País tem déficit de 8,7 mi de hectares de madeira

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Foto: Divulgação

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A demanda de madeira no Brasil é estimada em 350 milhões de metros cúbicos por ano e os plantios florestais conseguem suprir apenas 90 milhões de m3/ano, equivalentes à exploração de 600 mil hectares/ano. A diferença vem das florestas nativas.

Sem considerar planos de manejo, que preconizam a sustentabilidade e contribuem para a redução deste déficit, os 260 milhões de m3 para serem supridos integralmente por florestas plantadas demandariam mais 8,7 milhões de hectares, o equivalente 0,9% do território nacional, elevando o percentual de área com plantios florestais de 0,6% para 1,5%, o que seria muito inferior à área ocupada com outras culturas.

Assim, caso não haja oferta de energia que substitua a madeira e sem uma política de estímulo ao plantio, se a demanda atual se mantiver, fatalmente a pressão sobre os remanescentes de florestas nativas será grande e com conseqüências indesejáveis. A previsão realista e pouco animadora é do chefe-geral, Helton Damin da Silva, e da pesquisadora Rosana Higa, da Embrapa Florestas. Confira a íntegra da entrevista:

Mercado Carbono - Há um projeto (metodologia) de MDL para florestas plantadas a ser apresentado na reunião da COP em Copenhague, em dezembro?

Rosana Higa (pesquisadora da Embrapa Florestas) - Já existem várias metodologias aprovadas, tanto para pequena escala como em larga escala, para projetos de MDL em floretas plantadas conforme publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). A grande discussão em Copenhague será sobre as novas regras pós 2012, ou ao próximo período de comprometimento. A área de produção e consumo de energia tem um papel relevante nessas discussões, especialmente no sentido da promoção do uso de energia sustentável.

Como exemplo, a metodologia AR-AM0005 / Version 03, referente ao Projeto Plantar em Minas Gerais, disponível em:

Mercado Carbono - Qual a estimativa de redução de emissões e seqüestro de carbono nos vários usos das florestas energéticas ou como retentora de carbono em outros usos que não na geração de energia (móveis, residências, dormentes, etc.)

Rosana Higa - A estimativa depende da área a ser plantada e do incentivo ao uso de madeira para energia, substituindo combustíveis fósseis ou substituindo outros produtos que, durante o seu processo de produção, emitem grandes quantidades de gases de efeito estufa, principalmente os de maior permanência como móveis, casas etc.

Recente material divulgado pela FAO e o Instituto de Florestas Europeu tem incentivado o uso de madeira como forma de mitigação ao aquecimento global. Segundo o Ministério de Minas e Energia, atualmente a biomassa representa 31% da matriz energética brasileira. As diretrizes governamentais nessa questão estão estimulando um aumento dessa participação.

Essas medidas contribuem para a diminuição do uso de combustíveis fósseis, responsáveis pelo aquecimento global. A tendência mundial é aumentar a necessidade de energia. Portanto, sem o desenvolvimento de fontes renováveis, a situação climática, considerada atualmente crítica, poderá ser consideravelmente agravada.

Mercado Carbono - Por que as florestas energéticas ainda perdem para os predadores da natureza? É só uma questão de preço? Falta comando e controle?

Helton Damin da Silva (chefe-geral da Embrapa Florestas) - A madeira sempre se constituiu como um combustível barato e de fácil acesso. O termo "florestas energéticas" refere-se a florestas plantadas para suprimento de energia. No entanto, nem todas as florestas plantadas têm fins energéticos e o plantio existente hoje no Brasil não produz o suficiente para a demanda existente. Destaque-se que a área plantada hoje no País é de aproximadamente 6 milhões de hectares, equivalente a menos de 1% do território nacional. Estima-se que, para atender a demanda de madeira para todos os usos, inclusive o energético, seria necessário expandir os plantios florestais em pelo menos três vezes a área atual.

Portanto, não é só uma questão de preço, é uma questão de demanda, pois a participação da madeira na matriz energética brasileira está entre 30 e 40% e atende principalmente o setor industrial.

Destaca-se também que houve uma evolução positiva nas questões de comando e controle, pois nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, ações de desmatamento atualmente são muito mais controladas. Na Região Norte existem áreas onde o manejo florestal é permitido. O que falta é uma política de estímulo ao plantio. Neste sentido, atualmente áreas de lavoura e pecuária estão sendo utilizadas para plantio de florestas, o que deve amenizar muito o uso de madeira das florestas nativas para energia.

Rosana Higa - A tendência do uso de floretas nativas para fins energéticos é de diminuição, principalmente pela implementação de projetos como Florestas energéticas na matriz de agroenergia brasileira que, entre outros objetivos, visa a expansão da base florestal para aumentar o fornecimento de madeira de florestas plantadas com essa finalidade de forma sustentável. O projeto está inserido dentro do programa nacional de agroenergia como uma das prioridades do governo atual que é aumentar o uso da biomassa na matriz energética nacional.

Mercado Carbono - Quais projetos sustentáveis podem ser implementados a partir do uso de florestas plantadas?

Helton Damin da Silva - Na linha de plantio de florestas, temos algumas alternativas como projetos que visem a integração com a pecuária e a agricultura; plantios florestais para recuperação de áreas degradadas; implantação das áreas de Reserva Legal ¿ onde o plantio de espécies de rápido crescimento pode favorecer uma rápida ocupação do solo; e os plantios puros nos moldes aplicados pelas empresas de base florestal, onde 47% das áreas são de preservação.

Algumas vantagens podem ser citadas, mas a principal é que cada hectare de uma floresta plantada equivale a pelo menos 10 hectares de uma floresta nativa. A homogeneidade, a qualidade da madeira e o ciclo de corte conhecido são outros destaques.

Rosana Higa - A escolha correta da espécie e do local a ser plantado e a manutenção da produtividade, com manejo adequado a cada condição, observando a ciclagem de nutrientes e outros itens.

Mercado Carbono - Na atual velocidade de uso da mata nativa e do crescimento de florestas plantadas, qual a expectativa de eliminar o uso predatório das matas naturais? Ou o uso consciente da madeira renovável chegará tarde demais, como está próximo de ocorrer com a mata atlântica?

Helton Damin da Silva - Estima-se que a demanda de madeira no Brasil seja de 350 milhões de m3/ano e que os plantios florestais produzam 90 milhões de m3/ano, equivalente à exploração de 600 mil hectares/ano. A diferença é provida por madeira das florestas nativas.

Obviamente existem as florestas com planos de manejo aprovados e que preconizam a sustentabilidade e contribuem para a redução deste déficit. No entanto, se isto não for considerado, os 260 milhões de m3 para serem supridos integralmente por florestas plantadas demandariam mais 8,7 milhões de hectares, o equivalente 0,9% do território nacional, elevando o percentual de área com plantios florestais de 0,6% para 1,5%, o que seria muito inferior à área ocupada com outras culturas. Isso posto, caso não haja oferta de energia que substitua a madeira e não haja uma política de estímulo ao plantio, e mantendo-se a demanda atual, fatalmente a pressão sobre os remanescentes nativos será grande e com conseqüências indesejáveis.

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