Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

1 – IDIOMA CRÍTICO Tremenda distração – é o que se poderia supor na mais perversa das hipóteses. Sim, porque, depois de ler o texto por inteiro, penoso imaginar pura e simples ignorância. Na verdade, como se contemplará adiante, tal cochilo deverá ter sido provocado por excesso de confiança numa ferramenta algo capenga, mas que anda viciando a granel entre os que escrevem nestes tempos informáticos - se é que a expressão é apropriada. Enfim, leitor, fala-se de um artigo intitulado “Censo Crítico – ‘Ter ou não Ter’? – Eis a Diferença”, publicado por pelo menos dois importantes veículos de comunicação do pedaço, a saber: jornal “Diário da Amazônia”, edição desta segunda-feira (28), na 2ª página, e jornal eletrônico “Rondoniaovivo” – o editor deste, alertado por este repórter no momento em que estas estavam sendo batucadas, andou providenciando o conserto. Na versão impressa do “Diário da Amazônia”, no entanto, não tem remédio. Como o leitor mais atilado já terá percebido, o autor – certo Antônio Carlos Alberti, sobre quem nada se acrescenta – pretendeu escrever sobre “Senso Crítico”, mas de pé à ponta andou grafando o termo que serve para designar, na acepção mais conhecida, “recenseamento”, “contagem da população” etc. Porque no sentido de “faculdade de julgar”, “de sentir”, “de apreciar”, ou mesmo significando “entendimento”, como se está careca de saber, a palavra correta sempre foi “Senso”. Tirante o editor de “O Requentado”, Jackson Abílio, e mais umas poucas pessoas – hoje cada vez mais raras –, que por cultivarem a chamada “última flor do Lácio” com desmesurada paixão devem estar escandalizadas, dir-se-ia um equívoco banal. Com o que concordaria o repórter não fora o inusitado das circunstâncias. Primeiro, chama a atenção o fato de que o autor não apenas estava com um dicionário à mão como o andou consultando enquanto alinhava suas reflexões. “O dicionário do Aurélio, fazendo sua função, de dar o significado das palavras segundo a nossa língua e regionalidade, toma um extenso espaço na definição de crítica, dentre várias selecionei estas:- discussão dos fatos históricos; apreciação minuciosa, julgamento; julgamento ou apreciação desfavorável, censura”, ensina Alberti. 2 – TÍTULO TINHOSO Na seqüência, acrescenta: “O mesmo dicionário define:- criticador como sendo ‘aquele que tem por costume criticar, dizer mal de alguém ou de algo’, e criticar:- ‘dizer mal de’”. Quer dizer, se Alberti tivesse considerado que o leitor talvez tivesse alguma dúvida sobre o significado de “senso” tanto quanto ele supôs que pudesse ter sobre o de “crítica” e o de “criticador”, certamente não teria caído na esparrela. Depois – e mais espantoso -, chega ao limite da perplexidade o fato de a palavra equivocada ter sido utilizada no título do artigo e ter passado despercebida pelos editores que o publicaram. Há cerca de dez anos isso dificilmente teria ocorrido. Por essa época, no entanto, os jornais passaram a descartar os revisores, profissionais que vinham do próprio jornalismo ou da área de letras e que se dedicavam a verificar a correção dos textos dos demais jornalistas. Com a modernização das empresas jornalísticas – leia-se menos pessoal e mais serviço -, os revisores foram extintos e os editores passaram a responder por esta tarefa. Mais um trabalho para os já atribulados editores. Não bastasse ter que escolher títulos, legendas, dispor as matérias nas páginas e acompanhar o trabalho dos repórteres. Quanto a Alberti, deverá ter sido traído pelo corretor ortográfico/gramatical instalado nos computadores. É por aí, aliás, que muita gente anda se dando mal. Como ensina o professor Pasquale Cipro Neto – que apropriadamente chama o corretor ortográfico dos computadores de “empreguiçador” -, as pessoas acham que, com uma dessas engenhocas, estão salvas. Longe disso. São os chamados parônimos, aquelas palavrinhas enjoadas, parecidas na escrita e na pronúncia, mas diferentes - bem diferentes - no significado. Se alguém escrever “mal” no lugar de "mau", não se livrará do erro, porque o corretor ortográfico não é capaz de reconhecer o valor de cada um dos elementos das duplas de palavras parecidas. Experimente trocar – sugere Cipro Neto - "está" por "esta", "secretária" por "secretaria", "taxar" por "tachar", "vultoso" por "vultuoso", "sessão" por "seção", "tensão" por "tenção", "incipiente" por "insipiente", "viajem" por "viagem", "iminente" por "eminente", "diferir" por "deferir", "retificar" por "ratificar", "peão" por "pião", "seguimento" por "segmento", "laço" por "lasso" etc. 3 – EQUÍVOCO LETAL Em todos esses casos o corretor ortográfico manter-se-á na mais absoluta neutralidade – ou inamovibilidade. Pela simples razão de que a máquina é incapaz de levar o contexto em consideração, Como todas as duplas que se acaba de citar existem, qualquer das palavras será dada como correta independentemente do contexto. Deverá ter sido por aí que o nosso Alberti se perdeu. O que é uma pena, pois descontadas outras distrações de concordância e pontuação, o artigo não é de se jogar fora, mormente pela natureza da abordagem. Enfim, são demais as armadilhas idiomáticas – de qualquer idioma, leitor. Muitas delas acabam por render até piadas. Como aquela clássica em que o Presidente da República – sempre que tem um de que se desconfia da parvoíce atribui-se a patacoada ao dito cujo. Dizia-se de Costa e Silva. Hoje, diz-se que é Lula – pede para o assessor marcar a reunião ministerial para sexta e o auxiliar pergunta de “sexta” é com “c” ou com “s”. E o presidente: “Pensando bem, antecipa para quinta”. Mas algumas podem ser para lá de trágicas, como relata a Bíblia ao descrever a guerra entre Jefté (de Gileade), e Efraim. De acordo com o livro sagrado, como estratégia, ante a impossibilidade de distinguir quem era quem de imediato, os gileaditas tomaram todos os pontos de travessia do Jordão, num ardil contra os efraimitas. Então, sempre que alguém chegava por ali, as sentinelas perguntavam: “Você é efraimita?” Se respondesse que não, diziam: “Então diga: Chibolete” – significa “córrego”, “corrente de água”. Se ele dissesse: “Sibolete”, sem conseguir pronunciar corretamente a palavra, prendiam-no e matavam-no ato contínuo. Em termos lingüísticos, o que ocorreu foi a exploração, por parte dos gileaditas, de um normalíssimo fenômeno de variação dialetal. Na variedade lingüística falada pelos efraimitas não existia o fonema palatal exigido na pronúncia do termo “chibolete”. Eles apenas conheciam o fonema sibilante, de modo que pronunciavam o termo como “sibolete”. Não é nada, não é nada, mas por conta disso 42 mil efraimitas foram mortos pelos gileaditas. Está lá, em Juízes 12;4-6. A vitória sobre Efraim foi o último feito digno de nota na vida de Jefté. Depois disso, ele julgou/governou Israel por seis anos, após os quais morreu e foi enterrado em Gileade. *VEJA EDIÇÃO ANTERIOR: * Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz * Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS