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CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES
O COMENDADOR CENTENO
Se ainda vivesse o Anizinho Gorayeb não mediria esforços para reiterar a sua reverência ao vulto objeto desta crônica, o que, alías, já tinha feito em 14 de dezembro de 2012.
Vou meter a colher num tema que seria exclusivo dos moradores de Porto Velho se o desejo de tentar banir uma injustiça deixasse de aflorar na sensibilidade de um guaporense da gema, que aprendeu a ser grato, que aprendeu a respeitar a história e as mensagens legadas pelos verdadeiros destemidos pioneiros desta paragem do poente, entre os quais destaco o cidadão JOSÉ RODRIGUES CENTENO, nascido em 02 de julho de 1884 e, vindo de Portugal, sua terra berço, aportou na cidade de Manaus aos 15 anos de idade.
Muito novo veio da capital manaura para instalar o escritório da empresa J. G. DE ARAÚJO, que já abastecia seringalistas em todo o Amazonas, no Acre e aqui na geografia matogrossense.
De pronto, os cidadãos portovelhenses descobriram que estavam proximos de um homem adiante do seu tempo, um visionário, que sonhava, mas tinha uma capacidade múltipla para empreender e realizar.
Motivo muito forte para jamais deixarmos que seu itinerário nestas paragens passe para a penumbra da indiferença, haja vista a sua capacidade realizadora e a sua intensa sensibilidade social.
Interessante é que o político Cloter Mota valorizou a trajetória fulgurante desse português, porém mais brasileiro do que muitos que, na sua geração, nasceram nestas plagas. O Deputado Cloter Mota fez uma pesquisa, da qual estou me valendo para escrever este texto, visando reconhecer os méritos e os serviços prestados pelo José Rodrigues Centeno, um filantropo , sempre focado no futuro, tanto prova que as suas ações foram também voltadas para a educação e a saúde dos cidadãos...
Neste noroeste brasileiro agenciou o comércio, o financiamento, enfim apoiou as atividades gumífera, castanheira e dos couros silvestres, em nome da sua empregadora, de quem fora um fiel escudeiro e um dedicado executivo, sem se divorciar da sua capacidade, do seu talento para transformar a região que o recebera, concorrendo para auxiliar o Padre João Nicoletti na construção da Catedral do Sagrado Coração de Jesus, dos colégios Dom Bosco e Maria Auxiliadora, dos clubes Internacional e Ypiranga e ainda, do Hospital São José, (Hospital Tiradentes - neste prédio hoje está instalada a Policlínica da Polícia Militar de Rondônia), além de outras iniciativas sociais e culturais.
No dia 10 de julho de 1927 casou-se com Maria de Nazareth da Silva Araújo, com quem teve duas filhas Luzia Centeno Nogueira e Linda Eugênia Centeno Gomes, que acrescentaram à comunidade, muitos netos e bisnetos e até tataranetos àquela dinastia de sua abençoada família e de quem ele se tornou orgulho e paradigma.
Seus descendentes hoje estão representados, num primeiríssimo plano, pela Doutora Mara Centeno, PHD em Literatura da Amazônia e por Maria de Nazaré Centeno, dedicada ex-funcionária pública do Governo do Estado a quem prestou relevantes serviços como leal assessora da senhora Aída Fibiger de Oliveira, esposa do Governador Jorge Teixeira, bem como por José Rodrigues Centeno Gomes – funcionário do TRT, Rony Kleber Centeno Gomes – funcionário dos Correios, Ana Claudia Centeno Gomes – professora da SEDUC e SEMED e ainda por Moysés Centeno Gomes- autônomo..
Porto Velho lhe deve e ao Padre João Nicoletti (e muito) pelas iniciativas que culminaram para que prédios enormes e vistosos lhe adornassem as perspectivas urbanísticas e paisagísticas. Só falta reconhecer.
Aliás, tomei conhecimento que um alcaide desinformado, sem compromisso com a história e com a cultura desta terra teria tentado mudar o nome da Ladeira Comendador Centeno para beneficiar algum ídolo de seu passado duvidoso, que melhor lhe agradasse. “Ótima” idéia; poderíamos começar mudando os nomes dos bairros Tancredo Neves, JK, Ulisses Guimarães, Marcos Freire, Agenor de Carvalho e a Praça Aluisio Ferreira, o Carmela Dutra, o Colégio Major Guapindaia, etc, etc? Afinal, poucos têm compromisso mesmo com a gratidão, poucos desejam cultuar os verdadeiros edificadores da historiografia rondoniense...
Por falar no Major Guapindaia o nosso homenageado mantinha estreita amizade com o primeiro prefeito portovelhense, com o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, com o major Emmanuel Silvestre do Amarante.
No ano de 1928, teve seus méritos reconhecidos como líder na implantação do Centro recreativo Vespasiano Ramos, durante um jantar dançante num dos salões da Sociedade Portuguesa Beneficiente, de Manaus, segundo o pesquisador Cloter Saldanha da Mota
E esse homem realizador, o nosso Comendador Centeno ainda encontrou tempo para agir como fiel obreiro da primeira Loja Maçônica, bem como na implantação da Associação Comercial de Porto Velho, dirigindo-a entre 1928 e 1929, quando transferiu o comando para o seringalista Salomão David Querub.
O Jornal “O Alto Madeira” foi uma testemunha eloqüente do valor que Centeno, como cidadão, representou no horizonte geográfico desta amada e idolatrada terra e lhe dedica como se fora intenso o seu fervor, como penhor da sua admiração, a um homem e chefe de uma família que cultivava as virtudes como a rara inteligência e sabedoria, afabilidade, magnanimidade, lhaneza, a generosidade e a franqueza, sempre sobre ele se referindo como um homem edificador, empreendedor, em resumo, um benfeitor neste trecho da Amazônia habitada pelos caiarís.
Aliás, na edição de 01/07/1928, um dia antes do seu aniversário, quando completaria 44 anos, o comendador foi citado pelo noticioso –que chegaria ao centenário em 2017–, como “um cavalheiro, um amigo distintíssimo e dedicado... integrou-se de uma tal forma e por tal maneira na vida de Porto Velho, que é como se aqui tivesse nascido e aqui pusesse a finalidade do seu destino”...
E esse homem de quem ouvi falar foi realmente um vulto a ser reverenciado. Faleceu em 17 de setembro de 1959, cinco dias após a data magna do então território Federal de Rondônia, quando celebrou seus 16 anos de existência, terra que ajudou a mantê-la altiva, progressista e soberana.
Por seus feitos, por suas realizações mereceria uma homenagem bem maior daquela que quiseram um dia lhe retirar – a Ladeira Comendador Centeno.
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