Os deuses da floresta e a floresta dos defuntos – Por Marquelino Santana

Os deuses da floresta e a floresta dos defuntos – Por Marquelino Santana

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Ele sentiu a natureza em volúpia, internalizar maviosamente na sua alma. A sua briosa alma apreendeu o seu espaço vivido, enquanto o seu ser imaginário, na sua vivificante poética dos devaneios, dialogava transcendentalmente em sua cotidianidade com os divinais seres mitológicos e suas cosmogônicas encantarias da estetizante imaterialidade do lugar.
 
Ele embelecia o lugar cheirando o útero da terra mãe. A terra por sua vez na sua colossal generosidade tinha o complacente poder de jamais deixar faltar o sagrado pão na dadivosa mesa ribeirinha. Da impoluta mesa de Pequiá se via pela inefável janela de Paxiúba, o Menino-boto realizar as suas suntuosas acrobacias, a Mãe-d’água cantar de forma eloquente para o velho-da-canoa, e a Mãe-da-seringueira visitar a casa do Pai-da-mata para informá-lo das ignominiosas perseguições que os seringueiros estavam sofrendo. 



 
Ele era o homem e a terra vivendo entrelaçados. Para o geógrafo Francês Eric Dardel, a inserção do homem no mundo, lugar de um combate pela vida, é a manifestação de seu ser. Esse lugar, segundo nos informa o escritor amazônico Paes Loureiro, é um lugar de convivência secular de realidades e signos, no qual se vive e se abriga o homem amazônico.
 
Ele era o caboclo do lugar experienciado. Um caboclo que com as suas mãos calejadas, arrancava do chão o sustento da família de maneira justa e sem mácula. Um caboclo beiradeiro que com o seu jeito peculiar de homem da mata, conquistou no espaço e tempo o aconchego iniludível do seu espaço de ação. Para a geógrafa brasileira Lívia de Oliveira, é esse aconchego que levamos dentro de nós. 
 
Ele foi enleado pela terra com um inebriante pertencimento de lugar. Um sentimento de lugar e de mundo onde os desafios foram superados no cenário da própria natureza em estesia. Mas quando os desafios são oriundos da sociedade envolvente latifundiária, o cenário é outro. O velho tapiri é demolido pelo fogo, enquanto as cinzas voam no voo da morte anunciada. Restou aos deuses da floresta iluminar apenas os cães sobreviventes à identificarem os corpos enterrados à meia cova. 
 
Ele tornou-se uma alma desalojada e um ribeirinho que valentemente colocava o pão da família numa mesa agora órfã de tudo. Os seres mitológicos sopraram as cinzas, e essas cinzas conseguiram escalar os degraus onde vive a constituição, muito distante de onde mora os deuses da floresta e a floresta dos defuntos.
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