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CLÁUDIA MANZOLILLO – Rio de Janeiro, RJ.
Membro da Galeria “Poetamigos(as) da Coluna Momento Lítero Cultural”
O dia
termina
termina
a noite
terminam
a semana
o mês
o ano.
Terminamos.
a semana
o mês
o ano.
Terminamos.
*****
EX-POSTA
Pronuncio palavras
bêbada de azuis
contemplo
a aérea flor
dos dias
ali o néctar
o sumo
as raízes
subterrâneas
se movimentam
escarificam o solo
sulcam a terra
lentamente
calcificam emoções
fragilizadas
petrificadas
raízes
expostas
sangram
inclementes
a dor de cada dia.
*****
TRAVESSIA
Atravessei um cego na rua hoje
ele me atravessou com sua luz
indicou-me o caminho:
em frente à loja de flores.
Atravessei um homem cego
que via flores no caminho.
Luzes explodiam
eram as flores que só ele via
pude senti-las
perfeitas e perfumadas.
Centelhas iluminavam a visão
de quem vê na escuridão.
Atravessei um cego na rua hoje
ele me atravessou com sua luz.
*****
MOSAICO
Quem há de provar o orvalho
que em meus lábios repousa?
Cálido toque me preenche
o peito; restos da noite
que me presentearas
com o sumo de vida
que ainda vertias.
Assim as pálpebras
também cerradas
apuram a visão;
percorrem salas, dobram
esquinas e convertem
o labirinto em saída:
em mar e amplidão.
Eis-me frente a frente
comigo mesma
que de mim não fujo;
apenas me refaço mosaico
e me construo a cada passo.
Se algum fio etéreo ainda busco
é dentro que se escondem o fado e a linha
por isso mergulho e retorno à superfície;
respiro o que me cabe e lambo o remendo.
*****
EXERCÍCIO POÉTICO
Desdobro-me em ti:
assim sobrevivo
a cada dia
no tecido esgarçado
pontuo a falta
a cada noite
recomponho o desenho
da primitiva tela
assim contemplo a rasura
reescrevo-me em ti
poesia diária e breve
efêmera onda que me alivia
venho à tona a cada maré
me invado do que me suprime
até que o que me falta baste
até que a última palavra
esgote o mar em mim.
*****
a casa velha ainda mora em mim
há pouco, a placa vende-se
foi posta no jardim
*****
O luto pesa nessa carapaça humana
De risos minh'alma anda à busca
*****
Retratos:
memórias afetivas
na gaveta existencial
*****
Certa vez, comprei sapatos
andaram
hoje nem sei o rumo deles
ingratos!
*****
Ela sentia-se assim.
A vida lhe ensinara
a lição dos sós.
Mas ainda assim
via luz no azul
Mais escuro.
*****
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