tentem obter da administração estadual a correção das distorções e o tratamento que qualquer ente federado dispensa aos que trabalham nas organizações que ele mantém.
Entretanto, não é possível, em sã consciência, aceitar que a população, que paga um cipoal de impostos para garantir os meios básicos necessários à própria sobrevivência, com dignidade, seja punida, de maneira cruel e implacável, nos conflitos dos grevismos.
O poder público tem, naturalmente, suas responsabilidades constitucionais nesse contexto de infelicidade laboral, como também são responsáveis, no mínimo, por imaturidade política, o segmento profissional que se engolfa no movimento. Todos sabem que não há negociação nem diálogo construtivo se não houver renúncia de ambas as parte.
É sabido que as conquistas das classes menos favorecidas é que tem feito à sociedade alcançar patamares mais decentes de sobrevivência. Essas conquistas, no entanto, precisam estar sempre presentes na análise das lideranças das diversas categorias de profissionais. O que se desaconselha, contudo, é a utilização de recurso que já não consegue sequer gerar áreas mais amplas de apoio e de compromisso.
Tendo que enfrentar, diariamente, os péssimos serviços assistenciais, ambulatórias e laboratoriais prestados pela rede municipal de saúde, só resta à população portovelhense rezar contritamente, preferencialmente, de joelhos e com os olhos voltados para o Céu, para que empregados da saúde e empregador cheguem ao entendimento.
A população, principalmente os segmentos mais carentes, é quem mais sofre diante dessas pendências trabalhistas. Ele merece ver a luz da compreensão no final do túnel.