CAMALEÕES: Quando a realidade assusta mais que a ficção - por Daniel Pereira

Ultimamente temos dificuldades em diferenciar a ficção da realidade. Esse fenômeno  é verificado, por exemplo, entre um filme da Netflix e o que foi revelado até agora sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, ocorrido em maio de 2018.

 

Benício Del Toro, famoso ator porto-riquenho, ganhador do Oscar como melhor ator coadjuvante em 2001, por sua atuação do filme Traffic, interpreta   o policial Tom Nichols, no filme Camaleões, produção da Netflix de 2023,  que frente ao assassinato de uma corretora de imóveis, depois de várias linhas investigativas, descobre  que seus chefes são os responsáveis pelo delito, praticado para proteger uma rede de tráfico.

 

Por sua vez, no último domingo, o noticiário nacional foi tomado pela prisão dos possíveis autores intelectuais do assassinato de Marielle. 

 

A maior surpresa foi a presença dentre os presos do delegado Rivaldo Barbosa, ex-secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, o qual  tinha a obrigação de apurar o  crime  e entregar seus autores à justiça. 

 

No filme de Del Toro, a cúpula local da polícia age para desmotivá-lo a desvendar o crime, por motivos óbvios. 

 

No Rio de Janeiro a elite policial vai no mesmo sentido, pois o crime fora praticado pela intrincada rede criminosa miliciana carioca e  a missão de Barbosa era frustrar qualquer possibilidade de êxito no deslinde do bárbaro assassinato. 

 

Nos dois casos apontados temos “os camaleões”, uma forma metafórica de se referir a pessoas que “mimetizam” seus atos para esconder os crimes que  pretendem manter impunes.

 

No caso do filme, é apenas uma oportunidade de diversão aos que gostam do gênero, já a realidade carioca é algo que nos assusta, pois pode não ser  algo isolado, podendo estar mais próximos de nós do que possamos  imaginar. 

 

Daniel Pereira

Ex-governador de Rondônia