Meio Ambiente - Da água pro vinho

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Foto: Divulgação

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Diante do incógnito dos efeitos a longo prazo das mudanças climáticas na América do
Sul, o Brasil está numa situação relativamente confortável por um bom tempo, devido à abundância de suas águas – apesar da escassez no Nordeste e, às vezes, no Rio Grande do Sul. Em escala global, devemos lembrar que o Brasil é muito privilegiado com respeito à quantidade de água que tem e não devemos chorar de barriga cheia.

Basta fazer uma visita à Argentina ou ao Uruguai, país que recentemente declarou estado de emergência por falta de chuva, para agradecer pelas chuvas que caiem aqui. Na sua imensa maioria, os rios argentinos – descontando os binacionais como o Uruguai e o Paraná – são rasos (quando não completamente secos) ou sazonais.

Isso porque a Argentina conta, principalmente, com o degelo das geleiras e das neves andinas para encher as mananciais. Há séculos, os argentinos são verdadeiros experts em transformar o deserto patagônico em área agrícola produtiva, baseado no poder da irrigação utilizando águas que provêem da alta montanha (e não da chuva). Construíram belas cidades, belas hortas, belos vinhedos no “semi-árido” deles. A vida em Mendoza, capital do vinho argentino, é tão bela que ninguém nem pensa, muito menos se preocupa sobre a origem da água que tornou tudo isso possível.

Em torno de Mendoza, os vinhedos se estendem deserto adentro acompanhando o leito pedregoso, quase seco, do Rio Mendoza e tributários. A poucos quilômetros, surge a pré-Cordilheira, um cartão postal de picos nevados. As águas limpas e ricas em minerais que descem dos Andes são desviadas para centenas de acéquias – pequenos canais de irrigação, um termo de origem árabe – que levam a água até as vinhas e os jardins floridos dos moradores. As acéquias também acompanham as ruas, irrigando os álamos sombrosos que tornam os bairros da cidade frescos e aconchegantes.

Essa intricada rede de acéquias que une cada cantinho verde é impressionante, uma obra extremamente eficaz. Porém, a pergunta “por quanto tempo” não parece ter um papel relevante nas conversas dos mendocinos. Segundo nossos anfitriões em Lujan de Cuyo, pequena cidade colada a Mendoza onde encontram-se muitas bodegas famosas, o preço da água é 42 pesos (R$ 27,00) por hectare a cada dois meses, para uma quantidade ilimitada de água. Um preço irrisório.

Entendo a lógica do Sultão de Brunei dar de graça gasolina a seu punhado de súditos, sendo o pequeno país tão rico em petróleo e a população tão pequena, mas até a Argentina, pobre em água, não cobrar devidamente para ela, é desvalorizar sobremaneira um bem que, tudo indica, pode ter seus dias contados.

Ao cobrar por hectare em vez de por volume, as autoridades mandam um recado de abundância e acaba tirando qualquer motivo ou incentivo para economizar a água. Muito menos para ir além e promover a instalação de sistemas de irrigação racionais em vez da simples inundação dos campos. Para que alguma mudança aconteça, é preciso que tanto as autoridades como também a população em geral comecem a preparar para um futuro incerto devido ao aquecimento global e possíveis mudanças climáticas regionais provocadas pelo desmatamento da Amazônia.

Se os argentinos quisessem continuar praticando o milagre inventado por Jesus, ao converter a água em vinho, está na hora de cuidar melhor dessa água abençoada que ainda vem descendo da cordilheira nevada.

Dito isso, nós não podemos atirar pedras! A vazão média anual do rio Mendoza é parcos 50 m/seg. Para se ter uma idéia, a vazão do rio Tietê nos meses da estiagem é 70 m/seg, dos quais 35 m/seg são de esgoto. Sim, a metade, sendo que 20 m/seg são esgoto em estado “puro”, ou seja in natura (segundo CETESB). Leia de novo: nos meses do inverno, o rio Tietê, que simplesmente atravessa a cidade mais rica da América do Sul com um PIB maior do que a Argentina inteira, é composto de 50% de esgoto. Uma vergonha.

Margi Moss, junto com Gerard Moss, encabeça o projeto Brasil das Águas, atualmente envolvido com uma pesquisa de vapor d’água amazônico no projeto Rios Voadores.
 
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