Resistência e resiliência da guerreira brasiviana – por Marquelino Santana

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As populações tradicionais ribeirinhas da fronteira Brasil – Bolívia são exemplos peculiares de resistência, empoderamento e resiliência que durante séculos tem demonstrado possuir uma grande generosidade com relação ao outro, e ao mesmo tempo, combater sem mácula, a xenofobia esdrúxula da sociedade envolvente.
 
Durante a primeira década do ano 2000, os seringais pandinos brasivianos foram invadidos por milicianos armados, ao tempo, em que expulsavam violentamente os seringueiros de seus lugares, e ainda se apoderavam ilegalmente de todos os bens materiais por eles adquiridos. A situação foi se agravando de tal forma que os milicianos que se intitulavam Zafreros, deixaram várias famílias como reféns na comunidade Puerto Bolívar, passando por sérias privações e por ações humilhantes e xenófobas.
 
Naquele momento ardil e belicoso, uma ribeirinha brasiviana de aproximadamente 20 anos de idade, estava num batelão ao lado dos pais e com a sua filha de apenas sete meses no colo. Temendo acontecer o pior, ela teve a ideia de dizer aos milicianos que precisava ir ao banheiro com a criança, e logo recebeu a autorização. Ela havia avisado aos pais do seu plano: sair do rio Mamu, adentrar na mata, seguir por uma antiga de estrada de seringa, percorrer um extenso varadouro, até chegar às margens do rio Abunã, próximo ao distrito de Extrema de Rondônia.
 
A ribeirinha era neta de um exímio mateiro, e sabia perfeitamente que a viagem por terra se transformaria praticamente na metade da viagem, caso o percurso fosse realizado por batelão nas águas dos rios Mamu e Abunã. A coragem e a valentia daquela mulher não foram em vão. A jovem seringueira ingressou na mata escura ainda pela madrugada, e no final da tarde, lá estava a mulher com a filha no colo na beira do rio Abunã, que foi transportada de barco por parentes e amigos que se encontravam no Porto Extrema e que a avistaram pedindo socorro.
 
No dia seguinte a guerreira brasiviana do rio Mamu procura o projeto ética e cidadania no distrito de Extrema e narra os fatos ocorridos naquela fronteira em pé de guerra. Os integrantes do projeto informaram os acontecimentos ao Consulado Brasileiro em Cobija que imediatamente repassaram as informações a Embaixada Brasileira em La Paz e ao Ministério das Relações Exteriores em Brasília. Não demorou muito para a área diplomática dos dois países se reunirem em Extrema de Rondônia e buscarem uma solução pacífica para esse beligerante conflito internacional na fronteira Brasil – Bolívia.
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