Outro dia eu estava sentado na cadeira do meu dentista durante um tratamento quando, para referir-se ao êxito do procedimento, ele disse que tudo ia “dar bom”. Compreendi perfeitamente o que ele quis dizer e, obviamente, fiquei mais tranquilo. Esta expressão é muito utilizada hoje em dia por adolescentes e jovens, ou mesmo por profissionais como o meu dentista. É o oposto de “dar ruim”. Ambas, acredito, são faladas e compreendidas em todas as regiões do Brasil atualmente.
Tudo indica que as expressões “deu ruim” e “deu bom” surgiram recentemente na cidade do Rio de Janeiro há bem pouco tempo. A primeira foi para significar que “alguma coisa deu errado” ou “terminou mal”. “Deu ruim” teria aparecido nos morros das favelas para acusar que algum delator (X9) avisou a polícia e a coisa “azedou para rapaziada”. O fato é que rapidamente as duas expressões caíram na simpatia do povo e viralizaram por todo o país por meio das redes sociais.
Na mídia são muitos os casos do seu uso. Observe esta frase falada por um personagem durante a novela “Vai na Fé” recentemente, na Rede Globo: “Vou jogar na loteria. Espero que dê bom”. Sem a gíria eis como ficaria a frase: “Vou jogar na loteria. Espero que tudo dê certo”.
Na música também há exemplos. A dupla sertaneja Marcelo Lima e Alessandro usaram a expressão na música “Cuidado com a pinga” que pode ser ouvida na íntegra em
“Deu ruim, bebeu pinga deu ruim.
O trem é bão no começo,
Te vira do avesso,
Mas no outro dia a ressaca é maldita!
Cuidado com a pinga!”
“Deu bom” e “Deu ruim” são mais um fenômeno da língua das ruas constituído pelas gírias, muito empregadas para qualificar uma linguagem do momento ou de uma determinada comunidade. A intenção das gírias sempre são informalizar, descontrair e simplificar a fala das pessoas, tornando-a mais simples e fácil de ser compreendido pela “galera”. As gírias estão frequentemente associadas à cultura jovem e à evolução da linguagem, refletindo as mudanças sociais e acontecimentos ocasionais.
É importante ressaltar que o uso de gírias deve ser adaptado ao contexto adequado. Em situações formais, empresariais ou em um diálogo com pessoas desconhecidas, é melhor evitar o uso excessivo de gírias, pois elas podem parecer inadequadas ou pouco profissionais.
Entre as gírias estão aquelas chulas, grosseiras, mais conhecidas como “palavrões”. Enquanto as gírias são, em geral, um vocabulário momentâneo e novo os palavrões têm mais sobrevida na língua e demoram bem mais tempo para serem esquecidos ou aceitos em conversas informais. Mas, ambos são fatos da linguagem cotidiana e se prestam ao papel de facilitar a comunicação entre as pessoas.
Até a próxima coluna, amigos leitores!
(*) Marcos Lock é jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)
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