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ÁGUEDA MAGALHÃES e o livro ALQUIMIA DO VOO


Parabéns Águeda  por toda essa vibrante magia chamada poesia. (Selmo)

Águeda Magalhães nasceu em Arcoverde, PE e reside em João Pessoa, PB. Licenciada em Letras, é professora de Literatura Brasileira e Língua Portuguesa (IFPB)e em cursos pré-vestibulares. Poetisa e autora do livro de poesias “Alquimia do Voo”

 

Poesias extraídas do livro

 

Bolero de Ravel

 

Não escolherei o perfume

para colorir a casa

e matizar de vida

aquele corredor branco,

inóspito.

Não escolherei inundar o quarto

com águas festivas

a bordar de rubro

os lençóis brancos e intocados

da sisuda cama de madeira.

 

Não escolherei as cores

que tingirão a aurora

prestes a desfolhar

o ventre da terra,

grávida de estrelas.

Não verei o parto inefável

que trará ao horizonte

o sol,

ainda sonolento,

a bocejar seu hálito quente           

borrifando de ouro

as nuvens-manhã.

Não escolherei o rumo dos ventos

que deitam

sementes na terra

atravessam

o voo branco das gaivotas

e tangem

as velas dos barcos

à deriva.

Não usarei

a Rosa dos ventos

para localizar ausências.

 

Não escolherei

o aroma

das camélias silenciosas

nos jardins gelados

nem o cheiro do café

que se anuncia

calor

na madrugada fria

do velho chalé da montanha

tão pertinho do céu.

 

Não escolherei a textura da taça

de fino cristal

nua de vinho

à espera dos nubentes.

Tampouco

a métrica dos versos

as rimas ricas

ou a cor das trovas

do bardo sonhador.

 

Escolherei,

entretanto,

 

a voz do poema

que me falará

baixinho

das escolhas que não fiz.

Escolherei

a cor dos olhos

que quero

prisioneiros dos meus.

 

Com as asas do devaneio

te convido a voar

- voaremos,

- voaremos...

além do tempo

além do espaço

até pousarmos em Pasárgada,

terra da liberdade

das mais loucas fantasias...

 

Teremos

enfim

o encontro.

Dançaremos,

envoltos pelo espanto,

a canção de um amor

que jamais aconteceu,

embalados

pelas notas compassivas

do Bolero de Ravel.

*********

Azul profundo

 

Ainda sonolenta

sobressalta-me o grito do sol

a ferir-me

noite escura:

raio fulgurante

anuncia o resgate.

 

Escondo-me.

provisoriamente

escolho a meia luz do arrebol.

Quero ficar recolhida

mais um pouco

mais um pouco...

 

O regaço das sombras

é quente, solidário, sedutor.

A realidade é fria, inclemente,

assustadora.

 

Esgueiro-me.

Olhos infatigáveis buscam alento.

Enfurno-me em corredores de luz;

sob doce vertigem,

deliro em azul

mergulho no avesso

desfolho as dobras do tempo.

 

Busco o antigo banco da praça,

mas banco não há...

Apenas o vazio irremediável

a proclamar o adeus.

Nenhuma rosa vermelha para enfeitar os cabelos.

Nos portos, só barcos de madeira gasta.

Nenhum matizado de verde.

 

Onde ancorar-me?

Em que águas naufragou a esperança?

Chamo as estrelas:

sei de cor o nome de todas!

Estrelas não há...

O sol insensível

não acalma, não redime;

imperioso, impõe:

hora de acordar.

 

Exausta

queria, apenas, ouvir

o murmúrio da lua

pedindo para adiar o sol.

Queria ficar

mais um pouquinho

no compassivo colo da noite

embrenhar-me em suas horas escuras

-abrigo dos meus medos,

-reduto dos meus sonhos.

 

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