Tá virando paranoia!

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Ligo a televisão e veja um sujeito discutindo feminicídio. A certa altura do debate aparece a solução: a sala de aula. O assunto gravíssimo, uma praga do nosso tempo, só será resolvido na sala de aula.

 

Tô no trânsito e ligo o rádio. Quero ouvir música, mas me deparo com um bate-boca quente sobre violência nas escolas, onde aluno virou algoz do professor. ‘Se o senhor me reprovar ... ‘ e logo vem a solução: tem que botar polícia na escola, para dá moral.

 

Chego numa roda da profissão onde e o assunto é a violência no trânsito. Um deles acabara de ser ‘fechado’ no sinal, reclamou e quase apanhou. O remédio veio na hora: só a escola pode resolver isso. Tem que educar o menino desde cedo, sentenciou um dos amigos.

 

As redes sociais não param de futricar e o jornalismo explora até o osso, a sandice do ministro da educação, que determinou e assinou embaixo: cantem o hino nacional, gravem e mandem para o MEC. Pronto! Tá resolvido o problema da falta de patriotismo do povo brasileiro. Onde? Na escola.

 

A Constituição brasileira sentencia que a educação é dever de todos: da família, do estado e da sociedade. Mas parece que o estado está usurpando as obrigações da família e da sociedade.

 

Ao chamar tudo para sí, através da escola, o estado comete três erros graves: tira o poder da família e a enfraquece quando, na verdade, tem o dever de fortalece-la. Segundo, isenta a sociedade da sua influência benéfica ou maléfica na formação de cidadãos. Terceiro, assume uma obrigação que não lhe compete e que não dará conta.

 

Nesse caminhar, ainda que todas as escolas do país venham a ser de tempo integral, deixando as crianças e os adolescentes indo pra casa só pra dormir e ver a família, não dariam conta do desafio utópico.

 

Nos tempos atuais, a escola já fará o suficiente se conseguir manter o aluno em sala de aula, atrair sua atenção para as disciplinas e obter um bom desempenho nas provas.

 

Melhor ainda: se estas disciplinas estiverem conectadas com o mercado de trabalho que o jovem enfrentará ao concluir o ensino médio. Afinal, entre os dezessete e dezoito anos, ele tem que estar preparado para se auto manter, ajudar a família e contribuir com a Nação. Tem que ser útil para sí, para a família e para a sociedade.

 

Todas as demais ‘matérias’ que hoje se impinge às escolas são de obrigação da família e da sociedade difusa e não da escola. No máximo, talvez, uma disciplina de ‘convivência social’ permeando diversas condutas civilizatórias. E nada mais.

 

O patriotismo, o feminícidio, o trânsito e tantas outras ‘disciplinas’ até devem passar pelo espaço físico ocioso das escolas, nos finais de semanas e feriados. Mas como temas ‘extraclasse’, conduzidos por entidades da sociedade e envolvendo um chamamento a todos os entes do ambiente social: pai, mãe, filhos, avós e netos.      

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