A tradicional e respeitada família Meneses está mais pobre. Pobre de caráter, honestidade, lealdade, seriedade, humanismo e competência. É que, na madrugada deste sábado, faleceu, aos 94 anos, o jornalista, historiador, professor e capitão do Corpo de Bombeiros, Esron Penha de Menezes, ou, simplesmente, capitão Erson, como era mais conhecido.
Conheci Esron durante a segunda administração do prefeito de Porto Velho, Francisco Chiquilito Erse, através do saudoso amigo professor Lourival Chagas da Silva.
Desde então, mantivemos uma relação de amizade, calcada na lealdade e no respeito mútuo. Erson era um homem simples, mas com uma visão aquilina da realidade. Uma pessoa afável, elegante e educada. Mas também era intransigente, sobretudo na defesa daquilo que considerava justo e legal.
De origem humilde, soube, pelo esforço pessoal, vencer todas as dificuldades para se impor como um cidadão decente, respeitado até por aqueles que não compartilhavam de suas idéias. Era considerado um bom adversário, daqueles que dignifica uma boa demanda, mas que nunca deve ser tratado como inimigo.
Esron nasceu nas barrancas do rio Madeira, no município de Humaitá, estado do Amazonas, nos últimos dias do último mês, no princípio do Século passado. A família modesta, mas honrada, não pôde oferecer-lhe instrução além dos simples cursos do Ensino Fundamental das escolas públicas.
Ainda na segunda infância, empregou-se como “off-boy” na Madeira Mamoré, durante a administração americana, para manter-se. Depois, foi para o município de Santarém, no Pará, trabalhar como plantador de seringa, na empresa do magnata Henry Ford, onde ficou por cinco anos.
Movido pelo espírito aventureiro, trocou o interior pela capital do Pará, para alistar-se, como voluntário, durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932. A saudade de casa o trouxe à cidade de Porto Velho e, novamente, à Madeira Mamoré, na época, sob administração brasileira.
Convidado pelo vizinho e amigo Tenente Madeira Campos, ingressou na Guarda Territorial, no governo Aluízio Ferreira, em cujo quadro permaneceu até a aposentadoria, em 1962. Foi também Superintendente do Serviço de Navegação do Guaporé e fez o curso de Bombeiros na Corporação do antigo Distrito Federal, sendo o seu primeiro Comandante.
Sua competência, lealdade e seu espírito de luta, o levaram a chefia da Casa Militar do governador Araújo Lima. Em seguida, foi Assistente Militar dos governadores Petrônio Barcelos, Enio dos Santos Pinheiro e Paulo Nunes Leal, que o nomeou delegado junto à Comissão do DNER e às empreiteiras, responsáveis pela abertura da BR – 29, no trecho Porto Velho/Barracão Queimado, na divisa de Rondônia com Mato Grosso.
Já aposentado, aceitou o convite da professora Marise Castiel para ensinar Estudos Sociais para o 1º e 2º graus. Em 1977, foi nomeado, pelo então prefeito Luiz Gonzaga Farias Ferreira, Assessor para Assuntos Legislativos. Nessa condição, escreveu seu primeiro livro, intitulado “Retalhos para a História de Rondônia”, cuja obra rendeu-lhe o título de Historiador.
Continuou no cargo nas gestões dos prefeitos Francisco Lopes de Paiva, Sebastião Assef Valadares (que o promoveu a Assessor Especial CC5), José Alves Vieira Guedes, João Baptista Coelho, Jerônimo Garcia de Santana e Tomás Guilherme Correia.
Exerceu a chefia da Assessoria Legislativa, na primeira administração do prefeito Francisco Chiquilito Erse. Deixou o cargo na segunda gestão do prefeito José Alves Vieira Guedes, voltando ao posto no segundo governo Chiquilito, no qual permaneceu até a metade da administração Carlinhos Camurça.
Esron era um homem transparente. Tudo nele era claro, sempre à vista de todos. Sentimento, reação, o que pensava e o que ia dizer.
Certa vez, disse-me não ser merecedor de tantas honrarias, dentre elas, destacam-se os dois títulos de cidadãos de Porto Velho e de Rondônia, outorgados pela Câmara Municipal e Assembléia Legislativa, respectivamente, além da medalha Dom Pedro II, a mais importante homenagem concedida pelo Corpo de Bombeiros. Somem-se a isso os inúmeros postos que ocupou na Maçonaria e as diversas medalhas que recebeu.
Que Deus, no triunfal e solene momento da ressurreição, o acolha no redil dos salvos, na gloriosa Canaã celestial. Foi-se um homem de têmpera, um amigo leal, um pai exemplar e um profissional retilíneo. Esron, adeus!